Curiosa origem do termo "grogue"
Contava o falecido pesquisador Olao Rodrigues (em seu Almanaque da Baixada Santista -
1976):
Falecera em uma hospedaria, repentinamente, o opulento capitalista
inglês Mr. Geo Richard Oldam Grimmel, que fazia uma viagem de recreio, com o seu primogênito Edward.
Baldados foram os esforços do desolado rapaz para obter o transporte
do seu finado pai, em câmara ardente, até o lugar da sua residência. Nenhuma embarcação a seguir viagem queria aceitar o
corpo.
Edward, rapaz de altos recursos, não teve maior problema para resolver
o caso. Arranjou grande tonel de aguardente de primeira qualidade, nele acomodou o corpo do finado genitor, despachando-o à
família a quem remeteu o conhecimento que rezava: "1 barril de álcool fino, marca GROG".
Logo depois de embarcado o volume, cujo expedidor pedira o máximo
cuidado, por ser artigo fino, um grumete quis certificar-se do conteúdo e, com uma verruma grossa, perfurou o tonel, de onde
vazou um líquido amarelado. Provou a bebida, achou-a magnífica e dentro em pouco toda a tripulação ia matar o bicho no
orifício feito pelo grumete.
Três dias não eram passados e já o pobre Lord Grimmel achava-se em
seco...
Chegada a embarcação ao ponto terminal, apareceu a bordo o segundo
filho do finado lorde, reclamando o corpo de seu pai.
"- Não!" - respondeu o capitão - "não conduzimos cadáveres. V. está
enganado, é em outra embarcação que deve procurá-lo".
O moço, que vestia luto pesado, em cujo traje era imitado por umas
cinqüenta pessoas que o acompanhavam, protestou, assegurando que não se enganava e mostrando ao capitão o seguinte telegrama
do irmão:
"Papai segue em álcool navio Kaguinche volume marca GROG.
Seguirei depois de arrecadar o que aqui deixou. Façam funerais."
Em vista de semelhante afirmativa, foi chamado o piloto e finalmente
toda a tripulação, que asseverava tratar-se não de um cadáver, mas de uma excelente bebida que tinha o nome de grog.
Trazido o volume para o tombadilho, com grande pasmo do consignatário
e parvo da tripulação, Mr. Grimmel estava... em seco.
Exceção feita ao comandante, todo o pessoal de bordo vomitava a um só
tempo, como se estivesse em alto mar!. E assim se inventou o famoso grog, das iniciais do finado lord GROG".
A cômica origem do "spam"
Etimologicamente, o termo spam surgiu em um programa de série inglesa de comédia
Monty Pyton, onde vikings desajeitados, num bar, pediram repetida e exageradamente o SPAM, marca de um presunto enlatado
americano.
Sua definição prática se refere ao envio abusivo de correio
eletrônico não solicitado em grande quantidade, distribuindo propaganda, correntes e esquemas de "ganhe dinheiro fácil". Às
mensagens enviadas pelo spammer (o autor do spam) nos referimos como "mensagens não solicitadas". Este não é o
termo próprio, pois é um contrasenso admitir-se que alguém precisa de uma autorização especial para nos enviar uma
correspondência. Mas, há um movimento na Internet que busca mecanismos para reduzir a níveis mínimos o volume de junk
e-mails (mensagens lixo) nas caixas postais eletrônicas. Nas páginas do
Antispam você encontra muitas dicas de como fazer para conseguir isto.
@
que não é arroba
ROBERTO MACEDO
A primeira vez que me deparei com o símbolo @ foi quando criança, nas aulas de Aritmética.
Fui então ensinado que significava uma arroba, ou 15 quilos. Depois, encontrei-me com ele em teclados de máquinas de escrever,
mas nunca cheguei a utilizá-lo como arroba, nem vi alguém fazendo isso, mesmo ao tratar de transações de bois ou de suínos, em
que essa unidade de medida é utilizada. Consultei um jornal que publica diariamente as cotações desses mercados e o símbolo
não estava lá. Tudo indica que, como arroba, @ é coisa de museu ou loja de antiguidades.
Recentemente, entretanto, o símbolo foi ressuscitado pelo mundo novo da Internet e do
correio eletrônico. Na sua leitura à brasileira, todavia, a ressurreição manteve seu nome antigo de arroba, que não é adequado
ao novo uso, ao contrário de seu significado em inglês, a língua em que surgiu esse novo mundo. Em inglês, originalmente o
símbolo @, usado em contas, significa "at; each" ou "a; cada". Por exemplo, "3 hot-dogs @ R$ 1,00" quer dizer "3
cachorros-quentes a R$ 1,00 cada". Ora, a preposição "at" também é indicativa de endereço.
