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HUMOR
Use a imaginação!

Nem sempre 2+2=4 (pode ser 22...). Uma das principais diferenças entre o ser humano e o computador é a capacidade de usar outros recursos para a solução de problemas além do cálculo puro e simples (veja comentário no rodapé desta página). Um bem-humorado exemplo disso é contado nesta história que vem circulando há algum tempo nas listas de mensagens eletrônicas, e chegou assim a Novo Milênio, enviada pelo internauta Sérgio/Sean, na lista A Amaresia, em 25/7/2001:

Quebrar Paradigmas

De Waldemar Setzer, professor aposentando da USP

Há algum tempo recebi um convite de um colega para servir de árbitro na revisão de uma prova. Tratava-se de avaliar uma questão de Física que recebera nota zero. O aluno contestava tal conceito, alegando que merecia nota máxima pela resposta, a não ser que houvesse uma "conspiração do sistema" contra ele. Professor e aluno concordaram em submeter o problema a um juiz imparcial, e eu fui o escolhido. Chegando à sala de meu colega, li a questão da prova, que dizia: 

"Mostre como pode-se determinar a altura de um edifício bem alto com o auxílio de um barômetro." A resposta do estudante foi a seguinte: "Leve o barômetro ao alto do edifício e amarre uma corda nele; baixe o barômetro até a calçada e em seguida levante, medindo o comprimento da corda; este comprimento será igual à altura do edifício." Sem dúvida era uma resposta interessante, e de alguma forma correta, pois satisfazia o enunciado. Por instantes vacilei quanto ao veredicto.

Recompondo-me rapidamente, disse ao estudante que ele tinha forte razão para ter nota máxima, já que havia respondido a questão completa e corretamente. Entretanto, se ele tirasse nota máxima, estaria caracterizada uma aprovação em um curso de física, mas a resposta não confirmava isso.

Sugeri então que fizesse uma outra tentativa para responder a questão. Não me surpreendi quando meu colega concordou, mas sim quando o estudante resolveu encarar aquilo que eu imaginei lhe seria um bom desafio.

Segundo o acordo, ele teria seis minutos para responder à questão, isto após ter sido prevenido de que sua resposta deveria mostrar, necessariamente, algum conhecimento de física.

Passados cinco minutos, ele não havia escrito nada, apenas olhava pensativamente para o forro da sala. Perguntei-lhe então se desejava desistir, pois eu tinha um compromisso logo em seguida, e não tinha tempo a perder. Mais surpreso ainda fiquei quando o estudante anunciou que não havia desistido. Na realidade tinha muitas respostas, e estava justamente escolhendo a melhor. Desculpei-me pela interrupção e solicitei que continuasse.

No momento seguinte ele escreveu esta resposta:

"Vá ao alto do edifico, incline-se numa ponta do telhado e solte o barômetro, medindo o tempo t de queda desde a largada até o toque com o solo. Depois, empregando a fórmula h = (1/2)gt^2 , calcule a altura do edifício."

Perguntei então ao meu colega se ele estava satisfeito com a nova resposta, e se concordava com a minha disposição em conferir praticamente a nota máxima à prova. Concordou, embora sentisse nele uma expressão de descontentamento, talvez inconformismo. Ao sair da sala lembrei-me que o estudante havia dito ter outras respostas para o problema.

Embora já sem tempo, não resisti à curiosidade e perguntei-lhe quais eram essas respostas.

"Ah, sim!" - disse ele -  "há muitas maneiras de se achar a altura de um edifício com a ajuda de um barômetro." Perante a minha curiosidade e a já perplexidade de meu colega, o estudante desfilou as seguintes explicações.

"Por exemplo, num belo dia de sol pode-se medir a altura do barômetro e o comprimento de sua sombra projetada no solo, bem como a do edifício". Depois, usando-se uma simples regra de três, determina-se à altura do edifício.

"Um outro método básico de medida, aliás bastante simples e direto, é subir as escadas do edifício fazendo marcas na parede, espaçadas da altura do barômetro.

Contando o número de marcas ter-se-á a altura do edifício em unidades barométricas". Um método mais complexo seria amarrar o barômetro na ponta de uma corda e balançá-lo como um pêndulo, o que permite a determinação da aceleração da gravidade (g). Repetindo a operação ao nível da rua e no topo do edifício, tem-se dois g's, e a altura do edifício pode, a princípio, ser calculada com base nessa diferença.

"Finalmente", - concluiu, - "se não for cobrada uma solução física para o problema, existem outras respostas. Por exemplo, pode-se ir até o edifício e bater à porta do síndico. Quando ele aparecer diz-se: "Caro Sr. síndico, trago aqui um ótimo barômetro; se o senhor me disser a altura deste edifício, eu lhe darei o barômetro de presente."

A esta altura, perguntei ao estudante se ele não sabia qual era a resposta 'esperada' para o problema. Ele admitiu que sabia, mas estava tão farto com as tentativas dos professores de controlar o seu raciocínio e cobrar respostas prontas com base em informações mecanicamente arroladas, que ele resolveu contestar aquilo que considerava,
principalmente, uma farsa.

"Não basta ensinar ao homem uma especialidade, porque se tornará assim uma máquina utilizável e não uma personalidade. É necessário que adquira um sentimento, um senso prático daquilo que vale a pena ser empreendido, daquilo que é belo, do que é moralmente correto"(Albert Einstein)

A propósito dessa diferença entre computadores e seres humanos, transcrevemos dois trechos da alentada obra História Universal dos Algarismos, de Georges Ifrah (tomo 2, páginas 842/3, Editora Nova Fronteira, S.Paulo-SP):

O QUE OS COMPUTADORES NÃO PODEM FAZER

Quanto às operações que os computadores executam, mesmo se são comparáveis com certas tarefas intelectuais do ser humano eles as efetuam de maneira totalmente diferente: sem nenhuma consciência, sem vontade, nem intuição, nem pensamento indutivo.

O computador é portanto incapaz de efetuar esses processos complexos do pensamento ou da razão, e, como se sabe, o ato voluntário e o sentimento interferem muito freqüentemente na consciência humana. Esses são processos que implicam por exemplo o conhecimento de sua própria existência, de seus atos e do mundo exterior, ou que põem em obra a aptidão para atualizar e realizar suas próprias intenções conforme as necessidades, uma reflexão e um engajamento preliminares.

Devemos lembrar-nos de que o computador é uma máquina incapaz de atividade voluntária ou criadora no sentido mais elevado do termo. É uma máquina rotineira e aplicada da qual não se deve esperar o menor traço de gênio. Trata-se, com efeito, conforme a fórmula de P.Demarne e M.Rouquerol (*), de uma fantástica manobra intelectual, mas nada além disso.

(*) in: "Les Ordenateurs électroniques", col. "Que sais-je?", nº 832, PUF, Paris, 1961, 2ª ed.

DA INFORMAÇÃO CLÁSSICA À INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL

Mas os limites dos computadores são também claros. Enquanto autômatos algorítmicos universais, só sabem, por definição, executar processos intelectuais de natureza calculatória.

Notemos, aliás, que o cálculo e o raciocínio dedutivo formam apenas uma classe muito particular de processos inteligentes, pois a resolução de um problema não é forçosamente dessa natureza. Noutras palavras, existe uma vasta categoria de problemas cuja solução não é exprimível sob a forma de um algoritmo. Assim sendo, há uma variedade considerável de tarefas inacessíveis às máquinas computacionais.

Como queria demonstrar o estudante de "Física"...