Clique aqui para voltar à página inicialESPECIAL: Natal e Ano Novo
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Noite de Natal na Bahia antiga

Em sua obra Festas e Tradições Populares do Brasil (Ediouro, Rio de Janeiro/RJ, cerca de 1985), Melo Morais Filho conta um pouco sobre os usos e costumes natalinos na folclórica Bahia, em fins do século XIX e princípios do século XX:

A Noite de Natal
(Bahia)

As canções populares, apropriadas às festas e cerimônias da igreja, a começar do século XII, desenvolveram-se em esfera mais ampla e com atitude mais autônoma.

Distanciando-se dos cantos puramente litúrgicos, encontra-se todavia, nesse gênero de composições de caráter religioso, a adaptação de sentimentos profanos; de sorte que o pensamento profano e o pensamento religioso nelas se alternam, não apagando de todo, porém, o relevo artístico de seu tipo de origem.

Poesia de colaboração anônima, o seu valor é considerável como contribuição ao estudo de frases poéticas e do ideal religioso, que, não há de negar, é a atmosfera fisiológica da razão popular.

Os autos e cheganças (N.A.: Cheganças eram dança portuguesa do século XVIII, de par solto, extremamente lasciva, excitante e favorita do povo [...]) da noite de Natal remontam ao alvorecer da Idade Média, época em que os natais - produções em verso destinadas a celebrar o nascimento de Jesus - confundiam-se com as composições sagradas; e em que os trovadores e menestréis, seguindo as procissões solenes, os iam exibir nas lapinhas, em visita ao Messias no presepe de Belém.

Então esses personagens, vestidos de pastores e reis Magos, dedilhando as cordas de seus instrumentos, dançavam e cantavam as suas danças e canções, representavam os seus mistérios diante do berço de palhas do Messias das nações.

No meio dessas cenas pitorescas, desses dramas infantis, a poesia imitativa tocava ao seu apogeu, por isso que a grande nova emprestava no lirismo voz aos animais, que expandiam as suas alegrias pelo nascimento do Deus Menino.

Em seus louvores, o coro era uníssono, os tocadores de cítara partiam nos arpejos cordas vibrantes, e os poetas entregavam-se ao fervor piedoso de suas inocentes aspirações.

Mais tarde, os bretões adotaram esses usos, que se generalizaram na Europa, variando na forma, mas conservando o fundo da tradição.

Tais costumes, até a primeira metade deste século (N.E.: século XX), refletiram seu caráter antigo na musa popular da Espanha e de Portugal, passando-se deste último país para o Brasil com as primitivas levas colonizadoras.

As janeiras (N.A.: Em Portugal as janeiras já existiam em 1386 e continuam nas Beiras, Minho, Estremadura, Douro etc. São grupos festivos que visitam as casas do vizindário, cantando e tocando em louvor do Deus-Menino. Em retribuição recebem agrados, bebidas, alimentos. Corresponde aos Caramelles ou Camarelles, a serenata típica na Catalunha, durante a Páscoa da Ressurreição [...]) dos campos, aldeias e cidades da metrópole, essas usanças tão gratas aos nossos maiores, essas noites de Natal da nossa terra, que o vulto das invasões estrangeiras, descravando dos horizontes a derradeira estrela, entenebrecerá em breve, arquejam para morrer nas províncias do Norte; e os seus ecos, de gerais que eram, apenas se fazem ouvir naqueles centros, felizmente improfanados, ou nos céus da Bahia - o lar clássico das tradições nacionais.

Aí, a noite de Natal ainda é uma reminiscência que consola, um sonho de quem adormece em sua pátria ao perfume inebriante e selvagem das mangueiras em flor!...

Os sinos da freguesia repicam, anunciando a missa; o Terreiro alveja nos torços de cassa das mulatas e das crioulas chibantes; os adros do Colégio, de S. Domingos e de S. Francisco, apinhados de devotos, são os apriscos daquelas ovelhas despertas.

