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Movimento Nacional em Defesa
da Língua Portuguesa
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NOSSO
IDIOMA
Sotaque de Brasil
Timor Leste e países africanos querem aprender o português dos brasileiros
Maria Clarice Dias (*)
Colonizado pelos portugueses durante 455 anos, Timor Leste
manteve-se fiel à língua e à cultura ibérica. Em 1975, sucumbiu à dominação da Indonésia. Nos 24 anos seguintes, até o plebiscito do
ano passado, quando conquistaram a independência nas urnas, os timorenses foram proibidos de comunicar-se em português. Hoje, milhares de
adolescentes desconhecem o vocabulário que pais e avós aprenderam na escola.
Esse desvio incomoda o presidente do Conselho Nacional da Resistência Timorense, Xanana
Gusmão. Prisioneiro político durante a dominação indonésia, Gusmão, ao visitar o Brasil em março, entusiasmou-se com um curso da
Universidade de Brasília (UnB) destinado a formar especialistas no ensino do português falado no Brasil para estrangeiros. Ele
encomendou um projeto para devolver a língua aos jovens - não com o sotaque dos colonizadores. Gusmão também acertou com a Fundação
Roberto Marinho a ajuda do Telecurso.
Um grupo de professores da UnB seguirá para Timor Leste até o fim do ano. "A demanda por
professores que ensinem o português do Brasil é alta, especialmente nos países do Mercosul", diz Enilde Faulstich, idealizadora do
curso e chefe do Departamento de Lingüística, Línguas Clássicas e Vernácula da UnB. Os alunos se habilitam também a lecionar para
índios brasileiros, deficientes auditivos, surdos-mudos e comunidades de estrangeiros residentes no Brasil. Com 97 alunos, a
primeira turma deverá formar-se em 2001. Até lá, terá visitado todos os países em que aulas de português figuram no currículo
escolar.
Além do acordo com Timor Leste, Enilde articula com o Itamaraty um programa para a
Comunidade dos Países de Língua Portuguesa. Em agosto, professores de Guiné Bissau, Angola, Moçambique, São Tomé e Príncipe e Cabo
Verde virão conhecer o curso.
Nesses países, o português é o idioma oficial. Na linguagem corrente, contudo, prevalecem o
crioulo e outros dialetos. Os mestres africanos querem montar um programa capaz de inverter a equação. E popularizar nas ruas o som
do Brasil.
(*) Redatora da sucursal de Brasília da revista
Época. Artigo publicado na edição de 12 de junho de 2000 dessa revista. |