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Movimento Nacional em Defesa
da Língua Portuguesa

NOSSO IDIOMA
União Européia e as línguas regionais

Este artigo foi publicado no jornal santista A Tribuna em 30 de março de 1997:

Idiomas
União Européia busca respeitar línguas regionais

Lingüistas alertam para risco de algumas estarem destinadas a desaparecer, apesar da grande luta pela sobrevivência

Janet McEvoy
De Bruxelas

Um em cada sete habitantes da União Européia (UE) se expressa em uma das 41 línguas regionais. Cinqüenta milhões de pessoas falam línguas pouco difundidas.

Mas os lingüistas da UE dizem que essas línguas poderiam estar destinadas a desaparecer. Inclusive algumas maiores, como o francês, estão lutando pela própria sobrevivência frente à difusão massiva do inglês através dos computadores.

O Escritório Europeu de Línguas Regionais, organização sem fins lucrativos dedicada à salvação de Babel, prefere não ser tão pessimista. "A maioria das línguas se encontra em situação de debilidade, mas  (sua extinção) não é inevitável", afirmou Christian Demeure-Valle. Este funcionário nota que teve que aprender a própria língua, o bretão, em uma escola noturna, porque ela não era ensinada no sistema escolar oficial francês.

Rodeado por uma biblioteca de livros e folhetos sobre as línguas regionais alemãs, como o North Frisian e o Sater Frisian, ele acha que conforme a UE amadurecer, as fronteiras nacionais se dissolverão. Ele também acredita que as diversas regiões da UE florescerão. Como resultado, as pessoas manterão a confiança nas próprias línguas e recuperarão a auto-estima.

"Os idiomas chegaram a se tornar uma coisa muito atrativa", disse, explicando que as pessoas viajam mais e que as empresas buscam adaptar seus produtos e serviços às necessidades locais. "Inclusive a cadeia norte-americana McDonalds, o estandarte da uniformização no mundo, difunde seus produtos no idioma basco", afirmou.

Alguns funcionários explicam que o uso das línguas regionais pode ser explicado de muitas maneiras. Em alguns casos, o idioma oficial majoritário de um determinado país, como a Suécia, por exemplo, pode ser uma língua minoritária em outro, como a Finlândia.

Em outros casos, como o do idioma basco, a língua divide seus falantes em dois países diferentes, enquanto outras, como o welsh, são faladas apenas em uma região em particular. Em compensação, línguas como o romani (dos ciganos romenos e húngaros) e o ídiche (dos judeus alemães) são faladas em todo o globo.

Línguas marginais - O que todas têm em comum é que são línguas marginais, e em alguns casos, estão lutando pela sobrevivência.

Animados por uma decisão do Conselho da União Européia que estabelece a diversidade lingüística como direito fundamental, o Escritório Europeu de Línguas Regionais está pressionando para obter maior ajuda financeira, legal e moral.

Essa entidade está promovendo enfatizar a diversidade lingüística e cultural, tratando de assegurar um plano de financiamento a longo prazo, depois que a França e a Grécia cortaram este ano (N.E.: 1997) a ajuda econômica.

A organização acha irônico que dois países que se encontram em plena luta pela sobrevivência de seus respectivos idiomas sejam incapazes de proporcionar ajuda quando se trata de línguas regionais minoritárias. "Eles lutam pela sobrevivência de suas próprias línguas nacionais no mundo, mas não há um tom hipócrita. A França defende fora o que é incapaz de defender dentro das próprias fronteiras", declarou Myrian Alkain, chefe da entidade.

A França tem oito línguas regionais, faladas na vida cotidiana. Entre elas estão o alsaciano, o basco, o catalão, o bretão, o corso e o flamenco.

A entidade lingüística denunciou que seus representantes na Grécia, país onde se falam seis línguas regionais, foram interrogados pela polícia por 24 horas.

Intenso conflito - Na Bélgica, onde existe intenso conflito entre as comunidades lingüísticas flamengas e francesas, a situação é diferente. As cinco línguas oficiais gozam do reconhecimento oficial.

A organização lingüística da UE crê que a extinção de alguns dos mais velhos e mais ricos idiomas do mundo seria desastrosa. "A democracia supõe o respeito por uma sociedade multicultural que respeita as minorias, o que é oposto ao nacionalismo, monolingüístico por natureza", contou Demeure-Vallee.

"A democracia se fortalece enquanto se respeitam os direitos humanos das minorias. E quando esses direitos são violados, ocorrem problemas como na Iugoslávia", opinou Alkain.

"Também é uma questão de conhecimento e cultura, além da perda de potencial em termos de imaginação e criatividade", disse Demeure-Vallee.

Mas muitos se perguntam se o uso mundial do inglês na Internet poderia fazer desaparecer as línguas regionais.

A mesma organização responde com um endereço eletrônico na rede mundial de computadores: http://www.smo.uhi.ac.uk/saoghal/mion-chanain. Esse endereço é a página eletrônica do idioma galês.

Desafiando o que parece ser um mundo de computadores inevitavelmente dominados pelo inglês, as línguas regionais estão usando na luta pela sobrevivência as mesmas armas: criar sites Web, para garantir a própria chegada ao século 21. (AE-Reuters)