Os tocadores de violão preludiam chulas e toadas; os cantadores, que acompanham os concertistas ambulantes, cantam quadras apropriadas, versos oportunos.

Os escravos de bons senhores enchem espaços circunscritos das algazarras dos batuques, das matinadas dos canzás (N.A.: Canzá, ganzá, maracá), das dissonâncias atroadoras de seus tabaques (N.A.: Tabaque, atabaque, tambor de várias dimensões e feitio [...]) grosseiros.

Aqui e ali, uma porta range nos gonzos e fecha-se: são as famílias que, precedidas do chefe, encaminham-se às igrejas, vagarosas, rusguentas, intermináveis...

A cidade e os arrabaldes ostentam-se magníficos pelo movimento que os anima, pelas músicas que se executam de várias casas, pelos presepes floridos que se avistam de fora.

Como uma cadeia de prata, cujos elos partidos encontram-se nos ares, assim são os tinidos trêmulos dos pandeiros; como as vibrações de uma gargalhada convulsiva, que cresce e decresce para recomeçar após, assim são os estalos gradativos das castanholas.

Os bailes pastoris, que desenham com mais firmeza os traços fisionômicos da noite de Natal na Bahia, executam-se nas habitações remediadas e pobres, e nos palácios dourados da opulência.

É que nesta noite a sorte difunde igualmente os seus risos pela trilha afanosa do proletariado e pelas alamedas em que a fortuna espalha os seus bens!

Através das grades de pau dos postigos esburacados, os clarões que coam parecem crisálidas de ouro, de onde se desatam as melodias que voam...

Os bordões argênteos dos violões, contrastando com os dedos negros dos tocadores crioulos; as pastoras bronzeadas e da cor do ébano, dançando, cantando e dialogando em frente de um presepe de galhos de pitanga; aquelas mulheres de turbantes vistosos, adornadas de colares, braceletes e pedrarias, deleitam e transportam melhor a imaginação às regiões do Oriente, à pátria do sol.

Dir-se-ia que aqueles bustos fundidos de trevas e de crepúsculos morenos fizeram parte da comitiva dos reis de Sabá, da Pérsia e da Babilônia à mensagem de Belém; que aqueles clamores, erguidos por um povo de raças diversas, nada mais eram do que o eco enfraquecido, por quase dois mil anos, do rumor das caravanas dos Magos com o seu séqüito de reis vencidos, odaliscas e cativos, com seus camelos que se ajoelhavam ao peso das resinas e do ouro, dos amuletos e dos diademas de cem dinastias, para ofertarem ao Deus nascido - Àquele que tinha de fazer desaparecer os brilhos das noites do Oriente e levantar em esplendores as manhãs frias e orvalhadas do Ocidente!

Na solene noite, os bailados mais ou menos ricos, os presepes mais ou menos característicos, falam ao ideal das classes diferenciadas; as trovas incultas são descantadas, os autos inéditos desempenham-se à porfia, e a Missa do Galo constitui o objetivo de algumas famílias que se retraem e dos indivíduos que observam os ritos do Natal.

A partir das oito horas, nas casas de tratamento, as polkas e valsas estuam nos salões; as luzes profusas dardejam raios de âmbar; as encantadoras baianas deslumbram, girando nas danças elegantes, e os repentistas laureados glosam motes aos aplausos justíssimos.

Em quadra mais remota, esses grandes mestres de toda a poesia do improviso chamavam-se Moniz Barreto, Dr. Sinfrônio O. Álvares Coelho, Laurindo Rabelo, A. de Mendonça, João Freitas, Dr. Luís Álvares dos Santos e tantos outros, que eram os poetas da religião, da pátria e da família.

