FEBEANET
País do futebol
Esta
besteira merece participar do Febeanet. O amigo que durante um ano inteiro
torceu pelo seu time de futebol favorito, no auto-proclamado País
do Futebol, há de concordar comigo que esta esplêndiDA NAÇÃO
(como viram, o cacófato foi intencional), alicerçada no glorioso
trinômio samba-praia-futebol, está capenga, cada vez mais
atingida em seus brios.
Não bastasse nunca conseguir
o ouro olímpico no esporte mais popular; não bastasse perder
a final da Copa do Mundo para a França, logo a França que
sempre foi mais chegada a um perfume, um queijo e um vinho, que ao nobre
esporte bretão.
Pois não é que nossos
cartolas, de cartola cada vez mais comprida, conseguiram bagunçar
de vez com o campeonato nacional? Primeiro, com aquelas tabelas malucas,
em que para se saber quem é o campeão é preciso ser
gênio em Matemática (bem, pelo menos serviram para aumentar
a cultura aritmética de nosso povo). Depois, trocando o time de
juízes: em vez de resolvermos no gramado quem é o vencedor,
com as mães dos juízes sendo calorosamente elogiadas como
reza a tradição nacional, passamos a decidir os campeonatos
nos tribunais.
O ano 2000 teve ainda outros fatos
dignos de nota: o Luxoemburgo, num luxo só, teve sua carreira de
técnico transformada em lixo com o apoio de sua própria cara
(caríssima!) consorte...
Agora, fechando com chave de ouro
o ano, o século e o milênio, o campeonato nacional simplesmente
não fechou, como bem lembrou o Paulo Mauá, da empresa santista
de informática Enterdata. Vasco da Gama e São Caetano conseguiram
não terminar a partida final (de forma considerada inédita
nos campeonatos brasileiros, ela foi encerrada aos 23 minutos do primeiro
tempo). Pelo visto, dificilmente terão nova oportunidade, a não
ser por algum milagre de prestidigitação (ah, sim, é
verdade que marcaram uma partida para o início de 2001, já
com os campeonatos deste ano iniciados. O problema é saber se o
juiz é dos que apitam o jogo lá no campo, ou será
designado pela Justiça desportiva, pela Justiça comum ou
pelo Congresso...).
O país do futebol ficou sem
campeão nacional de futebol. Nem é preciso dizer que este
é o grande tema do início de 2001 nos meios esportivos...
Bem, quando a Alemanha se torna campeã
mundial de sumô, a França festeja com muito champanha a conquista
da Copa do Mundo de Futebol, a África pode comemorar o título
de melhor jogador de golfe do mundo, a Espanha é campeã de
futebol de salão, o Brasil vira campeão mundial de tênis,
e até um conhecido viciado em drogas (sim, o argentino Maradona)
chega a ser aclamado como o melhor esportista do mundo, os fatos ocorridos
em terras brasileiras não deveriam surpreender, né?
Mas, se ainda houvesse dúvida
sobre a inclusão do tema no Febeanet, bastaria rever as cenas daquela
partida do final do ano: ali, o que partiu foi o estádio, em meio
às brigas entre torcedores - preferem torcer os pescoços
uns dos outros, pelo visto. Depois, nos depoimentos à Comissão
Parlamentar de Inquérito (CPI) que investiga o futebol nacional,
descobre-se que até um famoso personagem dos desenhos animados,
o Zé Colméia, teve participação na história:
o amigo urso do jogador Ronaldinho foi levar um recado ao deputado vascaíno
Eurico Miranda, bem no meio do imbroglio...
E o deputado, na CPI, também
recordou alguns dados interessantes: que a Rede Globo de Televisão
usou novamente seu direito contratual de marcar o jogo para aquele horário
de canícula das 16 horas (horário de verão), sujeitando
os torcedores ao sol inclemente, para não ter de mexer em sua grade
de programação de novelas, pois mostrar um índio pasteurizado
e globalizado na novela da noite era mais importante que mostrar a final
do campeonato nacional de futebol no país do futebol...
Foi recordado também na CPI
que o governador do Rio de Janeiro teve participação nas
decisões, junto com o secretário de segurança do Rio
de Janeiro, junto com uma série de empresas de infra-estrutura da
cartolagem ludopédica. Pelo visto, só não participou
a própria Confederação Brasileira de Futebol, que
é justamente a entidade que deveria estar comandando o futebol no
Brasil. Parece que a CBF estava muito ocupada explicando no Congresso os
contratos com a Nike, daí treze clubes formaram o mui adequadamente
chamado Clube dos Treze (xô, azar!) e em 48 horas organizou todo
o campeonato, com 106 clubes participando... Deu no que deu...
Outra informação, para
reforçar a inclusão da cartolagem futebolística nacional
neste Febeanet: está circulando pela Internet a denúncia
de que, no regulamento do campeonato organizado pelo Clube dos Sortudos
há uma cláusula: se o campeonato fosse vencido por um dos
treze clubes, ele embolsaria R$ 5 milhões. Se o ganhador não
fosse um clube da primeira divisão, só receberia 8% desse
valor, R$ 400 mil. O que levou às especulações - entre
os que conhecem os meandros do futebol brasileiro - de que, se por baixo
do pano escorregassem R$ 100 mil para cada jogador adversário escorregar
no meio do campo, ainda escorregaria muito dinheiro, o suficiente para
encher a taça do sortudo campeão...
Eis, portanto, o segundo concorrente
ao troféu Febeanet! Chacrinha, vai buzinar?
|