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Movimento Nacional em Defesa
da Língua Portuguesa
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NOSSO IDIOMA CURIOSO E DIVERTIDO
Aulas do Barão de Itararé - I
PELA RENOVAÇÃO DO NOSSO IDIOMA
Escreve o Professor Jacinto Dôres Nobasso
A língua portuguesa não tem evoluído. O idioma que falamos
atualmente é mais ou menos o mesmo que falávamos no século passado. A não ser alguns estrangeirismos, que nos foram impostos pelas
necessidades comerciais ou pelos delírios esportivos, nada mais foi incorporado ao nosso patrimônio verbal.
Este fato, aparentemente sem importância, tem, na verdade, um triste significado, pois
demonstra que, desgraçadamente, a língua portuguesa, em vez de evoluir, seguindo os surtos do progresso, pelo contrário se corrompe
e deteriora pela inclusão de corpos estranhos no seu vocabulário.
A seiva verbal é como o sangue da gente. Precisa ser
constantemente renovada para conservar o vigor da mocidade.
O sangue se renova à custa da assimilação de novos elementos. E um idioma rejuvenesce com a
criação de neologismos.
Antigamente, os homens andavam a cavalo. Os gramáticos criaram o verbo "cavalgar". Depois,
os homens montaram em burros. Mas os etimologistas não conseguiram criar o verbo correspondente e até agora nós temos que dizer que
"fulano montou num burro", ou que "sicrano montou num porco". A equitação desenvolveu-se, mas a língua ficou estacionária.
Os homens, um dia, se utilizaram de barcas para viajar. Os gramáticos criaram o verbo
"embarcar", para designar o ato de tomar uma barca. Mais tarde, a coisa melhorou e as viagens passaram a ser em navios. Os
gramáticos, entretanto, não tiveram inspiração para inventar um vocabulário correspondente a este melhoramento. A navegação tomou um
novo surto e os homens passaram a viajar em grandes transatlânticos. As pequenas barcas cresceram e tornaram-se suntuosos palácios
flutuantes. A língua, porém, continuou gaguejando a velha palavra "embarcar", impotente para articular uma nova palavra capaz de
traduzir a solenidade de se "tomar um transatlântico". A navegação chega à perfeição das grandes naves de linhas aerodinâmicas, mas
a língua não ajuda e continua a "embarcar" a gente nessas maravilhas náuticas, como se fossem "barcas" anacrônicas.
Precisamos reagir, procurando um remédio contra essa alarmante paralisia progressista da
língua. Precisamos criar corajosamente neologismos vitaminosos capazes de restabelecer o vigor lingüístico, perfeitamente
sintonizado com o ritmo grandioso do progresso.
Quem monta a cavalo, cavalga.
Quem toma uma barca, embarca.
Mas não se cavalga num burro, nem se embarca num transatlântico.
Quem monta num burro, emburra-se. Quem monta num porco, emporcalha-se, e quem toma um
transatlântico, transatlantica-se.
Embarcar num bonde é tão estúpido quanto cavalgar um boi. Embarcar num avião é rebaixar o
avião à categoria de barca.
Tenhamos, pois, a coragem de enriquecer a língua criando neologismos dignos da nossa época,
dizendo, por exemplo:
- "Amanhã avionarei para Buenos Aires" ou "No mês que vem transatlanticarei para os Estados
Unidos."
Correto será dizer-se:
- "Embarcarei para Niterói", porque isso quer dizer exatamente que tomarei uma barca.
Mas, se tomarmos um ônibus, devemos dizer para nós mesmos:
- "Vou onibiar, para Copacabana".
LIÇÕES PRÁTICAS DE INGLÊS
(ENGLISH LESSONS)
É extremamente simples o idioma de Clark Gable e Andy Hardy.
Tudo, no inglês, é uma questão de entonação. Pela entonação, descobre-se facilmente o sentido de uma palavra. E de uma frase. Por
exemplo, se alguém diz, com voz aflautada, como a do escritor Otávio de Faria:
I WILL GIVE YOU A RING
entende-se que se trata de um namoro que vai acabar muito catolicamente em casamento. "RING",
aí, é anel, ou melhor, uma aliança. Portanto, a frase deve ser entendida como:
EU DAREI A VOCÊ UM ANEL
No entanto, se a pessoa diz com uma voz de telefonista interurbana essas mesmas palavras:
I WILL GIVE YOU A RING
entende-se que a pessoa em questão quer apenas nos anunciar a sua intenção de nos telefonar,
mais tarde, a propósito de um assunto que ficou sem solução. A fase deve ser entendida como
EU DAREI A VOCÊ UM TELEFONEMA
Porque, aí, "RING" significa TELEFONEMA. Não é exatamente telefonema, mas entende-se por
telefonema. É como nós dizemos, aqui: "Eu depois tocarei para você". Porque o verbo "TO RING" é fazer barulho. Faz-se barulho com a
campainha do telefone, que é para os outros atenderem. E, assim, por extensão, "TO RING" também telefonar.
O caso muda de figura, porém, se a pessoa que profere a frase tem orelha de couve-flor,
nariz achatado e aspecto mais ou menos repulsivo. Se é uma pessoa dessa espécie que nos diz:
I WILL GIVE YOU A RING
Nesse caso, deve-se imediatamente agradecer a oferta, porque se trata de um pugilista
decepcionado ou de um promotor de lutas de box, que nos quer dar um "ring" de presente. Um "ring", como vocês sabem, é um
quadrilátero cercado por cordas, um tablado sobre o qual são disputados os "matches" de box.
