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Última modificação em (mês/dia/ano/horário): 07/28/00 21:18:56

Movimento Nacional em Defesa
da Língua Portuguesa

NOSSO IDIOMA
Para inglês ver (ou ler)...

Fabíola Cidral (*)

Almoçar num fast-food, deletar alguém da lista de telefones, ligar para um delivery, deixar o carro num car-wash, comprar um produto ligth, ler um caderno teen, saborear um cheeseburguer... Sem perceber, palavras e expressões estrangeiras estão invadindo o nosso vocabulário e a língua portuguesa vai enfraquecendo, assim como a cultura brasileira.

Foto: Tatiana Gondim/Jornal da Orla

Na tentativa de combater tal invasão, o deputado federal Aldo Rebelo (PC do B) apresentou um projeto de lei, que prevê a aplicação de multas para pessoas físicas e jurídicas que usarem de forma desnecessária palavras ou expressões estrangeiras. Caso a lei seja aprovada, os infratores podem pagar multas de até R$ 12 mil. “Um dos elementos mais marcantes da nossa identidade nacional é o fato de termos um imenso território com uma só língua, independente do nível de instrução e das peculiaridades regionais de fala e escrita. Esse autêntico milagre brasileiro está hoje seriamente ameaçado”, diz o deputado.

"A renovação e incorporação de palavras num idioma é um processo natural e enriquecedor, desde que haja uma adaptação para a língua mãe", explica o escritor, professor e membro da Academia Santista de Letras, Nelson Salasar Marques. Palavras como bonde, breque, cosmético, xampu, maquiagem, roleta e estresse são adaptações de outros idiomas, mas que foram "aportuguesadas". É através deste processo que surge um idioma. Por exemplo: 45% de suas palavras da língua inglesa vieram do francês.

O enfraquecimento da língua portuguesa, que Machado de Assis apreciava e escrevia como ninguém, está ocorrendo porque muitas palavras estrangeiras não estão sendo adaptadas, mas usadas na sua forma original. No dia-a-dia, tropeçamos com frases como "Monte o seu home-theater", "Você já fez um check-up?", "Vamos a um drive-in?". Isso sem contar nos nomes das empresas, "Fulano Center", "Personal Bank", "Ciclano Car". As lojas anunciam: "50% OFF", "Visite o show-room". E até o próprio Banco do Brasil divulga o serviço de personal banking com muita naturalidade.

Prejudiciais - Expressões e palavras estrangeiras que poderiam ser traduzidas e usadas no português:

Car-wash
delivery
self-service
hot-dog
50% off
home-theater
check-up
personal
play
teen
disk
lava carro
entrega
serve-se sozinho
cachorro quente
50% de desconto - metade do preço
cinema em casa
checar tudo
personalizado
ligar
adolescente
ligue

Enriquecedoras - Palavras estrangeiras que foram aportuguesadas:

Original
stress
maquillage
toilette
to break
to delete
cosmetic
shampoo
mousse
cream
Adaptada
estresse
maquiagem
toalete
brecar
apagar
cosmético
xampu
musse
creme

Foto: Tatiana Gondim/Jornal da Orla

De onde vem esta invasão?

Segundo o professor Nelson Salazar, a influência dos Estados Unidos começou com a indústria cinematográfica de Hollywood, depois o rock and roll e agora a alta tecnologia, que nos obriga a falar o idioma para entender aparelhos eletrônicos e, principalmente, o computador. "O Brasil é um país colonizado que se habituou a seguir modelos", afirma Salasar. Segundo ele, os jovens estão condicionados e alienados com a televisão e as rádios FM.

Na opinião do escritor, esta influência cultural americana está fazendo com que o brasileiro esqueça as suas origens. "O povo sem raízes fica perdido. Nos EUA e Europa, o patrimônio é conservado, como os bondes, castelos e centros. Aqui, tudo é destruído. A reconstrução da memória da cultura brasileira é um processo lento, pois deixaram ir longe demais", lamenta o escritor, que cresceu ouvindo músicas nacionais.

Polêmica - Enquanto alguns lutam para a língua materna permanecer, o lingüista americano Steven Roger Fischer levantou outra polêmica. Em entrevista à revista Veja, ele afirmou que daqui a 300 anos não haverá mais o português e sim o "portunhol" (mistura da língua portuguesa com a espanhola". Valorizando a transformação das línguas, o especialista diz que isto acontecerá porque o Brasil está cercado de países que falam o espanhol. Segundo Fischer, este processo vai acontecer em todo o mundo, diminuindo o número de idiomas de 6.000 para 1.000, em apenas 100 anos. "É o preço da globalização", argumenta.

Professor de idiomas há mais de 35 anos, Nelson Salasar discorda da previsão do lingüista americano, mas acredita na tendência da unificação. "Quem sabe daqui a uns mil anos não exista apenas um idioma em toda a terra", arrisca Salasar.

E para os cars, centers, self-services atuais, o professor defende a idéia da valorização do idioma brasileiro, mas discorda do projeto de lei do deputado Aldo Rebelo, que aplica multas para o uso de palavras e expressões estrangeiras. "Deve haver uma conscientização da mídia, instituições de ensino, governo e, principalmente, da população, para proteger a língua portuguesa e a cultura brasileira".

(*) Fabíola Cidral é jornalista do Jornal da Orla, da Baixada Santista, que publicou esta matéria na edição de 9 de abril de 2000, com fotos de Tatiana Gondim.