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Última modificação em (mês/dia/ano/horário): 01/14/01 19:25:02
FEBEANET
País do futebol 

Esta besteira merece participar do Febeanet. O amigo que durante um ano inteiro torceu pelo seu time de futebol favorito, no auto-proclamado País do Futebol, há de concordar comigo que esta esplêndiDA NAÇÃO (como viram, o cacófato foi intencional), alicerçada no glorioso trinômio samba-praia-futebol, está capenga, cada vez mais atingida em seus brios.

Não bastasse nunca conseguir o ouro olímpico no esporte mais popular; não bastasse perder a final da Copa do Mundo para a França, logo a França que sempre foi mais chegada a um perfume, um queijo e um vinho, que ao nobre esporte bretão. 

Pois não é que nossos cartolas, de cartola cada vez mais comprida, conseguiram bagunçar de vez com o campeonato nacional? Primeiro, com aquelas tabelas malucas, em que para se saber quem é o campeão é preciso ser gênio em Matemática (bem, pelo menos serviram para aumentar a cultura aritmética de nosso povo). Depois, trocando o time de juízes: em vez de resolvermos no gramado quem é o vencedor, com as mães dos juízes sendo calorosamente elogiadas como reza a tradição nacional, passamos a decidir os campeonatos nos tribunais.

O ano 2000 teve ainda outros fatos dignos de nota: o Luxoemburgo, num luxo só, teve sua carreira de técnico transformada em lixo com o apoio de sua própria cara (caríssima!) consorte... 
No País do Futebol, o dito cujo é tema de uma comissão parlamentar de inquérito...
Agora, fechando com chave de ouro o ano, o século e o milênio, o campeonato nacional simplesmente não fechou, como bem lembrou o Paulo Mauá, da empresa santista de informática Enterdata. Vasco da Gama e São Caetano conseguiram não terminar a partida final (de forma considerada inédita nos campeonatos brasileiros, ela foi encerrada aos 23 minutos do primeiro tempo). Pelo visto, dificilmente terão nova oportunidade, a não ser por algum milagre de prestidigitação (ah, sim, é verdade que marcaram uma partida para o início de 2001, já com os campeonatos deste ano iniciados. O problema é saber se o juiz é dos que apitam o jogo lá no campo, ou será designado pela Justiça desportiva, pela Justiça comum ou pelo Congresso...). 

O país do futebol ficou sem campeão nacional de futebol. Nem é preciso dizer que este é o grande tema do início de 2001 nos meios esportivos...

Bem, quando a Alemanha se torna campeã mundial de sumô, a França festeja com muito champanha a conquista da Copa do Mundo de Futebol, a África pode comemorar o título de melhor jogador de golfe do mundo, a Espanha é campeã de futebol de salão, o Brasil vira campeão mundial de tênis, e até um conhecido viciado em drogas (sim, o argentino Maradona) chega a ser aclamado como o melhor esportista do mundo, os fatos ocorridos em terras brasileiras não deveriam surpreender, né?

Mas, se ainda houvesse dúvida sobre a inclusão do tema no Febeanet, bastaria rever as cenas daquela partida do final do ano: ali, o que partiu foi o estádio, em meio às brigas entre torcedores - preferem torcer os pescoços uns dos outros, pelo visto. Depois, nos depoimentos à Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) que investiga o futebol nacional, descobre-se que até um famoso personagem dos desenhos animados, o Zé Colméia, teve participação na história: o amigo urso do jogador Ronaldinho foi levar um recado ao deputado vascaíno Eurico Miranda, bem no meio do imbroglio...

E o deputado, na CPI, também recordou alguns dados interessantes: que a Rede Globo de Televisão usou novamente seu direito contratual de marcar o jogo para aquele horário de canícula das 16 horas (horário de verão), sujeitando os torcedores ao sol inclemente, para não ter de mexer em sua grade de programação de novelas, pois mostrar um índio pasteurizado e globalizado na novela da noite era mais importante que mostrar a final do campeonato nacional de futebol no país do futebol...

Foi recordado também na CPI que o governador do Rio de Janeiro teve participação nas decisões, junto com o secretário de segurança do Rio de Janeiro, junto com uma série de empresas de infra-estrutura da cartolagem ludopédica. Pelo visto, só não participou a própria Confederação Brasileira de Futebol, que é justamente a entidade que deveria estar comandando o futebol no Brasil. Parece que a CBF estava muito ocupada explicando no Congresso os contratos com a Nike, daí treze clubes formaram o mui adequadamente chamado Clube dos Treze (xô, azar!) e em 48 horas organizou todo o campeonato, com 106 clubes participando... Deu no que deu...

Outra informação, para reforçar a inclusão da cartolagem futebolística nacional neste Febeanet: está circulando pela Internet a denúncia de que, no regulamento do campeonato organizado pelo Clube dos Sortudos há uma cláusula: se o campeonato fosse vencido por um dos treze clubes, ele embolsaria R$ 5 milhões. Se o ganhador não fosse um clube da primeira divisão, só receberia 8% desse valor, R$ 400 mil. O que levou às especulações - entre os que conhecem os meandros do futebol brasileiro - de que, se por baixo do pano escorregassem R$ 100 mil para cada jogador adversário escorregar no meio do campo, ainda escorregaria muito dinheiro, o suficiente para encher a taça do sortudo campeão...

Eis, portanto, o segundo concorrente ao troféu Febeanet! Chacrinha, vai buzinar?