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Movimento Nacional em Defesa
da Língua Portuguesa
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NOSSO
IDIOMA
Língua-pátria
(Editorial) (*)
Já não era sem tempo. O cidadão vai caminhando tranqüilamente
pela rua e de repente se depara com o cartaz: "Holding...". Continua a andar e lá está, na esquina mais movimentada da
cidade, a frase: "Do you want to drink cold beer?..." No outdoor próximo à ponte sobre o rio Poti, um jovem refestelado no
sofá e, ao seu lado, a palavra "Life..."
O estrangeirismo invadiu o país de norte a sul, de leste a oeste; um país que, diga-se de
passagem, não conseguiu resolver os problemas de desconhecimento nem da própria língua-pátria. No Piauí, por exemplo,
aproximadamente 22,2% da população é de analfabetos — pessoas que não sabem ler e alguns nem assinar o próprio nome.
Concepção recente indica ainda que mais da metade dos 2,7 milhões de habitantes do Estado é
de analfabetos funcionais, ou seja, até que sabem ler e escrever, o difícil é conseguir interpretar o que leram ou passar para o
papel o que sentem.
É brincadeira?! Quer mais? Pois aí vai: o mesmo cidadão, perplexo, segue em frente e lá está
o letreiro: "Franchise..." Fica se perguntando, afinal, o que significa isso? E prossegue: "Coffee-break...", "Self-service...",
"Fast-food..."
Um deputado federal apresentou recentemente Projeto de Lei que pretende obrigar os
brasileiros a falar e escrever exclusivamente em Português no trabalho, nas escolas e nas campanhas de publicidade. Em trâmite na
Comissão de Educação da Câmara, o projeto deverá ser votado esta semana.
É um princípio de reação contra o colonialismo moderno imposto pela globalização e, em
parte, pela omissão da população em geral. Se aprovada, a lei punirá os infratores com multa de até R$ 4,2 mil, no caso de pessoas,
e R$ 13,8 mil para as empresas.
O autor do projeto é o deputado Aldo Rebelo e ele justifica sua idéia a partir da
preocupação com o domínio do Inglês norte-americano. O parlamentar pretende combater expressões e palavras importadas na produção,
consumo e publicidade, e até aqueles originários da informática, dos modismos e da mídia.
É uma providência necessária. A americanização da língua impõe duro golpe à cultura
nacional. Descaracteriza-se a Língua Portuguesa e, por conseqüência, eliminam-se os valores locais. Quem ganha com isso são os
grandes grupos empresariais vindos de fora e o chamado "imperialismo ianque" — hoje tão em desuso enquanto expressão, porém cada vez
mais na moda no tocante ao predomínio.
Na verdade, constitui verdadeira afronta exigir de um cidadão que saiba o significado, por
exemplo, de "Fast-food..." (quer dizer, coma rápido) ou que uma mercadoria "On sale..." está em liquidação. Ou ainda
que "Life..." significa vida.
O autor da proposta entende que não se trata de algo apenas abusivo, mas sobretudo enganoso,
notadamente quando parte de instituições públicas, como Banco do Brasil e Câmara Federal, que adotam expressões como "Personal
banking" e "Newsletter".
Falta ao povo brasileiro, neste particular, conhecimento, senso crítico e estético e até
mesmo auto-estima. As pessoas terminam aderindo por achar bonito falar a mesma língua dos galãs do cinema — Harrison Ford, Brad Pitt,
Michael Douglas, Catherine Zetta Jones, Mira Sorvino etc. — sem atentar para o fato de que somos brasileiros e não estadunidenses e
nossa língua oficial é o Português — belíssima, por sinal, se falada corretamente. É tudo, como se vê, uma questão de valorizar a si
próprio.
(*) Editorial não assinado, publicado pelo
Jornal Meio Norte, de Teresina (Piauí), em 10 de agosto de 2000.
N.E.: o artigo que prevê multa, no projeto de lei em tramitação no Congresso Nacional, foi
substituído. Na redação atual, o projeto prevê que esse assunto será tratado durante a regulamentação da lei. |