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Última modificação em (mês/dia/ano/horário): 04/22/01 19:53:42

Movimento Nacional em Defesa
da Língua Portuguesa

NOSSO IDIOMA CURIOSO E DIVERTIDO
Aulas do Barão de Itararé - II

A origem do nome Iracema - Iracema não é um nome indígena, como muita gente supõe. IRACEMA é um anagrama de AMERICA, composto por José de Alencar, que era perito na elaboração desses passatempos. José de Alencar, dando o nome de Iracema à heroína de seu romance, quis, assim, simbolizar a mulher americana.

A origem do símbolo "Cr$" - A instituição do cruzeiro como moeda nacional, em substituição ao mil réis, não é coisa velha. Verificou-se durante a Segunda Grande Guerra, quando governava o Brasil o sr. Getúlio Vargas. Tudo correu fácil. A reforma monetária já fora estudada no tempo do sr. Washington Luís e o decreto da mudança da moeda de há muito estava pronto para ser assinado. Só faltava um detalhe: - qual seria a abreviação do "cruzeiro" a ser usada na escrituração mercantil?

Os técnicos das finanças reuniram-se com o ministro da Fazenda, o diretor do Tesouro, o presidente do Banco do Brasil e o chefe da Casa da Moeda.

Depois de duas horas de extenuantes e exaltadas discussões, ficou decidido que, como estávamos empenhados numa guerra que passaria para a História, nada mais justo que escolhessemos para a nossa nova moeda um símbolo que perpetuasse uma homenagem aos nossos aliados, Inglaterra, Estados Unidos e Rússia.

E, assim, resolveu-se por unanimidade que a abreviação oficial do cruzeiro fosse integrada pelas iniciais dos três bigs do momento, que eram Churchill, Roosevelt e Stalin, isto é, CRS.

A grande comissão de técnicos foi, então, incorporada, à presença do sr. Getúlio Vargas, para cientificá-lo do resultado a que tinham chegado. O presidente concordou com tudo, muito satisfeito, mas, no momento em que foi assinar o decreto da regulamentação da nova moeda, riscou, à última hora, a inicial de Stalin.

Por isso, a abreviação do cruzeiro apareceu e continua a aparecer assim: CR$...

A origem da palavra Larápio - Na Roma dos Césares havia um cônsul da Cirenaica de nome Lucius Amarus Rufus Apius, que gozava de grande popularidade pelas suas preclaras virtudes cívicas e morais. Mas, como neste mundo não há nada perfeito, também Lucius Amarus Rufus Apius tinha um pequeno defeito, aliás bastante comum nos homens públicos dos nossos dias atômicos e que consistia em confundir muito a miúdo o patrimônio alheio com o próprio. Por isso, quando alguém era apanhado em flagrante delito de apropriação indébita, o criminoso era comparado a Lucius Amarus Rufus Apius. Como, porém, esse nome era muito comprido, o povo o abreviava, dizendo simplesmente "L.A.R.APIUS".

A origem da palavra Cadáver - Essa história de se chamar a Associação Brasileira de Imprensa de "ABI" e o Departamento do Serviço Público de "DASP" não é uma invenção dos homens modernos. Em todas as línguas, mesmo nas mais antigas, encontramos abreviações análogas, formando palavras que foram incorporadas mais tarde ao vocabulário comum. São palavras que valem por frases e que dificilmente poderão ser traduzidas para outras línguas.

Isso tudo se explica facilmente, porque o povo procura sempre naturalmente a maneira mais cômoda de se expressar e, sem dúvida, é mais fácil pronunciar rapidamente uma palavra de uma sílaba, que dizer por extenso várias palavras cuja ordem e significado nem sempre podem ser retidos, compreendidos e articulados pelo homem da rua.

Os romanos, por sua vez, não gostavam, por certo, de dizer as coisas íntimas ou afetivas com brutalidade e, por isso, principalmente as notícias tristes, eles procuravam disfarçá-las.

