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Movimento Nacional em Defesa
da Língua Portuguesa
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NOSSO
IDIOMA
"Tudo free"
Mauro Ventura (*)
"Tudo free", berra o anúncio. Nada a ver com cigarro, a
propaganda é da loja Dunkin'Donuts. O folheto é até simpático, traz um desenho do Cristo Redentor segurando uma rosquinha e a frase:
"O Rio de Janeiro continua lindo." Quem levar o anúncio ganha um doce e um café - eis a razão da palavra free no texto. Pode
parecer implicância, mas acho que "Tudo grátis!" teria mais apelo.
E olha que o colunista não é dos mais puristas. Um amigo gozador traduz ao pé da letra tudo
o que vê em inglês. Ele chama o shopping Rio Off Price de Rio Fora do Preço, refere-se ao New York City Center como Centro da Cidade
de Nova Iorque e prefere Cidade Baixa a Downtown.
Soube de um sujeito ainda mais radical. Além de traduzir as expressões - home page
vira página doméstica -, ele faz questão de pronunciar as palavras exatamente como lê. No McDonald's, por exemplo, pede um
maquixiquem. As atendentes dão um sorrisinho irônico, fazem ar superior e ensinam a pronúncia correta - ou pelo menos a pronúncia
que elas acham que é correta. Detalhe: ele é professor de português e de inglês, morou muitos anos em Londres, mas não abre mão de
defender a língua portuguesa. Nem que para isso tenha que dizer milquexaque.
(*) Mauro Ventura é colunista do
Jornal do Brasil, do Rio de Janeiro, veículo em que o texto acima foi publicado no dia 26 de
agosto de 2000.
N.E.: Não precisamos usar a expressão inglesa [milk-shake]. Em português,
temos há muito tempo a expressão [leite batido], com o mesmo sentido. |