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Movimento Nacional em Defesa
da Língua Portuguesa
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NOSSO
IDIOMA
A língua da pátria
Gustavo Werneck (*)
As palavras em inglês confundem a cabeça de Márcia Ferreira,
36 anos, moradora do município de Caeté, na Região Metropolitana de Belo Horizonte. Parada em frente a uma agência do Banco do
Brasil, no bairro Santo Agostinho, na capital mineira, ela tenta entender o significado de Personal Banking, escrito em
destaque diante do caixa eletrônico. Olha atentamente cada letra, mas acaba perguntando bem humorada: "É personalização bancária?"
Assim como Márcia, existem outras tantas pessoas, num curto espaço de tempo e lugar, que têm
dificuldade com os estrangeirismos. Às vezes, as palavras escritas em outro idioma, numa loja ou restaurante, dão um certo medo na
gente, acredita, certa de que, se todas as informações estivessem em português, tudo ficaria bem mais fácil.
O aposentado Telmo Queiroga, 71 anos, morador do bairro Bandeirantes, também pensa da mesma
forma. Temos uma língua pátria, e não precisamos ficar recorrendo ao inglês, francês ou espanhol para dar nome às coisas. Você já
viu, por exemplo, em alguma companhia aérea internacional, principalmente norte-americanas, alguém falar português com os
passageiros?, indaga.
Fazendo a sua hora do almoço, Nelson Barbosa, 37 anos, morador do bairro Tupi, Região Norte
da capital, também fica meio perdido quando está no Centro e regiões de comércio sofisticado. Na entrada da lanchonete MC Donalds,
por exemplo, ele acha complicado entender drive thru ou simplesmente drive. O homem tira o boné, coça a cabeça e faz
cara de quem não está entendendo nada, mesmo com a camisa toda cheia de palavras inglesas. A nossa língua é muito difícil, fica pior
ainda compreender a dos outros, analisa.
A Savassi é um paraíso de placas em outras línguas. Há delivery, parking,
food por todo canto. Uma loja de roupas femininas chega ao desplante de vender artigos for women (para mulheres),
como se todo mundo andasse com um tradutor a tiracolo. 'Realmente está havendo um exagero", diz a estudante Érica Amarante
Rodrigues, fluente no idioma de Shakespeare.
Penso que, com o excesso, há uma desvalorização do português. O cabelereiro Moacir Mendes
vai pelo mesmo caminho, lembrando que os salões de beleza abusam na hora de escolher o seu nome fantasia: "As pessoas acabam falando
tudo errado, pois muitos sons são específicos de um país. Na França, onde estive recentemente, o inglês está proibido. Aqui deveria
acontecer o mesmo".
Devido a todas essas dificuldades e muitas outras é que há dois projetos em tramitação no
Congresso. O primeiro, mais radical, do deputado federal Aldo Rebelo (PC do B/SP), proíbe terminantemente o uso de palavras
estrangeiras em meios de comunicação, publicidade, eventos públicos nacionais, produtos e serviços e em textos oficiais. O outro, do
deputado De Velasco (PSL/SP), acaba de ser aprovado pela Comissão de Educação e Cultura e Desporto da Câmara, é mais flexível,
permitindo a convivência pacífica entre dois ou mais idiomas.
(*) Gustavo Werneck é jornalista. Artigo publicado em
7/1/2001 no jornal Estado de Minas, de Belo Horizonte/MG. |