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Movimento Nacional em Defesa
da Língua Portuguesa
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NOSSO
IDIOMA
A língua portuguesa e a invasão estrangeira
Rosilma Roldan (*)
A lei deve nascer, sempre, como uma resposta aos anseios da
sociedade que pretenda proteger.
Em nosso País, no entanto, muitas leis há, criadas em gabinetes parlamentares, no afã de um
espaço nos meios de comunicação, absolutamente descoladas dos reais interesses dos vários segmentos sociais que, por isso mesmo, não
vingam, já que, afinal, não passam de meros pedaços de papel.
Imagem de entrevista
concedida à TV Bandeirantes em 18/7/2000
Entretanto, quando a lei surge em um momento, quase mágico, fruto da extrema sensibilidade do
parlamento, afinado com a sociedade que representa, significa uma verdadeira catarse, para uma Nação que, raramente, é ouvida.
O Movimento Nacional em Defesa da Língua Portuguesa teve início a partir de um projeto de lei,
apresentado na Câmara Federal, em novembro de 1999, pelo deputado Aldo Rebelo e, no Estado de São Paulo, pela deputada Mariângela
Duarte, logo a seguir, em dezembro.
Tais projetos traduzem a preocupação com a descaracterização da língua portuguesa e
pretendem motivar a reflexão e levantar o debate sobre tão fascinante tema.
Latente - Quando iniciamos nossos encontros, logo percebemos que, muito longe de ser
um Movimento utópico, como, a princípio, talvez alguns pudessem imaginar, o sentimento que perpassava por corações e mentes era de
absoluto compromisso com os mais significativos valores culturais e cívicos, ligados, principalmente, à auto-estima da Nação e à
soberania do País, produtos demasiadamente escassos, no atual mercado globalizado.
Na medida em que avançávamos nos debates e entrávamos em contacto com pessoas dos mais
variados níveis culturais e sociais, assim como de quase todos os Estados do País, começamos a perceber que o sentimento sobre a
necessidade da preservação do idioma estava latente, em cada uma dessas pessoas, de maneira marcante, viva, pulsante, apenas
esperando o canal adequado para atualizar-se. A receptividade ao Movimento tem sido magnífica!
Mas, afinal, será que, realmente, a língua portuguesa está ameaçada de extinção? A invasão
do estrangeirismo é real? Qual o impacto dessa descaracterização da língua, frente à sociedade? O que significa tudo isso?
Claro está que a língua é um organismo vivo e, como tal, sofre as múltiplas influências dos
costumes, do clima, das outras línguas, dentro de um processo evolutivo natural, que vai sendo assimilado, digerido, gradativamente,
pelo povo que dela se utiliza.
Descaracterização - Todavia, com o avanço da Internet, invento espetacular
recentíssimo, uma rede internacional de informações gratuitas, a descaracterização da língua portuguesa pela invasão dos
estrangeirismos se agravou. Como?
Para o adulto, a comunicação pela Internet é mais uma opção. A mente experiente e
amadurecida tem discernimento para utilizar-se da rede, como um multimeio para atualizar-se e comunicar-se. A linguagem cifrada dos
"chats" é um recurso a mais a enriquecer o acervo cultural da pessoa já formada.
Para o jovem, o principal usuário da rede - a quem não foi ensinado o Português (já que hoje
é comum o analfabetismo resistir ao ensino fundamental, quiçá ao ensino médio, devido à promoção automática), muito menos o Inglês,
não se ministraram as disciplinas que o estimulariam a refletir, criticar, a sugerir mudanças, já que foram, há muito, retiradas do
currículo escolar, como a Lógica, o Latim, a Filosofia, a Psicologia, a Sociologia, as Línguas Estrangeiras -, a Internet é fator
que causa preocupação.
Frente à velocidade da Internet, cujos programas são em inglês, ou, pior do que isso, em "portinglês",
com os teclados do micro, também, em inglês, o jovem recebe uma quantidade imensa de dados, sem tempo nem preparo para digeri-los,
pensar neles, aproveitá-los para aperfeiçoar seus conhecimentos e comportamento, sua convivência, melhorar sua qualidade de vida,
agilizar sua inserção no mercado de trabalho.
Ao contrário, sem dominar as estruturas da língua pátria, vê-se diante de uma enxurrada de
termos estrangeiros que mal conhece, e passa a utilizá-los pela semelhança, criando uma verdadeira monstruosidade lingüística, que
dificulta e, por vezes, chega a impedir a comunicação.
Responsabilidade - Esse comportamento tem-se disseminado pelos meios de comunicação:
o termo "assistência", por exemplo, em jogos de voleibol ou basquete, utilizado para significar "passe" ou "lançamento"; "negociar a
ultrapassagem", ou ainda, "tal evento teve lugar", em vez de, simplesmente, "ocorreu", construções descontextualizadas de nossa
realidade e, note-se, usadas freqüentemente.
Os meios de comunicação têm grande responsabilidade, em relação à formação dos jovens, pois,
como sabemos, a Educação, no País, está longe de ser ideal. A influência da TV, da imprensa escrita e falada é fundamental,
decisiva, para segmento tão carente de informação e de formação.
Aprender bem a Língua Portuguesa, defendê-la e usá-la com absoluta propriedade é instrumento
eficaz para o desenvolvimento do raciocínio e da comunicação eficiente, além de imprescindível para o verdadeiro aprendizado de
qualquer língua estrangeira.
Nossa proposta é buscar a reflexão e o debate sobre a defesa e a promoção da língua
portuguesa, como questão de soberania, além de cobrar o papel inafastável do Estado de priorizar seu ensino, para possibilitar ao
cidadão brasileiro inserir-se em uma Nação que pretenda ser competitiva, evoluída, criativa, independente.
(*) Rosilma Roldan é membro da Coordenação do Movimento
Nacional em Defesa da Língua Portuguesa (MNDLP). |