Por exemplo, uma pessoa reside "at" (à ou na) rua tal. Assim, quando surgiu a necessidade de
um símbolo para indicar endereços eletrônicos em inglês, o @ foi adotado como "at" para essa finalidade e faz remeter o nome
do destinatário ao provedor do serviço, ou a um outro nome que conduz a este.
Entretanto, em português e aqui no Brasil - não sei como fizeram em Portugal - deu zebra, ou
melhor, arrobas em profusão, e as teremos muito mais agora que os provedores resolveram oferecer o serviço gratuitamente. Em
lugar de traduzir @, significando "at", por uma expressão correspondente, nossos pioneiros do novo uso do símbolo tomaram-no
como arroba, seu significado de antanho. Mas arroba não é preposição; é substantivo, e não significa nada em termos de
direção, espaço ou endereço.
Mas a bobagem, do peso de bovinos e suínos, está aí, consagrada, e continuamos a repeti-la.
Seu tamanho fica ainda maior quando se toma literalmente o significado do termo, pois o que estamos a dizer é "fulano(15
quilos)provedor.com". Eu peso bem mais que isso... De se temer, ainda, é que alguém, desavisado, e diante da necessidade de
passar por telefone seu "e-mail" para alguém que fale outra língua e num outro país, tente traduzir a coisa como arroba ou 15
quilos. A Embratel vai gostar do tempo que será gasto para as explicações...
Como já disse, a versão arroba já foi consagrada, mas vou sugerir aqui uma outra, numa
tentativa, talvez inútil, de reverter o mau uso corrente. Olhando bem o traçado do símbolo @, ele parece um "a"
contornado por um "c". Entendido dessa forma, o significado vem a calhar, pois combinando as duas letras temos "a/c", ou
"ao(s) cuidado(s) de". Esta é uma expressão que se refere à remessa de uma correspondência aos cuidados de um terceiro,
no caso o provedor. Passaríamos, então, a dizer: fulano(a/c)provedor.com.
Enfim, @ não é mais usado como arroba e virou algo que pode ser entendido como a/c,
com a pronúncia simples de "a cê". Que seja dado ao símbolo, na nossa língua, o seu novo e verdadeiro significado.
Publicado no jornal O Estado de São Paulo em
13/01/2000
http://www.estado.com.br/jornal/00/01/13/news034.html
Arrobas
de razões
ROBERTO MACEDO
Na semana passada, critiquei aqui a equivocada interpretação, no Brasil, do símbolo @
do mundo da Internet e dos endereços eletrônicos, como significando arroba, essa antiga medida de 15 quilos. Mostrei que
seu significado na língua inglesa, de onde veio, é "at" (a ou em). O símbolo, originalmente usado nos Estados Unidos e outros
países em listagens de preços e em contas (por exemplo, três abacaxis @R$ 1,00 = R$ 3,00), foi adaptado para indicar
localização ou endereço, já que "at" é uma preposição usada também nesse sentido, daí surgindo o usual fulano@servidor. Sugeri
que no Brasil passasse a ser entendido como "ao(s) cuidado(s) de...", ou simplesmente "a/c", o que, além de uma tradução mais
adequada, é também algo sugerido pelo próprio desenho do símbolo, que parece um "a" envolvido por um "c".
Sobre o artigo, recebi até agora dez mensagens, incluindo duas publicadas na página ao lado.
Vou dar uma de chato neste "chat" sobre o símbolo @ e insistir na idéia. Nove dos que escreveram foram favoráveis à sugestão.
Quem chiou deve ter seus boizinhos, e o protesto veio porque argumentei que, como arroba mesmo, não via o símbolo usado. Não o
encontrei onde procurei (Gazeta Mercantil). A atenta leitora Beatriz Galvão Nogueira, de Santa Rita do Passa Quatro,
por onde também passam os 15 da versão arroba, mostrou que eu estava equivocado, pois o próprio Estado utiliza @ ao
publicar cotações de bovinos e suínos. Antes da reprimenda da leitora, no próprio dia da publicação tive o castigo, pois
recebi a visita de um vendedor de contratos de boi para engorda, tentando emagrecer meu bolso com a proposta de assinar um
texto cheio de @, ainda que mais para enfeite.
De qualquer forma, andei checando outros jornais, e percebi que tomar a arroba como @ é mais
exceção do que regra. E, na reportagem, o próprio Estado também o abandona.
