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Última modificação em (mês/dia/ano/horário): 10/04/00 14:17:40

Movimento Nacional em Defesa
da Língua Portuguesa

NOSSO IDIOMA
Na defesa do idioma português

A.Gomes da Costa (*)

Pode ser que o projeto de lei de autoria do sr. Aldo Arantes, que está em curso na Câmara dos Deputados, tenha alguns artigos considerados "ingênuos" por aqueles que, sob o manto da tolerância e do laxismo, aceitam tudo o que vem de fora como sinônimo de progresso, sem resistências e sem críticas.

Arte da ilustração: DaCosta

O fato, entretanto, é que a invasão de estrangeirismos, sobretudo de palavras inglesas, na linguagem oral e escrita - na mídia, no trabalho, no comércio, na publicidade etc. - é de tal forma crescente, que, daqui a pouco, no meio de tantos anglicismos fervilhantes, já não bastará desabafar como o velho Fradique Mendes numa de suas cartas: "É uma pena que v. não saiba escrever a sua língua" - mas seremos obrigados a reconhecer, com tristeza, que estamos piores na tabela do que o camponês de Yorkshire e a cada dúzia de palavras do vernáculo defrontamo-nos com um ou dois estrangeirismos, que nos incomodam e desgostam.

Se alguém acha que é descabida a multa para punir a loja que anuncia a liquidação dos retalhos recorrendo à sale para a venda e ao off para o desconto, ou que não deve proibir que a descrição dos cômodos de um apartamento, na propaganda, substitua a sala e o quarto, a varanda e a cozinha, pelos sinônimos ingleses - como se junto ao criado mudo estivesse Sua Majestade - não há dúvida de que, a esta altura, a única maneira de pôr fim ao descalabro e ao desleixo é assumir posições radicais, condenáveis sob certos aspectos, talvez ridículos sob outros, mas que podem ser capazes de criar a consciência de que está em perigo neste processo de aviltamento da língua uma das dimensões da própria identidade.

E temos um bom exemplo para a campanha, não para lhe imprimir o fanatismo dos puristas, mas para a promover com o zelo de quem cuida com gosto do próprio patrimônio. E o exemplo é a França. Chegou a tal ponto a promiscuidade e o avanço do franglais, que as autoridades gaulesas, há alguns anos, tiveram de disciplinar, como agora quer fazer o deputado Aldo Arantes, o uso e a entrada de palavras inglesas no país. Foi através da conhecida Lei Toubon.

Decerto, que não faltam pretextos para que o idioma materno vá acolhendo, naturalmente, palavras estrangeiras, umas por empréstimo, outras importadas. Nem sempre, na forma vernácula, haverá termos correspondentes e apropriados, ou então o progresso das ciências e das tecnologias exige a adoção de palavras que ainda não fazem parte do inventário da língua-mãe e que lhe aumentam o poder de expressão. No entanto, o que se condena é o abuso e o exagero a que se chegou, quer na utilização de palavras, quer na construção sintática.

Na verdade, nos últimos anos, tem sido de tal forma avassaladora a entrada dos estrangeirismos e das macaquices literárias, que há razão para nos preocuparmos com o futuro do Português. Até porque o ensino nas escolas anda tão desprezado - e a leitura tão esquecida - que as autodefesas para nos livrarmos das importações lingüísticas são cada vez mais débeis.

"Não faltam pretextos para acolher palavras estrangeiras"

Por isso, em recurso extremo, que venha a lei - para não nos convertermos, vexados de todo, em verdadeira hospedaria de vocábulos estranhos e de mau gosto.

Não queiramos que o simples "sanduíche" seja "entalada", como defendia Cândido de Figueiredo, mas não caiamos na tentação do Banco do Brasil de oferecer o personal banking ao invés do banco personalizado...

(*) Antonio Gomes da Costa é economista e jornalista no Rio de Janeiro, vinculado à colônia portuguesa. É presidente da Federação das Associações Luso-Brasileiras e do Conselho Deliberativo do Clube de Regatas Vasco da Gama. Artigo publicado em 8/9/2000 no jornal A Tribuna, de Santos/SP, seção Tribuna Livre.

Ilustração de DaCosta publicada com a matéria nesse jornal.