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Movimento Nacional em Defesa
da Língua Portuguesa
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NOSSO
IDIOMA
Portuguese, please*
*Em português, por favor
Um polêmico projeto de lei pode obrigar os brasileiros a banir palavras estrangeiras de seu
vocabulário
Sara Duarte e Valéria Propato (*)
A pizza rápida, chama-se express, e há quem pense que o
uso do termo estrangeiro sugere que o produto sairá do forno em menos tempo. Os serviços de entrega a domicílio viraram delivery.
Loja de animal ganhou a abreviação de pet shop. As peças na vitrine estão on sale. O que era grátis virou free.
E tudo agora é center: design center, estetic center. O banco diz para investir “Where the money lives”.
As perfumarias anunciam a new fragrance. O moderno é fashion. Recorte de notícias é clipping. Subir na empresa
ou na vida é um up-grade. Meta de inflação é inflation target. Modelo número 1 é top model. Ginástica é
fitness. Não há como escapar. Estamos infectados pelo inglês.
Para muitas pessoas a influência, num mundo globalizado, é natural. Há quem sustente, no
entanto, que o brasileiro anda exagerando nas apropriações indébitas e fazendo a língua portuguesa sofrer de falta de personalidade.
Decidida a defendê-la da invasão “impenitente e insidiosa”, a Comissão de Educação, Cultura e Desporto da Câmara dos Deputados
aprovou por unanimidade, na semana passada, um projeto de lei que proíbe o emprego de palavras em outros idiomas na publicidade, em
produtos e serviços, nos meios de comunicação, eventos públicos e textos oficiais (sejam eles de expressão oral, escrita ou
eletrônica). Instalou-se a polêmica. Se ela pegar, todo mundo terá de falar em bom português.
O autor do projeto, deputado Aldo Rebelo (PCdoB), explica que sua intenção é educar os
brasileiros. “Não precisamos destruir o País para sermos globalizados”, exagera o parlamentar, inspirado em leis similares em vigor
na França e em Portugal. Seu texto chega a definir como prática abusiva – e sujeita a penalidades que deverão ser regulamentadas
pelo governo – o emprego de palavras estrangeiras que podem perfeitamente ser traduzidas ou aportuguesadas.
A Barra da Tijuca, deduz-se, deveria então ser interditada. O bairro nobre do Rio de Janeiro
ganhou até apelido de Miami carioca, tamanha a concentração de palavras em inglês por metro quadrado. A meca do culto aos Estados
Unidos é o shopping New York Center, com uma enorme réplica da estátua da Liberdade à entrada. Placas de parking
(estacionamento) misturam-se a cartazes anunciando em perfeito inglês americano a inauguração de novas lojas.
O humor do mundo bilíngüe
Na Internet, um dicionário ridiculariza o uso do inglês
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So free – Sofri, padeci
Go home – Vá para Roma
Corn flakes – Cornos frescos
Free shop – Chope de graça
I’m sad – Estou com sede
The boy is behind the door – O boi está berrando de dor
She must go – Ela mastigou
Layout – Fora da lei
Mary Christmas – Maria Cristina
I’m hungry – Sou húngaro
She’s cute – Ela escuta
To be champion – Ser bicampeão
To sir with love – Tossir com amor
I’m alone – Estou na lona |
Aqui o inglês é idioma oficial
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ESCRITÓRIO
Conference call: reunião de negócios por meio de vídeo ou
telefones
Forecast – previsão de custo ou de investimento
Meeting – reunião
Notebook – computador portátil
Staff – equipe ou conjunto de funcionários |
PUBLICIDADE
Jingle – propaganda em forma de música
Making of – processo de produção do comercial
Market share – participação de um produto no mercado
Off line – rascunho do anúncio
Top of mind – marca mais lembrada pelo consumidor |
INTERNET
Chat – bate-papo entre internautas
Download – baixar um arquivo
E-mail – mensagem eletrônica
Nick – apelido ou codinome utilizado na rede
Upgrade – ampliar a capacidade de memória do PC |
FINANÇAS
Cash – dinheiro vivo
Commodity – mercadoria de bolsa
Leasing – arrendamento
Overnight – operações feitas no mercado aberto por um dia
Spread bancário – diferença de juros entre captação e
aplicação |
(*) Artigo publicado na edição 1.612 da revista semanal
Isto É, com data de capa de 23 de agosto de 2000. |