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Movimento Nacional em Defesa
da Língua Portuguesa
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NOSSO
IDIOMA
Temática lusófona
Júlio Martins (*)
Na passada semana falamos da estrondosa vitória da palavra
sobre a imagem, graças ao desenvolvimento das modernas tecnologias da Informática, das tais auto-estradas da Informação que tornaram
o Mundo mais pequenino, ao qual alguém já lhe chamou "aldeia global" - com toda a propriedade e mérito - que se instalaram,
encontrando-se ainda numa fase de aperfeiçoamento contínuo - ainda bem - numa altura em que já se apregoava aos quatro ventos o seu
desaparecimento do mapa.
Hoje, ficamos a saber da grande preocupação de muita gente, sobre a defesa da Língua
Portuguesa, não só desta Pátria de Camões como do Brasil, Angola, Moçambique, Cabo Verde, Guiné, São Tomé e Timor - entre outros -
os tais muitos milhões de pessoas de todo o globo terrestre que sabem falar Português.
Evidentemente que já não é de hoje, nem de ontem, que andamos para aqui a escrever cada um à
sua maneira. Isto, enquanto nos jornais criaram as regras de escrita, impondo-as aos jornalistas através dos respectivos livros de
estilo.
Se repararem, o JN (N.E.: Jornal de Notícias,
de Lisboa) continua a escrever o nome do presidente da Câmara de Gaia (Menezes com "s"), embora o autarca tenha no seu bilhete de
identidade Menezes com "z". Isto deu muita discussão em várias redacções, entre os jornalistas mais puristas da Língua e os fazedores dos livros de
estilo. E por aquilo que julgamos saber, ninguém se entendeu nem entende.
Os acordos luso-brasileiros não se impõem com rigor e os países lusófonos, a quem foi dada a
independência muito recentemente, são os que têm procurado defender a Língua Portuguesa, embora quase todos eles, mantenham o seu
idioma-mãe.
Há dias, dizia-nos um professor de Português - dos poucos que ainda se preocupam com estas
coisas - que se os portugueses não andarem ligeiros, qualquer dia aparece oficializada a língua brasileira, tal como agora surgiu o
"Real" em vez do "Cruzeiro" e lá se afoga a história portuguesa no caudal do Amazonas.
Na mente de muita gente brasileira isso já teria acontecido há muito tempo. E só para lhes
dar um pequeno exemplo, lembro que aqui há dois/três anos, na recepção de um grande hotel holandês perguntei, cá no meu Inglês de
trazer por casa, se havia alguém que falasse Português. Resposta: "... Não! Mas temos aqui um colega que fala brasileiro!"
Enquanto há tempo! - Pois bem, lemos com muito agrado, que a Associação de Cultura
Lusófona está a preparar o primeiro "Dicionário Temático", a editar dentro de três anos.
Será um volume gigantesco, com mais de mil páginas de letra em corpo 4/6, isto é, pequenino,
com mapas, gráficos, muita ilustração e informação sobre os países lusófonos.
Será que este primeiro "Dicionário Temático da Lusofonia" virá a tempo de salvar um projecto
que defenda as nossas raízes sócio-culturais nas cinco partes do Mundo? Que defenda os sistemas de ensino; a arte gastronómica; a
história e a geografia? Oxalá que sim.
Por outro lado, diria-nos ainda esse especialista em línguas e idiomas lusófonos que se
trata de um livro a divulgar em Língua Portuguesa e de muito interesse para jornalistas, diplomatas ou mesmo para qualquer
estrangeiro que queira visitar um dos países de expressão portuguesa.
Envolvidos nesta arrojada iniciativa estão o Instituto Camões que já confirmou o nome de 95
investigadores que vão colaborar na elaboração deste trabalho, onde não poderão ser esquecidos, nem isentados do património cultural
português, o chamado "nono país" que é a emigração, assim como Macau, Goa, Damão e Diu, porque não temos apenas uma Língua em comum,
mas sim muita coisa que se prende apenas pelo fio político internacional. O que, quanto a nós, é muito pouco para a grandeza de
Portugal no mundo.
(*) Júlio Martins publicou este artigo no jornal semanal
O Comércio
de Gaia, da cidade portuguesa de Vila Nova de Gaia, em 11/1/2001.
As fotos da página resultam de captura de telas do programa "Entrada Livre", exibido em
15/11/2000 pela Rádio e Televisão Portuguesa Internacional (RTPi), quando o apresentador Júlio Isidro entrevistou Fernando
Cristóvão, que está realizando o trabalho em parceria com o Instituto Camões para a criação de um dicionário lusófono, bem como a
formação da Associação da Defesa da Língua. |