FEBEANET O maior dos roubos
Nestes
doze meses de 2005, a marginalidade foi o grande tema no Brasil. Ilegal
ou apenas imoral, reinou de janeiro a dezembro. É o absurdo de o
preço dos componentes de um automóvel, vendidos separadamente,
custarem três ou mais vezes que o valor do mesmo carro vendido pela
montadora. É o desvio ferroviário, aqui entendido não
como uma mudança de curso, mas como o puro e simples roubo dos trilhos.
É a forma como foi realizado o maior roubo a banco no Brasil, e
segundo maior da história mundial. E tantos outros poderiam ser
citados.
Porém, o maior dos roubos,
e o maior dos absurdos também, é que dirigentes do Partido
dos Trabalhadores - que sempre teve como bandeira de campanha a moralização
da política - fossem denunciados como os maiores ladrões
de recursos públicos, numa seqüência fabulosa de ações
de lavagem de dinheiro.
Durante o ano inteiro, comissões
parlamentares de inquérito apuraram (digamos assim) as culpas de
dirigentes do PT em situações de malversação
de dinheiro de campanha eleitoral, movimentação ilegal de
recursos inclusive com o uso de paraísos fiscais, corrupção
ativa e passiva, subornos, abuso de poder, tráfico de influências,
e tantas outras que não caberiam neste espaço. A televisão
transmitiu ao vivo o espetáculo-realidade da suja política
nacional, e conseguiu até maior audiência do que com suas
produções fictícias.
Deputados e senadores, muitos com
a cara-de-pau de usar o tempo das perguntas aos depoentes para promoção
eleitoral própria, passaram semanas seguidas aproveitando seus minutos
de fama, num jogo sujo em que só se apurava o que se desejava apurar.
Ladrões confessos continuaram sendo tratados com a deferência
devida a pessoas de ilibada conduta: "Nobre deputado", "Excelentíssimo
Doutor" etc. E, sem ao menos corar, ou então com as tais "lágrimas
de crocodilo", confessaram crimes enormes de lesa-pátria, ainda
assim para esconder crimes ainda maiores que trataram de esconder.
Terminado o ano, uns poucos tiveram
seus mandatos cassados, alguns ocupantes de cargos de confiança
foram destituídos para a colocação de outros (não
pelos crimes cometidos, mas apenas para obedecer ao rearranjo de forças
políticas causado pelas denúncias). Evidências importantes
ficaram de lado, como no assassinato do prefeito Celso Daniel, abafadas
porque apontavam como mandantes do crime figuras dos mais altos níveis
hierárquicos da República. Dinheiro continuou correndo, agora
para subornar quem pudesse falar e com sua fala transportar o escândalo
para o próprio nível da Presidência da República.
Tudo o que poderia ser dito, na verdade,
já o foi. Faltou dizer apenas que esse foi o maior dos roubos que
uma nação poderia sofrer: roubaram um ano inteiro de trabalho
da nação, paralisando as atividades de Executivo e Legislativo
(o Judiciário apenas continuou paralisado como sempre). Roubaram
a esperança de um povo, que votara no PT justamente para acabar
com a bandalheira que todos sabem existir nos altos níveis do Governo
Federal.
E aposta-se no próprio esquecimento
de tudo causado pelo passar do tempo. Tanto que o PT, sem ao menos ter
feito a higienização de suas estruturas, já estuda
formas de promover a reeleição do presidente Lula - aquele
que de nada sabia do que acontecia sob seu nariz (ingênuo ou incompetente?
- a grande pergunta). O PSol, agregando os políticos que se afastaram
do PT, mas mantendo essencialmente as mesmas estruturas que permitiram
toda essa corrupção, também tenta capturar as esperanças
populares perdidas. Os demais partidos, a população já
havia rejeitado, pois sempre fizeram parte do sistema corrupto que se queria
extingüir quando da eleição de um dirigente sindical
esquerdista para o cargo máximo do Executivo nacional.
Nem mesmo a famosa Velhinha de Taubaté
- aquela personagem (do escritor gaúcho Luís Fernandes Veríssimo)
que residia numa tradicional cidade do interior paulista e sempre acreditava
nas declarações dos governantes -, nem ela resistiu. Morreu
vendo o noticiário da televisão, encerrando uma era em que
pelo menos uma pessoa no Brasil conseguia acreditar numa declaração
oficial.
Pronunciamento
do presidente Lula em 30 de abril de 2005 (21h03), em rede
nacional de rádio e televisão, alusivo ao Dia do Trabalho
Em todo o ano, foi de tal ordem a
sucessão de besteiras ditas e cometidas ou reveladas, que nem mesmo
a sucessão de erros do presidente norte-americano George W. Bush
na condução da política interna e externa dos EUA
consegue ser maior. Esta história fecha portanto a edição
2005 deste Festival de Besteiras que Assola a Internet (Febeanet),
sem mais comentários, desnecessários que são...
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