Destes já nem existe o Dr. Sinfrônio (N.A.: Sinfrônio Olímpio Alvares Coelho, médico, serviu na Marinha de Guerra. Grande improvisador nas festas cívicas da cidade do Salvador, onde nascera em 16 de julho de 1826. Faleceu no Rio de Janeiro a 13 de fevereiro de 1896), que, quase estranho à geração atual, aí vivia ignorado, mas nunca na admiração expansiva de quem, como Franklin Dória (N.A.: Franklin Américo de Menezes Dória, Barão de Loreto, nasceu na fazenda Loreto, ilha dos Frades, na Bahia, a 12 de julho de 1836, e faleceu no Rio de Janeiro a 28 de outubro de 1906. Poeta, historiador, político, latinista, três vezes ministro de Estado, presidiu as províncias do Maranhão, Piauí e Pernambuco, deputado-geral etc. Publicou vários livros de versos e história, traduzindo Evangelina, de Longfellow) e o obscuro escritor deste livro, inclinavam-se ante o prestígio glorioso de seu nome e a superioridade resplandecente de seu talento.

No salão repleto de rosas e fantasias, alentado ao sopro dos cantos dos dias nacionais, o presepe alteia-se majestoso, com suas arcadas vegetais e aromáticas, seu horizonte largo e azul, sua lua transparente e sua estrela legendária.

Adiante de uma paisagem sem arte, de arvoredos de pinho pintado, fileiras de casinhas brancas estendem-se, confinando com duas fortificações encimadas por tropas francesas, guarnecidas de peças de artilharia, tendo aos ângulos atiradores, que disparam espingardas ou calam baionetas.

As ruas são na generalidade pouco populosas, a menos que algumas figuras fornecidas pela quinquilharia francesa e alemã se lobriguem salteadas, mas vulgarmente zuavos e mouros.

O chão é sulcado de pastagens e espelhos fingindo lagos; sobre esses lagos patinhos e peixes de vidro, cordeirinhos e cabras, tudo sem nexo, disparatado.

À direita estão S. José e a Virgem, que apresenta o Menino aos três reis Magos, seguidos de aldeões e lavadeiras com trouxas de roupa à cabeça, e de pastores tocando gaitas e sanfonas.

Pequenos lampiões de gás, repuxos, faróis e moinhos de vento, completam a vista geral dessa cidade, onde a imaginação pouco exigente dos festeiros coloca o berço de Jesus.

De instante a instante, os convidados que dançaram e os convidados que chegam, aproximam-se; dos que entram, alguns suspendem às folhagens, que se abraçam no ápice, formando o pórtico do presepe, flores nativas, frutos sazonados, ou depõem na superfície plana dádivas de primor.

De repente, um arrufar de pandeiros e adufes, um estalar ardente de castanholas, um planger de violões e guitarras, um respirar macio de flautas, caem como uma vaga no feérico recinto, envolvendo numa nuvem sonora o ânimo predisposto da assembléia.

Os circunstantes, afastando-se para os lados, deixam um claro à passagem dos figurantes dos bailes pastoris (N.A.: O baile pastoril, simplesmente "pastoril' no Norte brasileiro, é um auto, cantado e dançado diante de uma reconstituição do presépio em que nasceu Jesus Cristo. Não há assunto-fio orientando todo enredo. São muitas jornadas, partes, cada uma sobre temas sacros ou pequeninos entreatos, sempre em frente da armação do estábulo de Belém, com pastores, animais, casas, igrejas, rios, pontes etc. Dizia-se popularmente Lapinha, ainda corrente na ilha da Madeira, Portugal, as chamadas loas das lapinhas, dialogadas e com coros e música popular. [...] É festa do ciclo do Natal e termina com a queima das palhinhas no Dia de Reis, 6 de janeiro. Chamam Pastoril em memória dos pastores que vieram saudar o Deus-Menino e o louvaram, cantando. [...]) - dramas que, apesar de não serem feitos por poetas de profissão, conservam-se, com a sua melodia musical, nos arquivos orais do povo baiano, por isso que exprimem crenças e sentimentos que primitivamente o embalaram.

