O Movimento Nacional em Defesa da Língua Portuguesa nasceu como uma resposta da sociedade
civil ao Projeto de Lei do Deputado Federal Aldo Rebelo. A partir do questionamento e das discussões que foram surgindo sobre a
verdadeira invasão de estrangeirismos que vinha assolando o idioma, as pessoas, em todos os cantos desse País, deram-se conta de
quão deturpada estava a comunicação, na justa medida em que os anglicismos, galicismos e outros ismos iam tomando conta
da língua nacional. O mais interessante é que os defensores mais ferrenhos pertencentes
ao nosso Movimento são exatamente os operadores das línguas estrangeiras, seja os tradutores, seja os intérpretes, enfim, todos
aqueles que sabem a diferença entre um idioma bem aprendido e falado, e o real assassinato que ocorre quando não se dominam as
estruturas, as construções, a sintaxe, o verdadeiro significado dos vocábulos de cada língua, com suas minuciosas
particularidades.
Se o homem é um ser social e sua evolução, como sabemos, deu-se quase exclusivamente por sua
sofisticada maneira de comunicar-se com seus iguais, muito nos assusta a comunicação canhestra que vem tomando espaço nos meios
de comunicação, entre as tribos urbanas, e estendendo-se por todos os segmentos da sociedade. Aonde nos levará?
Argumentos há que tentam rebater essa preocupação com o idioma, que perpassa, evidentemente, a
defesa do patrimônio cultural e da soberania nacional, alegando que "a língua é um organismo vivo que se modifica,
continuamente, e não poderia ser engessado. Os empréstimos fariam parte dessa evolução".
Alegar isso é fugir do foco da questão. Ninguém quer engessar a língua. O que se quer é tempo
para enriquecê-la.Tempo para refletir, digerir as influências. Tempo para, antropofagicamente, aproveitar o que as outras
culturas têm de melhor, para aperfeiçoar a nossa, como Oswald de Andrade já havia descoberto, junto ao Movimento Modernista de
22, que nunca renegou a influência estrangeira, mas a via como fonte de aprendizado, desde que assimilada antropofagicamente.
Isso é enriquecimento, mas não como ocorre agora, em que não há processo de absorção, mas verdadeira invasão: os valores não são
assimilados, mas usurpa-se o valor nacional com um remendo de língua estrangeira, empobrecendo e destruindo as duas.
Não é à toa que, nos Estados Unidos, 23 Estados já possuem legislação de proteção à língua
inglesa contra...o Espanhol. Eles temem a colonização através da língua! Não é curioso?
Termino com um belíssimo texto de Rui Barbosa, que nos foi mandado por uma especialista em
língua inglesa, Jussara Simões, moradora de São Paulo, tradutora de Inglês, que, para nosso orgulho, também faz parte do MNDLP:
"Todos os idiomas vivos permutam uns com os outros. Seria desatino
recusar esses subsídios, tão inestimáveis quão imprescindíveis, que se mutuam as línguas, enquanto não fossilizadas. Condenar,
pois, em absoluto os estrangeirismos fora não ter senso comum. Não são os galicismos em si mesmos o que se repele, mas a
superfluidade evidente, ou a crueza indigesta, nos galicismos. Podemos importar de França o que não tivermos, e necessitarmos,
contanto que o façamos, respeitando as leis da morfologia na história natural da gênese e transformação das palavras. Muitos
vocábulos são hoje portugueses, ninguém ignora, que eram meramente franceses; e todos os prosadores, todos os poetas contribuem
para esse capital de importação, essencial ao convívio dos povos civilizados" (Senado Federal, RJ, Obras Completas de Rui
Barbosa, V. 29, t. 3, 1902, p. 383). |