Ajudando a formar o ambiente revolucionário, diversos hinos foram compostos
durante a Revolução Constitucionalista de 1932. Como esta revolução visava forçar o cumprimento pelo governo Vargas dos compromissos da revolução
de 30, também algumas canções da revolução anterior foram utilizadas na época. Outros hinos, ainda, foram criados anos mais tarde, como recordação
da epopeia paulista.
Desfile de voluntários pelas ruas paulistas em 1932, com a banda executando músicas
marciais
Foto: O Mundo Ilustrado, Rio de Janeiro, 7/7/1934
Lembre-se, aliás, que da criatividade musical paulista surgiu uma inédita arma na revolução: Otávio Teixeira
Mendes criou a matraca, um mecanismo que imitava o som de uma metralhadora, depois usado pelos músicos populares. Com a engenhoca e o segredo bem
guardado, conseguiram conter por 20 dias as tropas inimigas, como relatou o major PM Luiz Eduardo Pesce Arruda, pesquisador que se especializou
nos assuntos dessa revolução.
Outro exemplo - citado por ele - da criatividade dos revolucionários paulistas foi o uso de trens blindados que
se confundiam com trens de cargas. O trem disparava em alta velocidade com as luzes acesas e soldados armados de metralhadoras. Muitos soldados
nunca tinham visto um trem e temiam muito mais a locomotiva do que as próprias armas (aliás, apesar de todo o dinheiro arrecadado na campanha de
coleta de ouro, os revolucionários não conseguiam comprar armas no estrangeiro devido ao bloqueio à entrada de armas no País imposto pelas forças
governistas, e assim tinham que improvisar com os recursos disponíveis). O episódio foi celebrado na canção Trem Blindado/Metralhadora, que
se referia à tecnologia militar empregada naquela época.
Num espetáculo promovido em julho de 2003 pela Associação dos Funcionários Públicos do Estado de São Paulo (AFPESP)
- comemorativo da Revolução de 32 e com roteiro daquele major PM Arruda -, foram também executadas: Tão Longe/Lampião de Gás (simbolizando
lembranças); O teu governo não nega (sobre a ditadura imposta pelo presidente Getúlio Vargas); Hino Acadêmico (manifestação dos
estudantes da Faculdade de Direito do Largo do São Francisco); Paulistinha Querida (sobre a participação da mulher); A Voz do Violão
(lutas nas trincheiras); Serra da Mantiqueira/Oração ante a última trincheira (lembrando mortes nos combates) e Anistia (sobre a
reação de Getúlio Vargas ao movimento paulista).
Os principais temas musicais da Revolução de 1932, entre hinos e canções, são:
Paris
Belfort
Hino
ao Soldado Constitucionalista de 32
Washington
Luiz
O
Passo do Soldado
Hymno
Paulista
Vencer
ou Morrer
Para
a frente! Paulistas!...
Hino
a São Paulo
Ser
Paulista
São
Paulo Grande e Forte
São
Paulo Invicto
Paris Belfort - Essa marcha foi executada como música de fundo da
transmissão da Rádio Record de São Paulo, quando essa emissora - fortemente engajada na causa revolucionária - noticiou o
falecimento dos quatro constitucionalistas que, com sua morte, passaram a simbolizar o MMDC da revolução (Martins, Miragaia, Dráusio e Camargo). O
tema musical passou a ser reprisado sempre nas locuções de César Ladeira, Nicolau Tuma e Renato Macedo, sobre o desenvolvimento da guerra.
Hino ao Soldado Constitucionalista de 32 -
Com música do tenente J. Ribeiro e arranjo do sargento Domingues, esta é a letra do Hino ao Soldado Constitucionalista de 32, composta por
Benedito Cleto:
Salve os heróis de "32"
das falanges paulistas
que ao vosso lábaro das treze listas
deste o sangue, a vida, o amor!
Bravos soldados, titãs gigantes,
honrastes nossa História;
vosso São Paulo cobristes de glória,
que netos sois de Bandeirantes.
Salve, M.M.D.C!
Por nós tombastes, pelo direito,
A glória Deus vos dê,
por nosso sangue derramado,
no céu láurea de heróis.
Por vós São Paulo é glorificado.
Valentes, salve os Paulistas
dos batalhões constitucionalistas!
Salve os gloriosos, os batalhões
dos jovens estudantes
do "Borba Gato", salve os esquadrões
e o "Nove de Julho", também;
glória ao "Catorze" e às heroínas,
valentes enfermeiras
Salve os heróis de São Paulo, o pioneiro,
que amado a paz foi bom guerreiro!
Salve, M.M.D.C!
Por nós tombastes, pelo direito,
A glória Deus vos dê,
por nosso sangue derramado,
no céu láurea de heróis.
Por vós São Paulo é glorificado.
Valentes, salve os Paulistas
dos batalhões constitucionalistas!
Aos imortais, aos que lutaram
nos campos de batalha,
que por São Paulo o sangue derramaram
sem temer sibilar metralha,
a vós entoamos imorredouro
este hino de amor,
vosso valor paulista, o peito forte,
herói soldado até na morte.
Salve, M.M.D.C!
