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Movimento Nacional em Defesa
da Língua Portuguesa
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NOSSO
IDIOMA
Para inglês ver (ou ler)...
Fabíola Cidral (*)
Almoçar num fast-food, deletar alguém da lista
de telefones, ligar para um delivery, deixar o carro num car-wash, comprar um produto ligth, ler um caderno
teen, saborear um cheeseburguer... Sem perceber, palavras e expressões estrangeiras estão invadindo o nosso vocabulário e
a língua portuguesa vai enfraquecendo, assim como a cultura brasileira.
Foto: Tatiana Gondim/Jornal da Orla
Na tentativa de combater tal invasão, o deputado federal Aldo Rebelo (PC do B) apresentou um
projeto de lei, que prevê a aplicação de multas para pessoas físicas e jurídicas que usarem de forma desnecessária palavras ou
expressões estrangeiras. Caso a lei seja aprovada, os infratores podem pagar multas de até R$ 12 mil. “Um dos elementos mais
marcantes da nossa identidade nacional é o fato de termos um imenso território com uma só língua, independente do nível de instrução
e das peculiaridades regionais de fala e escrita. Esse autêntico milagre brasileiro está hoje seriamente ameaçado”, diz o deputado.
"A renovação e incorporação de palavras num idioma é um processo natural e enriquecedor, desde que
haja uma adaptação para a língua mãe", explica o escritor, professor e membro da Academia Santista de Letras, Nelson Salasar
Marques. Palavras como bonde, breque, cosmético, xampu, maquiagem, roleta e estresse são adaptações de outros idiomas, mas que foram
"aportuguesadas". É através deste processo que surge um idioma. Por exemplo: 45% de suas palavras da língua inglesa vieram do
francês.
O enfraquecimento da língua portuguesa, que Machado de Assis apreciava e escrevia como
ninguém, está ocorrendo porque muitas palavras estrangeiras não estão sendo adaptadas, mas usadas na sua forma original. No
dia-a-dia, tropeçamos com frases como "Monte o seu home-theater", "Você já fez um check-up?", "Vamos a um drive-in?".
Isso sem contar nos nomes das empresas, "Fulano Center", "Personal Bank", "Ciclano Car". As lojas anunciam:
"50% OFF", "Visite o show-room". E até o próprio Banco do Brasil divulga o serviço de personal banking com
muita naturalidade.
Prejudiciais - Expressões e palavras estrangeiras que poderiam ser traduzidas e
usadas no português:
Car-wash
delivery
self-service
hot-dog
50% off
home-theater
check-up
personal
play
teen
disk |
lava carro
entrega
serve-se sozinho
cachorro quente
50% de desconto - metade do preço
cinema em casa
checar tudo
personalizado
ligar
adolescente
ligue |
Enriquecedoras - Palavras estrangeiras que foram aportuguesadas:
Original
stress
maquillage
toilette
to break
to delete
cosmetic
shampoo
mousse
cream |
Adaptada
estresse
maquiagem
toalete
brecar
apagar
cosmético
xampu
musse
creme |
Foto: Tatiana Gondim/Jornal da Orla
De onde vem esta invasão?
Segundo o professor Nelson Salazar, a influência dos Estados
Unidos começou com a indústria cinematográfica de Hollywood, depois o rock and roll e agora a alta tecnologia, que nos obriga
a falar o idioma para entender aparelhos eletrônicos e, principalmente, o computador. "O Brasil é um país colonizado que se habituou
a seguir modelos", afirma Salasar. Segundo ele, os jovens estão condicionados e alienados com a televisão e as rádios FM.
Na opinião do escritor, esta influência cultural americana está fazendo com que o brasileiro
esqueça as suas origens. "O povo sem raízes fica perdido. Nos EUA e Europa, o patrimônio é conservado, como os bondes, castelos e
centros. Aqui, tudo é destruído. A reconstrução da memória da cultura brasileira é um processo lento, pois deixaram ir longe
demais", lamenta o escritor, que cresceu ouvindo músicas nacionais.
Polêmica - Enquanto alguns lutam para a língua materna permanecer, o lingüista
americano Steven Roger Fischer levantou outra polêmica. Em entrevista à revista Veja, ele afirmou que daqui a 300 anos não
haverá mais o português e sim o "portunhol" (mistura da língua portuguesa com a espanhola". Valorizando a transformação das línguas,
o especialista diz que isto acontecerá porque o Brasil está cercado de países que falam o espanhol. Segundo Fischer, este processo
vai acontecer em todo o mundo, diminuindo o número de idiomas de 6.000 para 1.000, em apenas 100 anos. "É o preço da globalização",
argumenta.
Professor de idiomas há mais de 35 anos, Nelson Salasar discorda da previsão do lingüista
americano, mas acredita na tendência da unificação. "Quem sabe daqui a uns mil anos não exista apenas um idioma em toda a terra",
arrisca Salasar.
E para os cars, centers, self-services atuais, o professor defende a
idéia da valorização do idioma brasileiro, mas discorda do projeto de lei do deputado Aldo Rebelo, que aplica multas para o uso de
palavras e expressões estrangeiras. "Deve haver uma conscientização da mídia, instituições de ensino, governo e, principalmente, da
população, para proteger a língua portuguesa e a cultura brasileira".
(*) Fabíola Cidral é jornalista do
Jornal da Orla, da Baixada Santista, que publicou esta matéria na edição de 9 de abril de
2000, com fotos de Tatiana Gondim. |