Clique aqui para voltar à página inicialhttp://www.novomilenio.inf.br/guaruja/gh031b.htm
Última modificação em (mês/dia/ano/horário): 08/04/05 13:49:15
Clique aqui para voltar à página inicial de Guarujá
HISTÓRIAS E LENDAS DE GUARUJÁ - ANDRADAS
Forte Monduba, ou dos Andradas

Área onde as ondas batem com estrondo começa a ter aproveitamento turístico
Leva para a página anterior
Texto publicado no jornal santista A Tribuna em 9 de julho de 1978: 


Foto publicada com a matéria

FORTE DOS ANDRADAS
Um potencial turístico que poderá ser aproveitado

Parece impossível que aquela montanha, com muita vegetação e cercada pelas águas do mar que batem de encontro aos rochedos ou se espreguiçam na areia, esconda imensos túneis escavados na rocha e canhões de grande poderio bélico. Parece impossível que todo este aparato possa existir sob aparências tão inofensivas: o sol que faz um colorido extravagante por entre as árvores, o eterno ruído das ondas quebrando-se contra as rochas e o canto dos pássaros.

Mas tudo isso é verdade no Forte dos Andradas, que também foi chamado Forte Monduba, e que muitas pessoas julgam conhecer. Tudo isso é possível no forte Monduba, derivado do vocabulário indígena "mô-nduba" (ruidoso, estrondoso) com que os índios que habitavam a região definiam o choque das águas contra as rochas; e que tornou-se dos Andradas em 1942, quando foi solenemente inaugurado.

Hoje o Forte dos Andradas encontra-se desativado. Nas instalações da parte baixa funciona a Bateria do Comando da AD/2, mas as construções no Morro do Monduba, ainda intactas, não servem mais a fins militares desde que a defesa da costa na região passou a concentrar-se apenas na Fortaleza de Itaipu, em Praia Grande.


Os túneis foram escavados nas rochas
Foto publicada com a matéria

De sítio a forte

A área ocupada pelo Forte dos Andradas era, tempos atrás, um sítio, cuja localização foi assim descrita no Aviso Régio de 1817: "Mede o Sítio Monduba mil braças de testada e quinhentas de fundo na costa do mar bravo, parte com terras do canto do Guaíbe por um lado, e de outro com terras pertencentes ao tenente Benedito Bueno; pertence a dona Rosa Maria Leite, por título de herança e cultiva com seis escravos".

Dona Rosa Maria Leite herdou o sítio quando faleceu seu marido, o cirurgião e lavrador José Antônio da Fonseca Gouveia, e no seu inventário a gleba passaria, posteriormente, a uma de suas filhas. A partir daí a área ainda seria adquirida por diversas outras pessoas, entre elas Gabriel Dias de Moura, que ao falecer o deixou em posse dos herdeiros. Nessa época a gleba foi declarada de utilidade pública, por decreto de 23 de junho de 1934, tendo em vista a construção do forte. O decreto de desapropriação já mencionava o início das obras da fortaleza, ao salientar que o local seria "destinado às obras do Forte Monduba, já em construção".

A construção da fortaleza demandou sete anos: no dia 10 de novembro de 1942, com a presença dos generais Maurício Cardoso, comandante da 2ª Região Militar, e Sebastião Rego Barros, inspetor de Defesa da Costa e diretor da Artilharia da Costa, era solenemente inaugurado o Forte dos Andradas, projetado pelo coronel e engenheiro militar João Luiz Monteiro de Barros.


Praias, praticamente desconhecidas, cercam a fortaleza
Foto publicada com a matéria

A utilização da parte alta do Forte dos Andradas para fins turísticos, cogitada pela Prefeitura de Guarujá, atenderia também a outros objetivos. Juntamente com o potencial turístico, a fortaleza tem um elevado significado histórico, embora não chegasse a entrar em combate na época da guerra, quando apenas ficou "de prontidão". Além disso, o próprio comando da Artilharia Divisionária/2 salienta as vantagens da utilização turística da unidade, agora inservível aos fins destinados.

A Proposta da Prefeitura foi aprovada, há algum tempo, pelo ex-comandante da AD/2, general Alvir Souto, e o general Waldir Eduardo Martins, atual comandante da Praça, igualmente não vê obstáculos à exploração turística da fortaleza. Esta medida, segundo informações da AD/2, é perfeitamente viável, desde que a Prefeitura concorde em tomar parte num acordo comum para manter em boas condições o acesso e as instalações.