Um homem ou um animal mortos eram, em todo caso, "carne dada aos vermes". Essa coisa desagradável, entretanto, os romanos não a diziam com todas as letras. Assim, para transmitir à família, aos parentes e amigos que alguém havia morrido, eles não diziam que o morto era "carne dada aos vermes" ("Caro data vérmibus"). Eles faziam essa comunicação de uma forma sintética, dizendo simplesmente que o morto era "ca-da-ver", empregando apenas a primeira sílaba de cada palavra.

CA-ro
DA-ta
VER-mibus

Talvez venha daí também o provérbio: "Para bom entendedor, meia palavra basta", mesmo porque, para quem sabe ler, um pingo é letra.

A origem da palavra Arara - Os nossos etimologistas acham que a palavra "arara" é uma onomatopéia, de origem indígena. Pretendem esses senhores que a linda ave dos trópicos, de repente, dá um grito, no qual parece que se lhe ouve dizer "a-raa-ra!". Tudo isso é possível, porque o "bem-te-vi" também diz, no duro, "bem-te-vi!". Mas, apesar de tudo isso ser muito provável, nós preferimos aceitar outra versão, que é a daqueles que afirmam que "arara" é realmente uma palavra indígena, formada pela repetição de "ara", que significa periquito. "Ara-ara", então, seria periquito duas vezes, embora as araras sejam em geral 4 ou 5 vezes maiores que os periquitos.

A origem da palavra Snob (esnobe) - A Universidade de Oxford, na Inglaterra, era o estabelecimento de ensino preferido pelos nobres para a educação de seus filhos. Contam que ali havia um professor que fazia uma severa distinção entre os alunos pertencentes à aristocracia e os que descendiam da classe burguesa. Na lista dos alunos, esse professor, para dar o tratamento a cada um, de acordo com a sua origem, costumava escrever, com letra miudinha, depois do nome dos alunos plebeus, esta anotação: "S.nob.", que era a abreviação das palavras latinas "Sine nobilitate", isto é, sem nobreza.

Esta é a origem da palavra "snob", que se emprega em muitos idiomas para qualificar um indivíduo que se quer dar ares de nobre, sem sê-lo".

A origem da palavra Negócio - O trabalho nobilita o homem. Mas o diabo é que, depois que fica nobre, o homem não quer mais trabalhar. Assim, compreende-se por que a antiga aristocracia romana era a quinta-essência da malandragem. De fato, para ser nobre, naquela época, era preciso, antes de mais nada, viver de perna cruzada. O trabalho era um castigo próprio para escravos. Por isso, o nobre que prezava a sua estirpe e zelava pela sua linhagem, não fazia absolutamente nada. O ócio era o prêmio dos deuses para os seus eleitos e deveria ser gozado com dignidade ("Otium cum dignitate").

É claro que essa vida parasitária e contemplativa, para ser mantida, exigia um exército de fâmulos e servos, enquanto que para tratar dos penosos serviços de administração de seus bens, os nobres empregavam procuradores que, por via de regra, procuravam também para si. Não era de admirar, portanto, que algumas casas aristocráticas entrassem em crise ou mesmo se arruinassem. Neste caso, por força das circunstâncias, os nobres eram obrigados a fazer transações comerciais como os plebeus. Mas essas transações, de qualquer forma, eram consideradas, pela aristocracia, como humilhantes e vergonhosas, pois representavam a negação do ócio, isto é, o "nec otium".

Eis aí a história secreta da palavra negócio" - pela qual, aliás, os nobres de hoje têm uma invencível predileção.

A origem da palavra Chulipa - Nos Estados do Nordeste e particularmente no Ceará, os dormentes da estrada-de-ferro são vulgarmente conhecidos por "chulipas".

Esta palavra é originária do inglês, pelo fato da primeira ferrovia cearense ter sido construída por uma firma britânica. Os engenheiros de John Bull, por dever de ofício, com certeza, tiveram muitas vezes que lidar com os dormentes articulando a miúdo a palavra "sleeper", até então desconhecida dos trabalhadores. Esse vocábulo significa "dormente" e se pronuncia, mais ou menos, "selipa". Depois, foi mais fácil passar de "selipa" para "chulipa", que de "Germano" para "gênero humano".

