O que já era grave, ficou ainda pior em meados dos anos 90. Com a
explosão da Internet no país, a língua portuguesa vem sofrendo com o constante aumento do uso de palavras estrangeiras.
Expressões como liquidação e cachorro-quente, por exemplo, foram facilmente substituídas por sale e hot dog. O português,
língua oficial de oito países do mundo e o sexto idioma mais falado por número de pessoas, trava uma batalha diária contra o
estrangeirismo exacerbado despejado no cotidiano brasileiro. "O idioma falado
em um país mostra toda a sua cultura", diz Rosilma Roldan, professora e presidente do Movimento Nacional em Defesa da Língua
Portuguesa. O órgão, que surgiu em novembro de 99 a partir de um então projeto de lei, posteriormente aprovado, apresentado
pelo deputado federal Aldo Rebelo, foi criado para combater essa internacionalização da língua.
O trabalho do movimento, que se tornou uma ONG no final do ano passado, é baseado na
defesa do idioma nacional, mostrando filmes, realizando palestras e mandando cartas para órgão públicos que utilizam outras
línguas. "Uma vez conseguimos que as regras de um congresso internacional realizado pela Universidade Federal de Minas
Gerais fossem modificadas. Antes, os trabalhos feitos pelos alunos só poderiam ser escritos em quatro idiomas: inglês,
francês, alemão e espanhol. Com a nossa manifestação, ficaram permitidos os trabalhos em português", afirma Rosilma.
Instituições federais, como o Banco do Brasil e Caixa Econômica Federal, também tiveram
que alterar as expressões usadas para designar seus serviços por força da ONG. "Achamos um absurdo órgãos mantidos pelo
governo utilizarem palavras em inglês. Eles deveriam ser os primeiros a dar exemplo. Mas já mandamos cartas e até o final do
mês os clientes destes bancos poderão usar o auto-atendimento e não mais o personal banking."
De acordo com Rosilma, o maior problema é a destruição da estrutura dos idiomas.
“Algumas palavras em inglês são escritas da mesma forma em português, porém têm significados diferentes. Por exemplo: nos
Estados Unidos quando se fala que alguém está vestido de modo casual, significa um estilo despojado, à vontade. No Brasil,
esta palavra grafada do mesmo modo tem um sentido de ‘por acaso’, ‘inesperado’, ‘um encontro casual’. Isso tudo pode
danificar tanto o inglês quanto o português, prejudicando a comunicação”, explica.
Para a professora, utilizar vocábulos estrangeiros no comércio pode até afastar os
consumidores. "A recusa da população é de quase 100%, já que ninguém é obrigado a falar outro idioma em seu próprio país.
Recebemos cartas de pessoas reclamando de empresas que usam expressões como sale, 50% off, pet shop e
delivery e de produtos que vêm com manual escrito em outra língua."
Segundo a presidente do movimento, o aprendizado de uma outra língua não é
condenado. "É muito importante o conhecimento de um segundo idioma, principalmente para os jovens que estão ingressando num
mercado de trabalho cada vez mais concorrido. Apenas lutamos contra o uso exagerado e indevido de um idioma diferente
daquele que seja falado em uma nação. Para deixar claro, a ONG tem o papel de defender a língua portuguesa sem ser
nacionalista, diferente dos franceses e americanos, xenófobos ao extremo. Nem em Portugal há um movimento nesse sentido. Na
França, há leis próprias para isso, e, nos EUA, 23 estados participam do movimento ‘English only’, que luta contra a
invasão do idioma espanhol", diz.
Serviço - As reuniões dos membros do Movimento Nacional em Defesa da Língua
Portuguesa acontecem todas as quintas-feiras, às 20 horas, no Sesc Santos e são abertas para todos os interessados.
Telefone: 3236-7203 ou no site www.novomilenio.inf.br/idioma |