O acesso, embora cimentado na maior parte, e com algumas obras para facilitar o escoamento das águas de chuva, freqüentemente é interrompido com a queda de barreiras. Além das instalações da fortaleza, o local oferece outros atrativos para os turistas e visitantes, como a Ponta do Batalhão, considerado ótimo ponto para pescarias, ou a Prainha do "seo" Moisés, que fica nas proximidades, além das outras praias e ilhas praticamente desconhecidas.


As diversas peças de artilharia foram instaladas para a defesa da costa
Foto publicada com a matéria

O Forte dos Andradas tem uma localização privilegiada, no Guaiúba, numa área que abriga o Morro do Monduba, a praia do mesmo nome e a Praia do Bueno. Na parte baixa funciona, atualmente, a Bateria de Comando da AD/2. No morro estão as construções que visavam a defesa da costa, com elevadores e túneis escavados na rocha e com quatro peças de artilharia no topo, além de um observatório, em plano mais alto.

O acesso a essas instalações desativadas é feito por uma estreita e sinuosa estrada cimentada, que sobe a encosta do morro escondida pela vegetação. Após um quilômetro de subida chega-se ao local conhecido pelos militares da unidade como Bela Vista. A visão das instalações da parte baixa, o mar limpo e os navios que passam ao largo, além das duas praias que cercam a unidade, justificam a denominação. Mais adiante, a estrada apresenta uma bifurcação: uma pista de terra de difícil acesso leva à Ponta do Batalhão, descendo a encosta do morro em direção a um dos extremos da elevação. A outra pista, cimentada, continua subindo o monte em direção aos túneis e canhões que tinham a função de defender a costa. Nesse caminho a "estradinha" passa sob dois pequenos túneis, e na parede direita do segundo fica a entrada para a fortaleza.

Seguindo-se a estrada chega-se às peças de artilharia instaladas no topo do morro, mas antes disso, o acesso já se tornou muito difícil. Somente carros de pequeno porte chegam ao local, e ainda assim, com dificuldades. Após alcançar o primeiro canhão, o acesso piora ainda mais, e depois de chegar ao segundo torna-se impossível mesmo para veículos pequenos.

Ao todo foram instaladas quatro peças de artilharia, equipadas com "buzeiros", canhões de costa de 280 milímetros de diâmetro, dotados de periscópio e com alcance de 12 quilômetros. Cada uma dessas peças é servida por um elevador, destinado ao transporte da munição armazenada na fortaleza, 30 metros abaixo, e o mato alto esconde todo este aparato.

Subindo ainda mais em direção ao topo do morro chega-se ao observatório, de grossas paredes circulares. Nesse observatório havia uma luneta e dois telêmetros que faziam a triangulação (interseção avante) para determinar a localização dos navios inimigos. Após os cálculos, os dados eram enviados à Câmara de Tiro, que passava a informação, em outro código, para os elementos que operavam os canhões, através de telefone e rádio.

Também no observatório encontram-se, ainda hoje, dados técnicos, como distância do local às ilhas mais próximas, e desenhos com reproduções de navios de guerra de outros países, com algumas descrições. Além disso, há, também, no observatório, um elevador social ainda em condições de uso, ligando o posto à fortaleza, situado a 50 metros abaixo, no interior da montanha.

A fortaleza - A fortaleza propriamente dita, escavada entre as rochas da montanha, é dotada - ou era, pelo menos - de todos os recursos necessários, embora de simplicidade espartana. Suas divisões são muito simples: um longo túnel, de quase 200 metros de extensão, com dois braços no final, de 50 metros cada, formando a letra "T". Nas paredes laterais ficam as instalações, dispostas simetricamente de frente umas para as outras.

Apesar do tempo e da inatividade a fortaleza permanece em bom estado de conservação, e mesmo com a água fazendo poças em alguns trechos, pode-se notar os cuidados que a obra mereceu por alguns detalhes, como a ventilação, bastante eficiente.

A partir da entrada, o longo corredor leva às salas, sempre do mesmo tamanho, contando: cozinha, refeitório, banheiro, sala de comando e nada menos que seis depósitos de munições, além da casa do gerador, de 139 volts, trifásico, acionado sempre quando faltava a energia elétrica, puxada da parte baixa do forte.

A munição, antes de ser colocada nos elevadores especiais, que faziam o transporte até os canhões, era transportada por uma trilha que ainda existe no teto da fortaleza, ao longo dos corredores, e a água utilizada era bombeada do reservatório situado na parte baixa.


No ponto mais alto do forte, fica o observatório
Foto publicada com a matéria

Leva para a página seguinte da série