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Movimento Nacional em Defesa
da Língua Portuguesa
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NOSSO
IDIOMA
Na defesa do idioma português
A.Gomes da Costa (*)
Pode ser que o projeto de lei de autoria do sr. Aldo Arantes,
que está em curso na Câmara dos Deputados, tenha alguns artigos considerados "ingênuos" por aqueles que, sob o manto da tolerância e
do laxismo, aceitam tudo o que vem de fora como sinônimo de progresso, sem resistências e sem críticas.
Arte da ilustração:
DaCosta
O fato, entretanto, é que a invasão de estrangeirismos, sobretudo de palavras
inglesas, na linguagem oral e escrita - na mídia, no trabalho, no comércio, na publicidade etc. - é de tal forma crescente, que,
daqui a pouco, no meio de tantos anglicismos fervilhantes, já não bastará desabafar como o velho Fradique Mendes numa de suas
cartas: "É uma pena que v. não saiba escrever a sua língua" - mas seremos obrigados a reconhecer, com tristeza, que estamos piores
na tabela do que o camponês de Yorkshire e a cada dúzia de palavras do vernáculo defrontamo-nos com um ou dois estrangeirismos, que
nos incomodam e desgostam.
Se alguém acha que é descabida a multa para punir a loja que anuncia a liquidação dos retalhos
recorrendo à sale para a venda e ao off para o desconto, ou que não deve proibir que a descrição dos cômodos de um
apartamento, na propaganda, substitua a sala e o quarto, a varanda e a cozinha, pelos sinônimos ingleses - como se junto ao criado
mudo estivesse Sua Majestade - não há dúvida de que, a esta altura, a única maneira de pôr fim ao descalabro e ao desleixo é assumir
posições radicais, condenáveis sob certos aspectos, talvez ridículos sob outros, mas que podem ser capazes de criar a consciência de
que está em perigo neste processo de aviltamento da língua uma das dimensões da própria identidade.
E temos um bom exemplo para a campanha, não para lhe imprimir o fanatismo dos puristas, mas
para a promover com o zelo de quem cuida com gosto do próprio patrimônio. E o exemplo é a França. Chegou a tal ponto a promiscuidade
e o avanço do franglais, que as autoridades gaulesas, há alguns anos, tiveram de disciplinar, como agora quer fazer o
deputado Aldo Arantes, o uso e a entrada de palavras inglesas no país. Foi através da conhecida Lei Toubon.
Decerto, que não faltam pretextos para que o idioma materno vá acolhendo, naturalmente,
palavras estrangeiras, umas por empréstimo, outras importadas. Nem sempre, na forma vernácula, haverá termos correspondentes e
apropriados, ou então o progresso das ciências e das tecnologias exige a adoção de palavras que ainda não fazem parte do inventário
da língua-mãe e que lhe aumentam o poder de expressão. No entanto, o que se condena é o abuso e o exagero a que se chegou, quer na
utilização de palavras, quer na construção sintática.
Na verdade, nos últimos anos, tem sido de tal forma avassaladora a entrada dos
estrangeirismos e das macaquices literárias, que há razão para nos preocuparmos com o futuro do Português. Até porque o ensino nas
escolas anda tão desprezado - e a leitura tão esquecida - que as autodefesas para nos livrarmos das importações lingüísticas são
cada vez mais débeis.
"Não faltam pretextos para acolher palavras estrangeiras"
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Por isso, em recurso extremo, que venha a lei - para não nos convertermos, vexados de todo,
em verdadeira hospedaria de vocábulos estranhos e de mau gosto.
Não queiramos que o simples "sanduíche" seja "entalada", como defendia Cândido de
Figueiredo, mas não caiamos na tentação do Banco do Brasil de oferecer o personal banking ao invés do banco personalizado...
(*) Antonio Gomes da Costa é economista e jornalista no
Rio de Janeiro, vinculado à colônia portuguesa. É presidente da Federação das Associações Luso-Brasileiras e do Conselho
Deliberativo do Clube de Regatas Vasco da Gama. Artigo publicado em 8/9/2000 no jornal
A Tribuna, de Santos/SP, seção Tribuna Livre.
Ilustração de DaCosta publicada com a matéria nesse jornal. |