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Última modificação em (mês/dia/ano/horário): 12/05/00 21:04:02

Movimento Nacional em Defesa
da Língua Portuguesa

NOSSO IDIOMA
Esperanto pós-moderno

Volnyr Santos (*)

A polêmica que vem, há algum tempo, fomentando a discussão em torno da língua portuguesa, no que se refere ao exacerbado uso dos estrangeirismos, é, no mínimo, análoga às velhas questões de que se alimenta a política brasileira.

Se é perturbador, sob o viés lingüístico, o papel desempenhando pelas expressões e termos estrangeiros, particularmente (mas não só!) do idioma inglês, na sua convivência com o português, também é exótico o fato de o presidente brasileiro, com o seu orgulhoso aparato lingüístico, usar, sem cerimônia, termos de proveniência estrangeira no seu speech. O problema toma relevo, quando a sociedade brasileira, através de seus órgãos legislativos (em Brasília, o deputado federal Aldo Rebelo; em Porto Alegre, a deputada estadual Jussara Cony), alerta para um problema que se faz presente no idioma, propondo uma regulamentação que coíba, discipline, enfim, que se crie uma lei no sentido da preservação de nossa portuguesa (e desprotegida?) língua.

Excluídos os sentimentos xenófobos (os franceses têm lá suas motivações), é preciso parar e pensar: qual a razão da invasão lingüística? O inglês, talvez fosse melhor dizer o esperanto pós-moderno, é o idioma de um país que exporta de tudo: televisão, música, cinema, tecnologia, hambúrgueres, modo de viver e, naturalmente, a própria língua.

Teoria à parte, sabemos que toda língua tem uma essência dinâmica.

Sem ser um sistema cristalizado, qualquer língua vive em estado de permanente mudança, num processo contínuo de reelaboração. Sabemos também (infelizmente) que a língua portuguesa carrega uma cultura dependente sob a perspectiva econômica e tecnológica; é natural, portanto, que se submeta a outras formas de expressão portadoras de realidades mais desenvolvidas.

Pensemos: se falar uma língua significa desenvolver atos variados que implicam a sua apropriação, já que é nela que se ordena e organiza a realidade - seja pela atuação sobre os outros, seja pela assunção de pontos de referência de caráter sociocultural - então é preciso reconsiderar a circunstância que envolve, hoje, o idioma português.

Com essa perspectiva, os projetos políticos que, atualmente, se acham em fase de elaboração, são a expressão de um momento raro em nossa cultura: espelhar-se na própria língua, num processo de reflexão, significa a conscientização de que é (também) através da língua que nos desenvolvemos culturalmente e é através dela que exercitamos, como cidadãos, a capacidade crítica de nos assumirmos como transformadores da vida individual e coletiva.

(*) Volnyr Santos é professor na Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS). Artigo publicado na coluna Opinião do jornal Zero Hora, de Porto Alegre, em 6 de junho de 2000.