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Movimento Nacional em Defesa
da Língua Portuguesa
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NOSSO
IDIOMA
"Última Flor do Lácio"
Murilo Badaró (*)
Acabo de receber o texto integral de um projeto apresentado à
Câmara dos Deputados pelo deputado Aldo Rabelo (PC do B), proibindo o uso de palavras estrangeiras em produtos, nos veículos de
comunicação e publicidade. Como é natural, a proposição vem proporcionando acesos debates e não menores manifestações de
solidariedade em favor de sua adoção, único meio de conter o avanço incontrolado de estrangeirismos, hoje tão abundantes em nossa
castigada língua. A história está cheia de exemplos de povos na Antigüidade que desapareceram à proporção em que a língua começou a
sofrer a dominação por outras mais pujantes. O declínio de Roma teve início quando o latim aurum começou a ser substituído
pelo latim castrense.
Se em tempos d antanho a invasão se processava lentamente, nos dias modernos o contato com
línguas estrangeiras pode levar à anulação desse elemento fundamental da comunicação humana. Se uma língua não é um ente morto, está
em permanente mutação para adaptar-se à vida do povo a que serve, não menos verdade é que
uma nação que não a cultiva, não a dissemina pura entre sua mocidade, condena-se a perder sua
identidade nacional e, não raro, torna-se presa de modernas formas de conquistas. O fenômeno vem há algum tempo, desde que os
tecnocratas começaram a aportuguesar um sem número de termos originários do inglês.
Com o advento da informática, a invasão evidenciou-se e tornou-se avassaladora. É óbvio que
não se impõe por decreto o uso ou o desuso de termos lingüísticos. Isso é possível com as regras da ortografia, estas também muito
abandonadas ultimamente.
Lamentavelmente, o desprezo pelo bom uso da língua é mais notável entre aqueles que, por dever
de ofício e posição, deveriam ser os primeiros a esmerar-se no seu trato. O mau exemplo prolifera e produz seus efeitos maléficos em
meio do povo, este mais susceptível de acolher os barbarismos e os solecismos que infestam a fala e a escrita dos nossos dias.
A defesa da língua não é uma manifestação de xenofobia. Ao revés, é um brado de alerta
contra essas deformações que vêm, sistematicamente, tornando impura e frágil a bela flor do Lácio de que falava Olavo Bilac. Com o
advento da informática e o aportuguesamento de sua terminologia, assiste-se a uma verdadeira invasão de bárbaros. Se na publicidade
e nas empresas de relações públicas o abuso não era de menor monta, como coffe-break, self-service, denominações
dominadas pelo anglicismo pedante, hoje em dia estamos diante de seriíssimos riscos de descaracterização de língua.
Urge, portanto, uma reação, que pode perfeitamente ter início com a aprovação do projeto em
andamento na Câmara dos Deputados, fazendo imperar novamente o bom senso, sob pena de estarmos lendo e ouvindo, diariamente, as
expressões estartar como sinônimo de iniciar, de deletar como apagar, de checar como conferir e tantas
outras idiotices que, pouco a pouco, vão se firmando como sintomas de grave deterioração de
nosso patrimônio lingüístico. Não se deseja mumificar a língua, cujas regras de ortografia, entretanto, padecem da necessidade de
ampla afirmação nacional.
Não cuidar dela significa escancarar ainda mais as portas à invasão dos estrangeirismos
descaracterizadores. É preciso dizer com todas as letras que esse uso indiscriminado de palavras estrangeiras nos veículos de
publicidade é a forma mais sofisticada de macaqueação. Uma grotesca imitação de palavras tão sonoras quanto vazias. É chegada a hora
da reação.
(*) Membro da Academia Mineira de Letras e presidente do
Centro de Pesquisa e Estudos Mineiros. Texto extraído do jornal Estado de Minas -
Opinião - 28/3/2000 |