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Movimento Nacional em Defesa
da Língua Portuguesa
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NOSSO
IDIOMA
Idioma e alfabetização
Jussara P. Simões (*)
Outro dia, li uma mensagem aqui (não estou conseguindo
encontrá-la agora) em que o missivista reclamava de ter pedido um alimento "diete" e não ter sido entendido, pois os
empregados do supermercado só entendem "dáiet". Acredito que um dos motivos desse fenômeno seja a mudança ocorrida no sistema
de alfabetização, somado ao sistema de promoção automática vigente em nossas escolas.
Antigamente o alfabetizando aprendia a soletrar. Sabia, portanto, que D+I = DI. No sistema
atual, os alfabetizandos aprendem a adivinhar as palavras, não sabem soletrar, quando se deparam com alguma palavra que ainda não
decoraram eles não sabem ler e passam a repeti-la conforme a ouviram de outrem.
Com o sistema antigo, quando nos deparávamos com uma palavra desconhecida, mesmo não sabendo
seu significado era possível pronunciá-la. Hoje, com esse sistema de adivinhação, as pessoas repetem o que ouvem, seja certo ou
errado. Como os veículos de comunicação dizem "dáiet" e o povo não sabe soletrar, a reação de estranhamento perante a
pronúncia "diete" é uma reação normal.
Promoção automática - As mudanças necessárias para se despertar o respeito pelo
idioma como símbolo de unidade nacional passam pelos métodos de alfabetização, que já não alfabetizam ninguém neste país. E não há
como provar que esses métodos fracassaram porque o sistema de ensino utiliza a abominável promoção automática. Todos passam de ano,
sabendo ou não. Pouquíssimos são os adolescentes que chegam ao segundo grau sabendo ler e escrever.
Pior, muito pior, que o analfabetismo total é o analfabetismo funcional, que acaba
facilitando o ingresso de pronúncias alienígenas sem questionamento. É preciso mudar esse sistema de alfabetização que, na verdade,
é um sistema de aNalfabetização.
As mudanças de significado ocorriam vagarosamente, no seio do povo. Os estrangeirismos
entram com sentido próprio e inequívoco, mas a mudança de palavras já existentes sempre foi um processo lento, que levava muitos
anos (ou décadas) para acontecer.
O que está acontecendo agora é uma imposição de cima para baixo que dificulta a compreensão
dos textos, cria uma Torre de Babel dentro do próprio país. A modificação dos sentidos das palavras não pode ocorrer por decreto,
como pretende a imprensa brasileira com amplo apoio dos faladores de "the book is on the table".
Não tenho mais nada a dizer sobre esse assunto.
Ontem (N.E.: 3/6/2000) peguei na TV Cultura o finzinho de uma entrevista com o Jorge Mautner,
que parabenizou o deputado Aldo Rebelo pela iniciativa de defesa da língua portuguesa. Tomara que mais pessoas famosas comecem a
pensar como ele.
(*) Jussara P.Simões
é tradutora em São Paulo e internauta, participante do fórum de
debates do MNDLP. |