Assim, no dia 17 deste mês, a matéria Aumenta a diferença do custo na arroba do boi gordo
entre os Estados de MS e SP, do jornalista Eduardo Magossi, menciona arroba quatro vezes, sem utilizar o símbolo.
Mesmo com @ aqui ou ali, aferindo passagens de bovinos e suínos pela balança, o
relevante é que, hoje, o uso predominante é na Internet e nos seus endereços. É aí que precisa ser entendido, e não
confundido com a velha arroba. Vi também a notícia de que a Igreja Católica criou o "site" C@tólico. Ou seja, está ligada na
Internet, embora no símbolo só veja o "a".
E já há símbolos adaptados, com o "e" ou o "i" substituindo o "a", que espero não
sejam lidos como "erroba" ou "irroba". O primeiro cai bem como comércio eletrônico, em inglês ou português. O segundo foi
adotado por um banco, que aproveitou apenas o "i". Ou seja, o símbolo já tem também outras adaptações e interpretações
fora da balança, mas sempre com referência à Internet e seus endereços.
E não acho que os negócios da pecuária precisem dele. Segundo o Aurélio, arroba pode
ser abreviada simplesmente como "a", sem essa desmunhecada circular em volta da letra, um movimento que, gracioso, fica
menos mal para os internautas do que para o pessoal mais ligado a currais, açougues e rodeios.
Passando a alguns dos nove que ficaram a meu favor, o leitor Ilmar Mello de Carvalho
sugere simplesmente "em", como leitura de @. Se pegasse, não teria objeções, até porque meu problema é livrar-me dos 15
quilos.
Já outra leitora - não vou dar o nome porque isso talvez lhe custe o pagamento de uma
ligação internacional a seu empregador - confirmou o que havia previsto, ou seja, ganhos para a Embratel nas chamadas
internacionais, com gente perdendo tempo e dinheiro ao traduzir arroba literalmente para interlocutores de outros
países, neste caso em inglês.
Ela percebeu logo o imbróglio em que estava se metendo, desligou o telefone e refez a
ligação depois de consultar várias pessoas até descobrir alguém que sabia do "at". A propósito, aqui vai uma sugestão para o
jornal: publicar a tradução, em várias línguas, do símbolo @. Tem muita gente que conhece uma língua estrangeira, mas ainda
ignora o detalhe de como o símbolo é lido. Pelo que soube, Portugal, de onde herdamos a arroba há 500 anos, também optou pelo
equívoco de tradução.
Houve também a mensagem de gente que não escreveu, mas ponderou: você tem razão, mas
chegou tarde; a leitura como arroba já pegou, e vai ser muito difícil corrigi-la. De fato, não fui dos pioneiros. Só há
uns quatro anos estou ligado à Internet. E só mais recentemente, também ao dar meu endereço eletrônico em inglês, é que caiu a
ficha, ou melhor, a arroba, esse peso que incomoda na tradução da linguagem da Internet para o nosso idioma e na versão deste
para os demais.
Publicado no jornal O Estado de São Paulo em
20/01/2000
http://www.estado.com.br/jornal/00/01/20/news034.html
Falamos o mesmo português de Portugal?
Esta nossa língua portuguesa anda, a cada dia, a nos revelar surpresas e novidades quando
passamos pelas diversas regiões do Brasil. São palavras novas, ou então significados novos para as mesmas palavras. E, mesmo
achando estranho tantas mudanças que acontecem entre nós, imaginem um papo com um português em Lisboa. Será mesmo que é mesma
língua? Claro que sim, pois o português falado além-mar tem também as suas singularidades. E uma delas são os significados
diferentes para as mesmas palavras que fazem parte do nosso vocabulário. Abaixo, transcrevemos apenas alguns destes exemplos:
PORTUGAL |
BRASIL |
Auto-carro |
Ônibus |
Água lisa |
Água sem gás |
Batido |
Milk-shake |
Bicha |
Fila |
Capachinho |
Peruca |
Cerveja de Pressão |
Chopinho |
Durex |
Camisinha |
Esparregado |
Creme de Legumes |
Ementa |
Cardápio |
Fita-cola |
Durex |
Galão |
Média (café com
leite) |
Parrado |
À milanesa |
Pastilha Elástica |
Chicletes |
Penso rápido |
Band-aid |
Rebaixa |
Liquidação |
Sandes |
Sanduíche |
Tosta |
Torrada |
Tira-cápsulas |
Abridor de garrafas |
Vazia |
Carne de boi
(contrafilé) |
Extraído do Jornal do Síndico nº. 62 (Santos/SP) - fevereiro/2000 -
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