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Movimento Nacional em Defesa
da Língua Portuguesa
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NOSSO
IDIOMA
O povo apóia
Aldo Rebelo (*)
O projeto de defesa e proteção da língua
portuguesa tem recebido apoio de professores, músicos, lingüistas, jornalistas e outras pessoas de várias ocupações. O sucesso com o
público tem motivo simples e justo: os brasileiros gostamos do nosso idioma e queremos defendê-lo da saraivada de estrangeirismos
que alteram a língua e truncam a comunicação do povo. Alguns críticos, no entanto, deformam nossas idéias. Vamos a eles:
"Lei, não" – O Brasil legisla sobre o idioma desde 1931, quando
o Executivo e o Parlamento aprovaram a reforma ortográfica. Os críticos de algibeira desconhecem que temos um vocabulário
oficializado e que a Constituição consagra o português como língua do País. A legislação é tão abrangente que, nas Instruções do
Formulário Ortográfico de 1943, especifica regras gramaticais – do alfabeto de 23 letras aos sinais de pontuação. A lei do registro
civil proíbe nomes exóticos, exceto se aportuguesados de forma que a grafia reproduza a pronúncia estrangeira. Washington vira
Uóchinton. Nem letras dobradas (Mello, Vianna, etc.) o cartório pode aceitar. Nosso projeto inscreve-se, portanto, na tradição
legislativa de proteção do idioma.
"Punição é autoritarismo" – A punição (a ser definida) dos que,
abusiva e desnecessariamente, usarem expressões estrangeiras incompreensíveis ao povo, como é comum em faixas de rua e lojas de
centros comerciais, servirá para inibir a macaquice colonizada que desfigura o português. O projeto faz ampla ressalva da liberdade
de expressão e de imprensa, mas rejeita excessos como o de um banco americano que, numa placa de rua – uma placa de rua! –, em São
Paulo, escreveu "where money lives." Isso sim é autoritário e arrogante desrespeito à língua do País e aos valores da
cidadania brasileira.
"Educar, não punir" – Os acomodados e cúmplices da
desnacionalização lingüística argumentam que o português se auto-defende dos estrangeirismos. "A língua é viva, dinâmica", dizem.
Disso sabemos tanto quanto qualquer um. O português tem sido enriquecido, ao longo dos séculos, por milhares de palavras
estrangeiras – do árabe (açúcar) ao russo (dacha). Do francês recebemos tantos e tão aclimados termos que hoje passam por
camonianos. Mas daí atribuir ao idioma poder de autodefesa, ditada pelo "mercado", é como esperar que o organismo defenda-se sozinho
das doenças, e jogar o antibiótico no lixo. O aperfeiçoamento do ensino e da aprendizagem da língua portuguesa, primeiros pontos do
projeto, são conquistas de longo prazo que não se chocam com medidas de emergência na defesa do idioma.
"Cada um escreve o que quer" – Um aspecto pouco mencionado do
nosso projeto é a proposta de revitalização das regras de aportuguesamento das palavras necessárias ao português. Os neologismos, a
começar da nomenclatura técnico-científica e de serviços, devem passar pela alfândega léxica. Temos o dever de recusar a inclusão em
nosso vocabulário de termos que não sabemos pronunciar ou escrever. É o caso do abominável site e de breakfast, outsider,
schwabache, up-to-date e tantos outros que constam, oficialmente, do nosso idioma. A tradição brasileira aceita o
neologismo estrangeiro, mas modela-o com o tempero nacional que mudou "knock-out" em nocaute, "shoot" em chute, "lunch"
em lanche. Não ficou melhor?
(*) Aldo Rebelo é jornalista e
deputado federal pelo PC do B de São Paulo. Internet: www.camara.gov.br/aldorebelo
Correio eletrônico: dep.aldorebelo@camara.gov.br
Artigo publicado na edição do dia 17/8/2000, do jornal carioca
O Globo, na coluna Nossa Opinião. |