Sem aviso prévio, como saber-se quantos se representam e suas denominações? Será o Baile da Liberdade, o do Filho Pródigo, o de Um Marujo, o da Lavadeira, o de Cupido, o de Oito Pastores e um guia?

Será um ou mais, visto como podem executar-se até três, elevando-se o seu número a cinqüenta, com certeza, todos sobre motivos diferentes, músicas especiais, protagonistas distintos?...

E a flauta, preludiando acordes conhecidos, dá sinal de entrada ao Baile das Quatro Partes do Mundo. Neste auto, como em todos os outros de que temos notícia, o ritmo assemelha-se ao dos salmos e cânticos da liturgia romana, pela maneira por que a expressão faz ressaltar as palavras, notando-se deveras a entoação e disposição melódicas apropriadas aos textos.

E os pandeiros tinem... As moças, vestidas de branco, chegam-se mais perto; os que conversavam às janelas voltam-se rápidos, e, de costas para a rua, encruzam os braços, traçam a perna, atentos, calados.

Nas praças e nas ruas a multidão passeia tumultuária: nas asas daquele burburinho, daqueles tropéis nas calçadas, o grito imitativo do canto do galo sobe e esvai-se no meio de algazarras insensatas, de tumultos efêmeros. E os pandeiros arrufam, e a orquestra ensaiada dos bailes é mais estridente...

A guisa de prólogo, como preparo do drama, a Europa vai começar a peça.

Fantasiada com esmero, sacudindo a poeira da alvorada de seus cabelos louros, parecendo não ter mais de onze anos, uma menina, em terceiro passo de dança, aparece quebrando alternativamente os flancos, inclina-se diante do Menino Deus, desviando-se após, bailando, parando, cantando:

Eu venho adorar contente
Ao Menino Deus nascido,
Sacrificar o meu peito
Aos seus amores rendidos.

E, virando-se para o presepe e para o auditório, declama graciosa a loa obrigatória:

Europa toda vos rende
As grandezas que em si tem,
Pois só a vós reconhece
Ser um Deus e Sumo Bem.

Respeitando as rubricas, tendo as vestiduras características, corretamente ensaiados os cantos que precedem à recitação das loas, apresentam-se sucessivamente a África, a Ásia e a América que, aos triunfos espontâneos, cantam e declamam:

África:

Como senhora do universo
Vos tributo humilhação,
As potências de minh'alma
De todo o meu coração...

Loa:

África, terror do mundo
Soberta e vangloriosa,
para adorar ao Messias
É humilde, é amorosa.

América:

Com profunda adoração
Adorar venho ao Messias,
Filho do Eterno Padre
E da bendita Maria.

Loa:

As belas preciosidades
Que em si a América cria,
Todas vos entrego, Senhor,
Com grandeza e bizarria.

Ásia:

Com humilde reverência
Os pés te venho beijar,
A minh'alma e o meu corpo
Nas tuas mãos entregar

Loa:

Ásia fiel te oferece
Todos os seus cabedais,
E maior oferta faria
Se possuísse inda mais.

Depois dessa loa, empenha-se um debate entre as Quatro Partes do Mundo, que disputam entre si preferências de lugar, de força, de antigüidade, sabedoria e riqueza, no acolhimento de suas oblações à embaixada de Belém.

Esse diálogo é de uma simplicidade tocante, de uma religiosidade que faz reviver as flores das crenças mortas da infância, que mirraram-se ao entardecer da vida.

As luzes tremem nas vestimentas de penas e veludo, nas pulseiras e nas lantejoulas que faíscam...

A melopéia inicia-se agradável, pouco variada, sem estilos corretos...

Ao ouvir-se as notas dessa música monótona e um tanto solene, essa acentuação de quem tem na garganta o gorjeio de todas as aves, a modo que se sonha, ao balanço quieto da rede, às margens de algum rio das nossas florestas virgens!

Os assistentes nem falam; compenetrados da cena que se desenrola esplêndida, parece que contemplam absortos o frontispício cromático da epopéia da Redenção.

