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Última modificação em (mês/dia/ano/horário): 01/25/03 11:34:18
I-DÉIAS
Um presente da natureza...

Em 1854, o presidente dos Estados Unidos da América, Ulysses Grant, queria trocar grande área de terra ocupada pelos índios no Oeste do país pela formação de uma reserva indígena. Recebeu do cacique Seattle esta resposta, que é considerada uma verdadeira lição de vida e uma das mais belas declarações de amor à natureza e de compreensão do relacionamento harmônico que a Humanidade deve manter com o meio-ambiente, e que - cerca de 150 anos depois -, circula periodicamente pelas listas de mensagens da Internet:
 

O presidente informa que deseja comprar nossas terras. Mas como é possível comprar ou vender o céu, a tepidez do chão? Essa idéia não faz sentido para nós. Se o frescor do ar e a limpidez da água não nos pertencem, como poderemos vendê-los? Qualquer pedaço desta terra é sagrado para meu povo. Cada galho brilhante do pinheiro, toda a praia de areia, a neblina dos bosques ao escurecer, cada clareira da floresta e cada inseto que zune são sagrados na memória e na experiência do meu povo.

O córrego que procura seu caminho entre as árvores carrega consigo lembranças de nossos antepassados. Os mortos do homem branco, quando vão caminhar entre as estrelas, esquecem a terra de seu nascimento. Nossos mortos nunca esquecem esta bela terra, pois ela é a mãe do homem vermelho. Somos parte da terra e ela faz parte de nós. As flores são nossas irmãs; os veados, os cavalos, a águia gigante, são nossos irmãos; os picos rochosos, a fragrância dos bosques, o calor do corpo do cavalo e o homem pertencem todos à mesma família.

Assim, quando o grande chefe branco manda dizer que deseja comprar nossas terras, ele está pedindo muito de nós. Ele manda dizer que nos reservará um sítio, onde poderemos viver confortavelmente por nós mesmos. Diz também que será nosso pai, e nós seremos seus filhos. Se assim é, vamos considerar a sua proposta sobre a compra de nossa terra. Mas não será fácil, pois esta terra é sagrada para nós.

Esta água límpida, correndo em curvas nos córregos e rios, não é simplesmente água, mas o sangue de nossos antepassados. Se vendermos a terra ao homem branco, ele deverá lembrar que ela é sagrada, e ensinar às crianças que ela é sagrada.

Qualquer reflexo sobre a superfície dos lagos evoca memórias da vida de nosso povo. O murmúrio das água é a voz de nossos ancestrais. Os rios, nossos irmãos, nos saciam a sede, transportam nossas canoas e alimentam nossos filhos. Se comprar nossas terras, o homem branco deve dispensar aos rios a mesma afeição que dedicaria a qualquer irmão.

Sabemos que o homem branco não entende nosso modo de ser. Para ele, um pedaço de terra não se distingue de qualquer outro, pois ele é como um estrangeiro que vem durante a noite para roubar tudo de que precisa. A terra não é sua irmã, mas sua inimiga. Depois que a submete, que a conquista, ele vai embora à procura de outro lugar. Deixa para trás a sepultura de seus pais, e rouba a herança de seus filhos. Seu apetite vai exaurir a terra, deixando atrás de si apenas desertos.

Isso eu não compreendo. Nossos costumes são diferentes, e a visão de vossas cidades é dolorosa para os nossos olhos. Talvez porque o homem vermelho seja selvagem, e não possa compreender.

Nas terras do homem branco, não há um só lugar onde se possa ouvir os sons da primavera, ou o bater das asas de um inseto. Os ruídos das cidades são sempre um insulto aos ouvidos. E que vida é essa, onde o homem não pode ouvir o pio solitário da coruja ou o coaxar as rãs às margens dos charcos, à noite? O índio gosta de ouvir o sussurrar do vento na superfície das águas, sentir o perfume da brisa purificada pela chuva do meio-dia e perfumada pelos pinheiros.

O ar é precioso para o índio, pois dele todos se alimentam. Animais, árvores e homem, todos respiram o mesmo sopro. Mas o homem branco parece não se importar com o ar que respira. Como um cadáver em decomposição, ele é insensível ao mau cheiro. Se vendermos nossa terra ao homem branco, ele deve lembrar-se que o ar é precioso para nós, e insufla seu espírito em todas as coisas que dele vivem. O ar que deu a nossos antepassados seu primeiro respirar, foi o mesmo que recebeu o seu último suspiro. A terra deve ser conservada como um lugar em que mesmo o homem branco possa sorver a brisa aromatizada pelas flores dos campos.

Se decidirmos aceitar a compra de nossas terras pelo homem branco, vamos impor uma condição: os animais que aqui vivem devem ser tratados como seus irmãos.

Tenho visto milhares de búfalos apodrecendo nas pradarias, deixados pelo caçador, que neles atirou de um trem em movimento. Sou um selvagem, e não compreendo como o fumegante cavalo de ferro possa ser mais importante que o búfalo, que caçamos apenas para nos mantermos vivos.

Que é o homem sem os animais?

Se todos os animais desaparecessem, o homem morreria de solidão espiritual. Porque tudo que acontece aos animais pode afetar os homens. Todas as coisas estão relacionadas. Existe uma ligação em tudo.

O homem branco deve ensinar a suas crianças que o solo a seus pés é a cinza de nossos avós. Para que respeitem a terra, precisam saber que a terra foi enriquecida com as vidas de nossos antepassados, e com as vidas de seres de todas as espécies. A terra é nossa mãe, e o que acontecer à terra, acontecerá também a seus filhos. Não é a terra que pertence ao homem, mas o homem que pertence à terra.

Sabemos que todas as coisas estão relacionadas, como o sangue que une uma família. Não foi o homem que fez o tecido da vida, ele é apenas um de seus fios. O que quer que faça a essa teia, faz a si próprio.

Mesmo o homem branco, a quem Deus acompanha, e com quem conversa como amigo, não pode fugir a esse destino comum. Talvez, apesar de tudo, sejamos todos irmãos. Isso nós veremos um dia. Mas de uma coisa estamos certos: nosso Deus é o mesmo Deus. O homem branco pode pensar que O possui, como deseja também possuir a terra. Mas isso é impossível. Ofender à terra é ofender ao seu Criador.