Idiomas
União Européia busca respeitar línguas regionais
Lingüistas alertam para risco de algumas estarem destinadas a
desaparecer, apesar da grande luta pela sobrevivência
Janet McEvoy
De Bruxelas
Um em cada sete habitantes da União
Européia (UE) se expressa em uma das 41 línguas regionais. Cinqüenta milhões de pessoas falam línguas pouco difundidas.
Mas os lingüistas da UE dizem que essas línguas poderiam estar
destinadas a desaparecer. Inclusive algumas maiores, como o francês, estão lutando pela própria sobrevivência frente à difusão
massiva do inglês através dos computadores.
O Escritório Europeu de Línguas Regionais, organização sem fins
lucrativos dedicada à salvação de Babel, prefere não ser tão pessimista. "A maioria das línguas se encontra em situação de
debilidade, mas (sua extinção) não é inevitável", afirmou Christian Demeure-Valle. Este funcionário nota que teve que
aprender a própria língua, o bretão, em uma escola noturna, porque ela não era ensinada no sistema escolar oficial francês.
Rodeado por uma biblioteca de livros e folhetos sobre as línguas
regionais alemãs, como o North Frisian e o Sater Frisian, ele acha que conforme a UE amadurecer, as fronteiras nacionais se
dissolverão. Ele também acredita que as diversas regiões da UE florescerão. Como resultado, as pessoas manterão a confiança nas
próprias línguas e recuperarão a auto-estima.
"Os idiomas chegaram a se tornar uma coisa muito atrativa", disse,
explicando que as pessoas viajam mais e que as empresas buscam adaptar seus produtos e serviços às necessidades locais.
"Inclusive a cadeia norte-americana McDonalds, o estandarte da uniformização no mundo, difunde seus produtos no idioma basco",
afirmou.
Alguns funcionários explicam que o uso das línguas regionais pode
ser explicado de muitas maneiras. Em alguns casos, o idioma oficial majoritário de um determinado país, como a Suécia, por
exemplo, pode ser uma língua minoritária em outro, como a Finlândia.
Em outros casos, como o do idioma basco, a língua divide seus
falantes em dois países diferentes, enquanto outras, como o welsh, são faladas apenas em uma região em particular. Em
compensação, línguas como o romani (dos ciganos romenos e húngaros) e o ídiche (dos judeus alemães) são faladas em todo o globo.
Línguas marginais - O que todas têm em comum é que são
línguas marginais, e em alguns casos, estão lutando pela sobrevivência.
Animados por uma decisão do Conselho da União Européia que
estabelece a diversidade lingüística como direito fundamental, o Escritório Europeu de Línguas Regionais está pressionando para
obter maior ajuda financeira, legal e moral.
Essa entidade está promovendo enfatizar a diversidade lingüística
e cultural, tratando de assegurar um plano de financiamento a longo prazo, depois que a França e a Grécia cortaram este ano
(N.E.: 1997) a ajuda econômica.
A organização acha irônico que dois países que se encontram em
plena luta pela sobrevivência de seus respectivos idiomas sejam incapazes de proporcionar ajuda quando se trata de línguas
regionais minoritárias. "Eles lutam pela sobrevivência de suas próprias línguas nacionais no mundo, mas não há um tom hipócrita.
A França defende fora o que é incapaz de defender dentro das próprias fronteiras", declarou Myrian Alkain, chefe da entidade.
A França tem oito línguas regionais, faladas na vida cotidiana.
Entre elas estão o alsaciano, o basco, o catalão, o bretão, o corso e o flamenco.
A entidade lingüística denunciou que seus representantes na
Grécia, país onde se falam seis línguas regionais, foram interrogados pela polícia por 24 horas.
Intenso conflito - Na Bélgica, onde existe intenso conflito
entre as comunidades lingüísticas flamengas e francesas, a situação é diferente. As cinco línguas oficiais gozam do
reconhecimento oficial.
A organização lingüística da UE crê que a extinção de alguns dos
mais velhos e mais ricos idiomas do mundo seria desastrosa. "A democracia supõe o respeito por uma sociedade multicultural que
respeita as minorias, o que é oposto ao nacionalismo, monolingüístico por natureza", contou Demeure-Vallee.
"A democracia se fortalece enquanto se respeitam os direitos
humanos das minorias. E quando esses direitos são violados, ocorrem problemas como na Iugoslávia", opinou Alkain.
"Também é uma questão de conhecimento e cultura, além da perda de
potencial em termos de imaginação e criatividade", disse Demeure-Vallee.
Mas muitos se perguntam se o uso mundial do inglês na Internet
poderia fazer desaparecer as línguas regionais.
A mesma organização responde com um endereço eletrônico na rede
mundial de computadores: http://www.smo.uhi.ac.uk/saoghal/mion-chanain.
Esse endereço é a página eletrônica do idioma galês.
Desafiando o que parece ser um mundo de computadores
inevitavelmente dominados pelo inglês, as línguas regionais estão usando na luta pela sobrevivência as mesmas armas: criar sites
Web, para garantir a própria chegada ao século 21. (AE-Reuters) |