O dono da casa, com sua roupa de brim branco e gravata encarnada, e a senhora com seu vestido de musselina, lencinho de seda ao pescoço, obsequiosa, folgazã e boa, procuram a companhia das moças e das pessoas mais velhas, com as quais distribuem finezas em abundância.

As crias de estimação e as mucamas postam-se nos corredores; emoldurados nos caixilhos da alcova fechada, arregalando uns olhos pasmados, comprimindo o nariz chato e a boca vermelha contra o vidro que embaciam com o hálito, os moleques e as negrinhas espiam o espetáculo e somem-se avistando o senhor.

Quase meia-noite, os sinos repicam amiúde, as igrejas abrem-se aos fiéis, a Missa do Galo não tarda no altar.

O povo tumultua... Na varanda, o barulho dos pratos denuncia os preparativos da lauta ceia.

O drama das Quatro Partes do Mundo tende à catástrofe. A Ásia, a África e a América, não se conciliando, intervém um árbitro para decidir do pleito. E um personagem de longa túnica cinzenta, decrépito, empunhando uma foice, encaminha-se lento e alquebrado para a cena: - É o Tempo. Seu gesto é grave e a sua palavra enérgica.

O Tempo (falando):

Naquele ponto escondido
Estive ouvindo o vosso enfado,
Ásia tem muita razão
No seu falar apressado.

Europa, América e África:

Quem és tu, meu velho honrado
Que tanto a Ásia defendes?

O Tempo:

Sou o Tempo estragador
Creio que agora me entendes.

Ásia:

O que for de vosso gosto
Sujeito à vossa vontade;
Pronto estamos, haja, pois:
União e amizade

Todos:

Agora formemos baile
Das Quatro Partes do Mundo

O Tempo:

Eu, alacaiando a ele,
Serei o tempo jocundo.

Todos:

Com prazer, com alegria,
Todos com voz sonora,
Tributem hinos a Jesus,
E à Virgem Nossa Senhora.

O Tempo (cantando):

Eu, como o Tempo que sou,
Me prostro mais reverente;
Pois nasceste neste mundo
Para salvação da gente.

Todos (cantando e dançando):

Reconheço a vós
Um Deus das alturas
Senhor do universo
E das criaturas.

E um estrondo de palmas faz estremecer o salão... e uma chuva de flores, como um banho de perfumes, desaba sobre os atores, inundando o palco, que se transforma em um tapete irisado e de vaporosos aromas.

Esgotado o intervalo de uma hora, em que a sala esvazia-se, porque a ceia estava servida, a ouverture do Baile da Lavadeira convida os espectadores do auto anterior para esta segunda representação.

E correm todos ao recinto deixado, que se modificara com acessórios múltiplos: montanhas, a horta de Benta etc.

As pastoras ajustam vestuários bonitos e singelos, flutuam-lhes ao chapéu de palha fitas estreitas e de colorido vivíssimo; nos arregaços da saia curta pequenos topes de flores vicejam mimosos; do braço de cada uma pende uma cestinha com as oferendas ao Menino.

Os pastores, com trajos no mesmo gosto, agitam nodosos cajados, à voz da primeira Lavadeira, que, descansando num cepo, arriando uma gamelinha de roupa, modula suave, ao tom dos violões transportados, o verso de introdução:

Antes que o sol saia
Hei de madrugar.
Nas margens do rio
Onde eu vou lavar.

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Terminado o baile, uma nuvem de pássaros, como um bando de ciganos, emigrava, às opalescências da madrugada.

E os pastores e lavadeiras, tocando em retirada, com as suas dádivas e seus louvores, a harmonias ritmadas, cantavam, desaparecendo:

A barra do dia
Já vem clareando...
Que belo Menino
Na lapa chorando...

E nos braços dessas cantilenas adormecera por mais um ano a noite de Natal da minha terra - o lar clássico do individualismo pátrio e das tradições nacionais!