Assim, tudo depende da entonação. Devemos, portanto, afiar os ouvidos. Por exemplo: na mesma
ordem de considerações: se um sujeito de orelhas de couve-flor e nariz achatado nos pergunta:
YOU GOT A MATCH?
entende-se que é um camarada interessado nas novas atividades esportivas e quer apenas saber
isto:
VOCÊ ARRANJOU ALGUM "MATCH' DE BOX?
Agora, se o indivíduo em questão, em vez de ter orelhas de couve-flor, é um almofadinha, um
granfino, um efeminado desses em que não se bate nem com uma flor, e além disso tem um cigarro apagado no queixo, - quando ele nos
pergunta:
YOU GOT A MATCH?
entende-se que o tipo suspeito em questão é apenas um miserável fumante que faz economia à
custa dos outros e quer apenas saber se
VOCÊ TEM UM FÓSFORO?
Como se vê, é tudo uma questão de entonação e de estudo das fisionomias dos interlocutores.
Não há nada embaraçoso. Nem nada difícil, como quando a gente faz um aluno americano de português ler uma frasezinha boba, assim
como "o sabiá da sábia sabia assobiar".
Well, it is enough for today... So long my boys!
LEÇON DE FRANÇAIS
(Selon un nouveau méthode ultra-rapide)
Par Mr. L'Ambassadeur Prof. Gilbert Aimé
Para começar, o francês é uma língua dificílima. Quem não
tiver uma gramática nova, deve arranjar uma de meia idade ou mesmo uma velha francesa. Além do estudo diário, convém falar francês,
para maior desembaraço e fluência ainda que com marinheiros americanos que estiveram em Dakar, ou com os porteiros do Jockey Club ou
do Hotel Glória.
Chamamos a atenção para as dificuldades da língua, mas exatamente para fazer ressaltar as
vantagens do método ultra-rápido, que é utilizado na Suíça (de onde vim), nos cantões italiano e germânico, os quais, para não
ficarem mal vistos, aderiram logo ao estudo do francês. (N.E.: o Almanhaque foi publicado em 1949, logo
após a Segunda Guerra Mundial, perdida por italianos e alemães...)
Os alunos devem prestar especial atenção ao vocabulário. Aqui vão algumas palavras muito
usadas e pouco comuns. Conto com a inteligência dos estudantes para fixá-las à primeira vista:
FRANCÊS
|
PORTUGUÊS
|
Boulevard
Boches
Abricot
Café
Classe
Cri
Dormir
Front
Infame
Madame
Municipal
Papa
Que
Repartir
Servir
Crime
Vedette
Attitude
Bijou
Premiére
Garçon
Brioches
Animal
Cabriolet
Clou
Demoiselle
Écharpe
Gentil
Jamais
Mal
Nota
Principal
Regime
Sentir
Valise
General
Midinette
Ouverture
Loulou
Cinema |
Boulevard
Boches
Abricot
Café
Classe
Cri
Dormir
Front
Infame
Madame
Municipal
Papa
Que
Repartir
Servir
Crime
Vedette
Attitude
Bijou
Premiére
Garçon
Brioches
Animal
Cabriolet
Clou
Demoiselle
Écharpe
Gentil
Jamais
Mal
Nota
Principal
Regime
Sentir
Valise
General
Midinette
Ouverture
Loulou
Cinema |
Como estamos vendo, aí está uma dificuldade. Porque as palavras parecem exatamente as mesmas
e, logo, o estudante fica desconfiado, pensando que se trata de erro. Como sempre, as esmolas grandes fazem desconfiar... Além do
mais, às vezes ele pensa que a pronúncia é a mesma em francês que em português e aí é que ele se estrepa. Contudo, há certas frases
feitas que, por uma singular coincidência, existem nas duas línguas. Por exemplo:
FRANCÊS
|
PORTUGUÊS
|
A' vol d'oiseau
Sans facon
Jupe culotte
Bayard, le chevalier sans peur et sans reproche.
À la page
Champs-Elysées
Brosse-carré
Dernier Cri
Parc Royal
Bon Marché
Mise-en-scéne
Metteur-en-scéne |
A' vol d'oiseau
Sans facon
Jupe culotte
Bayard, le chevalier sans peur et sans reproche.
À la page
Champs-Elysées
Brosse-carré
Dernier Cri
Parc Royal
Bon Marché
Mise-en-scéne
Metteur-en-scéne |
Esta facilidade compensa a dificuldade apresentada pelo primeiro vocabulário. A língua
francesa é indispensável hoje em dia, não tanto por necessidades de ordem diplomática ou política, mas para se poder ler os
cronistas elegantes dos nossos jornais e revistas. É preciso que quando eles dizem que a viscondessa de Carne-assada estava toda "en
oir" a gente saiba que ela estava de preto e que, quando eles dizem que a senhorita Pérola de Açucena estava "en vert et jaune" o
público saiba que ela estava de verde e amarelo, bancando a bandeira nacional.
Extraído de Almanhaque para 1949 ou Almanhaque d'A Manha -
Primeiro Semestre, "super-tele-visionado na sua parte científica, astronômica e profética pelo Exmo. Sr. Barão de Itararé, o
Brando - marechal-almirante e brigadeiro do ar condicionado, que o escreveu todinho, em grande estilo e vertiginosa velocidade, com
a sua nova caneta de propulsão a jato, comandando um exército de esteno-datilógrafas mecanizadas e sob a carinhosa e permanente
vigilância das exmas. autoridades federais e internacionais da ordem política e social". "Copyright by Baron of Itararé - Sob o
patrocínio da SOciedade GRAfica Ltda. (SOGRA)"
Barão de Itararé é a alcunha de Apparício Torelly (1895-1971). A
Batalha de Itararé é famosa por nunca ter ocorrido. |