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Última modificação em (mês/dia/ano/horário): 07/26/00 16:42:25

Movimento Nacional em Defesa
da Língua Portuguesa

NOSSO IDIOMA
Língua-pátria

(Editorial) (*)

Já não era sem tempo. O cidadão vai caminhando tranqüilamente pela rua e de repente se depara com o cartaz: "Holding...". Continua a andar e lá está, na esquina mais movimentada da cidade, a frase: "Do you want to drink cold beer?..." No outdoor próximo à ponte sobre o rio Poti, um jovem refestelado no sofá e, ao seu lado, a palavra "Life..."

O estrangeirismo invadiu o país de norte a sul, de leste a oeste; um país que, diga-se de passagem, não conseguiu resolver os problemas de desconhecimento nem da própria língua-pátria. No Piauí, por exemplo, aproximadamente 22,2% da população é de analfabetos — pessoas que não sabem ler e alguns nem assinar o próprio nome.

Concepção recente indica ainda que mais da metade dos 2,7 milhões de habitantes do Estado é de analfabetos funcionais, ou seja, até que sabem ler e escrever, o difícil é conseguir interpretar o que leram ou passar para o papel o que sentem.

É brincadeira?! Quer mais? Pois aí vai: o mesmo cidadão, perplexo, segue em frente e lá está o letreiro: "Franchise..." Fica se perguntando, afinal, o que significa isso? E prossegue: "Coffee-break...", "Self-service...", "Fast-food..."

Um deputado federal apresentou recentemente Projeto de Lei que pretende obrigar os brasileiros a falar e escrever exclusivamente em Português no trabalho, nas escolas e nas campanhas de publicidade. Em trâmite na Comissão de Educação da Câmara, o projeto deverá ser votado esta semana.

É um princípio de reação contra o colonialismo moderno imposto pela globalização e, em parte, pela omissão da população em geral. Se aprovada, a lei punirá os infratores com multa de até R$ 4,2 mil, no caso de pessoas, e R$ 13,8 mil para as empresas.

O autor do projeto é o deputado Aldo Rebelo e ele justifica sua idéia a partir da preocupação com o domínio do Inglês norte-americano. O parlamentar pretende combater expressões e palavras importadas na produção, consumo e publicidade, e até aqueles originários da informática, dos modismos e da mídia.

É uma providência necessária. A americanização da língua impõe duro golpe à cultura nacional. Descaracteriza-se a Língua Portuguesa e, por conseqüência, eliminam-se os valores locais. Quem ganha com isso são os grandes grupos empresariais vindos de fora e o chamado "imperialismo ianque" — hoje tão em desuso enquanto expressão, porém cada vez mais na moda no tocante ao predomínio.

Na verdade, constitui verdadeira afronta exigir de um cidadão que saiba o significado, por exemplo, de "Fast-food..." (quer dizer, coma rápido) ou que uma mercadoria "On sale..." está em liquidação. Ou ainda que "Life..." significa vida.

O autor da proposta entende que não se trata de algo apenas abusivo, mas sobretudo enganoso, notadamente quando parte de instituições públicas, como Banco do Brasil e Câmara Federal, que adotam expressões como "Personal banking" e "Newsletter".

Falta ao povo brasileiro, neste particular, conhecimento, senso crítico e estético e até mesmo auto-estima. As pessoas terminam aderindo por achar bonito falar a mesma língua dos galãs do cinema — Harrison Ford, Brad Pitt, Michael Douglas, Catherine Zetta Jones, Mira Sorvino etc. — sem atentar para o fato de que somos brasileiros e não estadunidenses e nossa língua oficial é o Português — belíssima, por sinal, se falada corretamente. É tudo, como se vê, uma questão de valorizar a si próprio.

(*) Editorial não assinado, publicado pelo Jornal Meio Norte, de Teresina (Piauí), em 10 de agosto de 2000.

N.E.: o artigo que prevê multa, no projeto de lei em tramitação no Congresso Nacional, foi substituído. Na redação atual, o projeto prevê que esse assunto será tratado durante a regulamentação da lei.