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Última modificação em (mês/dia/ano/horário): 07/24/00 23:10:22

Movimento Nacional em Defesa
da Língua Portuguesa

NOSSO IDIOMA
Idioma e alfabetização

Jussara P. Simões (*)

Outro dia, li uma mensagem aqui (não estou conseguindo encontrá-la agora) em que o missivista reclamava de ter pedido um alimento "diete" e não ter sido entendido, pois os empregados do supermercado só entendem "dáiet". Acredito que um dos motivos desse fenômeno seja a mudança ocorrida no sistema de alfabetização, somado ao sistema de promoção automática vigente em nossas escolas.

Antigamente o alfabetizando aprendia a soletrar. Sabia, portanto, que D+I = DI. No sistema atual, os alfabetizandos aprendem a adivinhar as palavras, não sabem soletrar, quando se deparam com alguma palavra que ainda não decoraram eles não sabem ler e passam a repeti-la conforme a ouviram de outrem.

Com o sistema antigo, quando nos deparávamos com uma palavra desconhecida, mesmo não sabendo seu significado era possível pronunciá-la. Hoje, com esse sistema de adivinhação, as pessoas repetem o que ouvem, seja certo ou errado. Como os veículos de comunicação dizem "dáiet" e o povo não sabe soletrar, a reação de estranhamento perante a pronúncia "diete" é uma reação normal.

Promoção automática - As mudanças necessárias para se despertar o respeito pelo idioma como símbolo de unidade nacional passam pelos métodos de alfabetização, que já não alfabetizam ninguém neste país. E não há como provar que esses métodos fracassaram porque o sistema de ensino utiliza a abominável promoção automática. Todos passam de ano, sabendo ou não. Pouquíssimos são os adolescentes que chegam ao segundo grau sabendo ler e escrever.

Pior, muito pior, que o analfabetismo total é o analfabetismo funcional, que acaba facilitando o ingresso de pronúncias alienígenas sem questionamento. É preciso mudar esse sistema de alfabetização que, na verdade, é um sistema de aNalfabetização.

As mudanças de significado ocorriam vagarosamente, no seio do povo. Os estrangeirismos entram com sentido próprio e inequívoco, mas a mudança de palavras já existentes sempre foi um processo lento, que levava muitos anos (ou décadas) para acontecer.

O que está acontecendo agora é uma imposição de cima para baixo que dificulta a compreensão dos textos, cria uma Torre de Babel dentro do próprio país. A modificação dos sentidos das palavras não pode ocorrer por decreto, como pretende a imprensa brasileira com amplo apoio dos faladores de "the book is on the table".

Não tenho mais nada a dizer sobre esse assunto.

Ontem (N.E.: 3/6/2000) peguei na TV Cultura o finzinho de uma entrevista com o Jorge Mautner, que parabenizou o deputado Aldo Rebelo pela iniciativa de defesa da língua portuguesa. Tomara que mais pessoas famosas comecem a pensar como ele.

(*) Jussara P.Simões é tradutora em São Paulo e internauta, participante do fórum de debates do MNDLP.