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Movimento Nacional em Defesa
da Língua Portuguesa
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NOSSO
IDIOMA
Os macacos do inglês em tudo
Sebastião Nery (*)
SÃO PAULO - William Faulkner, o telúrico romancista americano, tinha
medo de avião. Bebeu muito quando veio a São Paulo, em 45, para o congresso nacional de escritores. Do aeroporto, foi direto para o
hotel Jaraguá. De manhã, abriu as janelas, viu a selva de arranha-céus e chaminés:
- Ah!, meu Deus, trouxeram-me para Chicago!
Imaginem se ele viesse, hoje, para a Barra da Tijuca, no Rio.
Acordaria em Miami. A idiota macaquice imobiliária brasileira pegou a mania de pôr nome inglês em todos os edifícios. Em Brasília,
em português, só restam os palácios do Planalto e da Alvorada e o Congresso. O resto é tudo "Tower", "Manhattan", "Flats",
"Parking".
E as lojas? Os shoppings não têm uma só com nome português. Um, em
Brasília, ainda conserva, como relíquia, a "escada". Até quando, ninguém sabe. É uma praga da cretinice herdada de três séculos de
colônia.
A cretinice colonizada
A "socialite" babaca paga em dobro se a loja e a marca forem em
inglês. E os deslumbrados e deslumbradas de televisão, do rádio, das revistas, da propaganda, até da Universidade, só em inglês se
sentem intelectuais.
Por isso ficaram todos excitadíssimos quando a Comissão de Educação da
Câmara aprovou o projeto do deputado Aldo Rabelo (PC do B-SP) tornando obrigatório o uso do português em nomes de ruas, escolas,
prédios, lojas, locais de trabalho, publicidade, documentos e comunicados públicos.
Começaram a inventar que o projeto proíbe brasileiros de usarem o
inglês na Internet, a dizer que é um "achaque pseudonacionalista", provincianismo", que "no mundo inteiro é assim mesmo". Mentira.
Será que De Gaulle e Mitterand sofriam de "achaque pseudonacioalista"
e "provincianismo", quando propuseram à Assembléia francesa, e aprovaram, leis proibindo, como lá é proibido, o uso de nomes
estrangeiros em locais públicos? Na França, é certo. Aqui, não?
Mãe honesta, filha vadia
Cora Ronai diz que "se uma língua fosse um entidade estanque, imune a
influências externas, ainda estaríamos falando latim. Quem inventa a tecnologia inventa a terminologia".
O deputado Aldo Rabelo, ex-presidente da UNE, não quer impedir a
"influência externa" no português ou a "absorção de novas linguagens" pelo português. Ele não quer é deixar que o Brasil se torne um
"Miamião".
O padre Francisco Correia, o maior latinista brasileiro, dizia-nos, no
seminário da Bahia, com sua verve, talento e sabedoria, que "o latim foi uma senhora honesta, que teve cinco filhas (italiano,
francês, português, espanhol e romeno), todas putas: saíram de casa e nunca mais voltaram".
Senhora honesta ou filha vadia, as línguas jamais voltam. Elas se
renovam nas estradas do tempo. Mas é repugnante um país tolerar viver com as suas referências públicas escritas e faladas na língua
do último colonizador.
(*) Artigo publicado no jornal
Tribuna da Imprensa, do Rio de Janeiro, em
19/8/2000. |