(N.E.: não se leve muito a sério tal definição, como as demais acima. "To sleep" é o verbo inglês para "dormir", daí a relação feita pelo humorista entre "dormente" e "sleeper"... E lembre-se que Germano é associado a "alemão" - o Almanhaque foi publicado logo após a derrota das tropas de Hitler na Segunda Guerra Mundial...)

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Quo vadis, dominó? - Com este latinório, um dos nossos amigos pode iniciar uma brincadeira em família.

- Quo vadis, domine? Onde está o dominó?

E, quando lhe trouxerem a caixa com as pedras do jogo, proponha a um dos circunstantes que arrume as pedras como se estivesse jogando. Durante a operação, o proponente vira-se de costas ou retira-se para uma outra peça e lá pode ficar, deixando que o outro arrume as pedras sozinho ou em companhia de terceiros. Quando acabar a arrumação, o promotor da brincadeira, sem sair do quarto onde estava, sem olhar para as pedras, sem ter feito qualquer combinação com outra pessoa, poderá dizer, com absoluta segurança, quais são os pontos que estão nas duas extremidades do dominó armado.

Como pode ser isto? Calma, no Brasil. Um pouco de paciência e veja a página 168, onde está revelado todo o segredo. (N.E.: para facilitar, em vez do internauta ir à página 168, apenas use a seta do mouse para selecionar o conteúdo do quadro branco abaixo, entre os dois asteriscos).

* No momento em que entregar as pedras para serem arrumadas, fique com uma escondida. As duas extremidades do dominó armado serão as mesmas da pedra que tiver escondido.*

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A origem da palavra "Habeas Corpus" - A expressão "Habeas Corpus" tem a sua origem numa lei inglesa, cujo texto latino começa com estas palavras: "Habeas corpus ad subjudiciendum", as quais, traduzidas mais ou menos de orelhada, significam: "Que tenham ou disponham de corpo para apresentá-lo em juizo".

Este instituto foi incorporado à legislação do Brasil, que, por ser o país da borracha, lhe deu uma grande elasticidade.

A origem da expressão "Jantar de cerimônia" - No tempo dos Césares, as bacanais romanas eram bacanas. Um dos nababos da época, certa vez, ofereceu um banquete a mais de quinhentas pessoas, na qual o prato de resistência era feito com línguas de rouxinóis, como homenagem a uma cantora, favorita do anfitrião.

Mas houve um outro que deu uma festa nas montanhas, para cerca de mil pessoas, que foram obsequiadas com lindos pratos de siris, pescados no golfo de Biscaia. Eram siris recheados e a originalidade do banquete consistia em que os convivas deveriam comer os siris com os garfos naturais dos siris, o que lhes deu um grande trabalho e os forçou a comer devagar.

Assim, depois dessa festa, quando alguém comia devagar e com garfo, em vez de pegar a comida com a mão, diziam que se tratava de uma refeição de "siri omnia", isto é, "toda siri".

De "siri omnia" passou facilmente a "siri-monia" e, mais tarde, a "cerimônia", como escrevem os letrados e semi-analfabetos, que desconhecem estes detalhes históricos, que apresentamos, a sério, aos nossos leitores, com a maior sem-cerimônia.

Extraído de Almanhaque para 1949 ou Almanhaque d'A Manha - Primeiro Semestre - (exceto as notas "Habeas Corpus" e "Jantar de Cerimônia", extraídas de Almanhaque para 1955 - Segundo Semestre) -  "super-tele-visionado na sua parte científica, astronômica e profética pelo Exmo. Sr. Barão de Itararé, o Brando - marechal-almirante e brigadeiro do ar condicionado, que o escreveu todinho, em grande estilo e vertiginosa velocidade, com a sua nova caneta de propulsão a jato, comandando um exército de esteno-datilógrafas mecanizadas e sob a carinhosa e permanente vigilância das exmas. autoridades federais e internacionais da ordem política e social". "Copyright by Baron of Itararé - Sob o patrocínio da SOciedade GRAfica Ltda. (SOGRA)"

Barão de Itararé é a alcunha de Apparício Torelly (1895-1971). A Batalha de Itararé é famosa por nunca ter ocorrido.