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Movimento Nacional em Defesa
da Língua Portuguesa
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NOSSO IDIOMA
Empresários quebram monopólio da língua
Moda é misturar no discurso termos em inglês incompreensíveis à população
Costabile Nicoletta (*)
Os empresários brasileiros decidiram quebrar o monopólio da
língua portuguesa. Em seus pronunciamentos públicos, sobretudo à imprensa, costumam mesclar a seus escorregões no vernáculo um
turbilhão de termos em inglês muitas vezes incompreensíveis à população, nela incluídos jornalistas incumbidos de transcrever tais
declarações para uma linguagem acessível. A expressão em voga no momento é stop and go (pára e depois continua), usada para
definir o vaivém das medidas econômicas do governo, ora incentivando o aquecimento das vendas, ora tentando conter o consumo. O
stop and go tem uma variante, o up and down (sobe e desce), usada com mais parcimônia.
Outra pérola importada da língua inglesa - e muito comum sobretudo entre executivos do
mercado financeiro - é expertise (habilidade), empregada para identificar áreas de especialização de determinados bancos. É o
que se poderia classificar de termo up to date (atual) no setor, que de tempos em tempos precisa desse tipo de up
grade (atualização), com a devida vênia dos profissionais de informática.
Quando querem protestar contra a valorização da moeda brasileira diante da norte-americana,
os empresários costumam recorrer ao gap (intervalo), para mostrar que o câmbio está desatualizado em relação a seus custos.
Ao constituir uma sociedade com outra empresa, o recurso lingüístico que melhor exprime a
parceria é a joint venture. Ao fazer suas ilações acerca do desempenho do setor em que atuam, lançam mão de um poderoso
indicador chamado feeling (faro, tato), pois o mercado não dispõe de estatísticas seguras quanto a determinados números. O
mesmo vale para o market share (participação de mercado) ou para a definição do mix (conjunto de itens) de produção.
Se o market share cresce significativamente, é possível que os planos de uma nova
fábrica possam sair definitivamente da gaveta. Agora, o start up (início de operações) da fábrica dependerá dos rumos do
Plano Real, do cash flow (fluxo de caixa) e do break-even point (ponto de equilíbrio) da nova operação - tudo
devidamente registrado num folder (folheto) e desde que haja funding (financiamento) suficiente e um competente
follow-up (acompanhamento) das etapas.
Mas, se a empresa não vai bem das pernas, é normal que seu turnover (rotatividade da
mão-de-obra) seja grande. Talvez essa companhia necessite de um downsizing (diminuição de tamanho). Se for bem sucedida nessa
empreitada, pode servir de case (exemplo) para outras. Se não, será candidata ao management buy out (os executivos
assumirem o controle da empresa). É difícil, porém, que isso aconteça com as chamadas top (topo) de linha. Mas o termo
que resume melhor a xenomania desses empresários brasileiros é o global sourcing (fornecimento global), com o qual pretendem
derrubar todas as barreiras dos seus business (negócios).
The end.
(*) Costabile Nicoletta é editor de Economia do jornal
O Estado de S.Paulo. Artigo publicado no Caderno de Economia de 25/6/1995, página
B-13. |