O uso de expressões como on sale (para mercadorias em
liquidação) e personal banking (serviços bancários personalizados) podem estar com os dias contados. Projeto de lei que
proíbe o uso de expressões estrangeiras no país em eventos públicos, nos meios de comunicação e em estabelecimentos e produtos
foi aprovado ontem pela Comissão de Educação da Câmara. O
projeto tolera palavras de origem estrangeira que já tenham sido integradas ao Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa da
Academia Brasileira de Letras.
Lá estão, por exemplo, palavras de uso corrente na Internet. Ainda há
dúvidas sobre seus derivados, como startar, printar, deletar e atachar - alvo da ira dos defensores
da proposta, assim como self-service e coffee-break.
O projeto tenta conter a inclusão de novas palavras estrangeiras no
vocabulário oficial se elas podem ser traduzidas. O texto recomenda à ABL esforço extra de aportuguesamento de palavras. Fora as
exceções que serão definidas em regulamentação própria, o uso de palavra ou expressão em língua estrangeira será
considerado "lesivo ao patrimônio cultural brasileiro".
O projeto terá ainda de passar pela CCJ (Comissão de Constituição e
Justiça) e pelo plenário da Câmara, pelo Senado e pela sanção do presidente da República. Punições aos infratores - pessoas
físicas e jurídicas - também serão definidas futuramente pelo governo. O projeto original, modificado ontem, previa multas de
até cerca de R$ 14 mil. As punições poderão atingir, por exemplo, membros da equipe econômica do governo, habituados a usar
publicamente expressões em inglês. Quem é brasileiro nato ou naturalizado ou resida no Brasil há mais de um ano fica obrigado a
usar o português.
Empresas e estabelecimentos comerciais controladas por brasileiros e que
tenham nomes estrangeiros também terão de alterá-los, de acordo com a proposta. A coleção de recortes produzida pela própria
Câmara que votou ontem o projeto não mais poderá se chamar clipping.
Inculta e bela - A relatora do projeto na Comissão de Educação,
Iara Bernardi (PT-SP), disse que as novas regras não devem ser vistas como um ato de intolerância ou de xenofobia. Tampouco se
trata de uma tentativa de impedir inovações na língua portuguesa. A intenção, segundo ela, é evitar ataques ao idioma falado
atualmente por mais de 200 milhões de pessoas. O vilão da história seria o estrangeirismo desnecessário, que estaria provocando,
na opinião da relatora, um processo de desnacionalização da língua.
"Nossa língua materna tornou-se culta, continua bela, mas está
ultrajada", diz, citando versos de Olavo Bilac: "Última flor do Lácio, inculta e bela? És, a um tempo, esplendor e sepultura". O
autor do projeto, deputado Aldo Rebelo (PC do B-SP), levanta uma outra preocupação: a hipótese de a língua modificada por
expressões estrangeiras funcionar como um instrumento de exclusão social.
"Estamos na iminência de comprometer, quem sabe truncar, a comunicação
oral e escrita com o nosso homem simples, não afeito a palavras importadas, em geral do inglês, que dominam o nosso cotidiano,
sobretudo a produção, o consumo e a publicidade de bens, produtos e serviços", afirmou o deputado.
Exemplos dados pelo deputado: os brasileiros não têm obrigação de
entender o que são produtos on sale ou vendidos 50% off. |