Por nós tombastes, pelo direito,
A glória Deus vos dê,
por nosso sangue derramado,
no céu láurea de heróis.
Por vós São Paulo é glorificado.
Valentes, salve os Paulistas
dos batalhões constitucionalistas!
Washington
Luiz - Embora nascido em Macaé (RJ), Washington Luiz Pereira de Souza (1870-1957) fez carreira política no estado de São Paulo, a partir
de 1892, sendo - entre outras funções públicas - prefeito da capital paulista e escolhido como presidente do estado paulista de 1920 a 1924. Por
isso, ganhou até uma canção popular, que o glorificava como o Paulista de Macaé ("Ele é paulista/É sim senhor/...").
Eleito presidente da República em 1926, Washington Luiz foi deposto pela Revolução de 1930 - a mesma que os
constitucionalistas de 1932 consideravam traída em seu ideário pelo regime político ditatorial instaurado por Getúlio Vargas.
Logo após sua posse na presidência da República, em 1926, a casa Carlos Wehrs & C. do Rio de Janeiro editou uma
marcha-canção de autoria de Pedro de Sá Pereira e versos de F. Corrêa da Silva, dedicada a esse "eminente estadista (...) presidente eleito dos
Estados Unidos do Brasil" (N.E.: este era o nome oficial do País até o início da década de 1960) e prevendo o início
de uma fase promissora para o Brasil com sua posse:
O Brasil, nosso amado país,
numa hora feliz vai entrar
E o seu povo contente bendiz
A ventura que estava a sonhar...
Surge um nome que a todos seduz
A defesa exemplar da Nação:
Esse nome que brilha, que luz
Não, não pode insoirar traição...!
Do Amazonas aos Pampas, a voz
Que se escuta a vibrar senhoril
Intimida qualquer um de nós
Ao futuro cuidar do Brasil...
Descansemos, agora, afinal
Num ambiente de amor e de paz:
O futuro há de ser triunfal
E esse nome a certeza nos traz...
O refrão deixa claro o seu caráter de louvação:
Hinos de glória e louvor
Cantemos com vibração...
O futuro é promissor
Ao progresso da nação!
O
Passo do Soldado - Fundada em 28 de maio de 1932, a Liga da Defesa Paulista visava lutar pelos interesses de São Paulo, reconquistando
seus direitos, usurpados pela ditadura de Getúlio Vargas, que pretendia se manter no poder traindo o ideário da revolução de 1930. Com o
pseudônimo de Marcelo Tupinambá, o músico Fernando Lobo (1892-1953) compôs a Marcha da Liga da Defesa Paulista, também conhecida como O
Passo do Soldado (referência a Oscar Rodrigues, menor soldado da revolução).
A letra é do jornalista e poeta Guilherme de Almeida (1890-1969), que em 1913 fundou a Sociedade de Instrução
Artística do Brasil e mais tarde também comporia a Canção do Expedicionário, que se tornou o hino da força Expedicionária Brasileira (FEB) na
Segunda Guerra Mundial. Ele associou o "passo do soldado" com o "compasso seguro de um passado, um presente e um futuro"; o soldado deveria ver
que era grande, que toda a terra se atiraria a seus pés; deveria portanto estremecer de orgulho e erguer os braços, erguendo ao mesmo tempo braços
de poeira aos seus pés. Este é o refrão:
Marcha, soldado paulista,
Marca o teu passo na História!
Deixa na terra uma pista:
Deixa um rastilho de glória!
Registro no jornal paulistano Folha da Manhã, de 20
de julho de 1932 (página 3):
O PASSO DO SOLDADO - O maestro Marcello Tupinambá
compôs a marcha patriótica, intitulada O Passo do Soldado, para a qual Guilherme de Almeida, da Academia Brasileira, escreveu depois a
letra, que adiante transcrevemos. O 1º Batalhão da Liga de Defesa Paulista, no qual, entre os primeiros, Guilherme de Almeida se alistou como
soldado, já adotou aquela marcha como canção guerreira. A composição de Marcello Tupinambá, que será, dentro em breve, largamente difundida, está
destinada a ser, pela vibração do seu ritmo empolgante, a marcha predileta dos soldados constitucionalistas. É esta a letra da Marcha da Liga de
Defesa Paulista:
Marca o passo, soldado! Não vês
que esta terra foi ele que fez?
Que o teu passo é o compasso
seguro
de um passado, um presente e um
futuro?
Vê, soldado, que grande que tu
és!
Tua terra se atira a teus pés!
E estremece de orgulho! E ergue
os braços!
Ergue o braço de poeira aos teus
passos!
(REFRÃO)
Marcha, soldado Paulista,
Marca o teu passo na História!
Deixa na terra uma pista!
Deixa um rastilho de glória!
(bis)
Reprodução parcial da página 3 da edição
de 20/7/1932 do jornal paulistano Folha da Manhã
Hymno Paulista - Entre os vários hinos e canções cívicas criados por
João Baptista Julião (1886-1961) - um dos fundadores do Instituto Musical de São Paulo - está o Hymno Paulista, que começa citando a
"Mocidade da terra de Andrada" (em referência ao Patriarca da Independência, José Bonifácio de Andrada e Silva), como sendo "a guarda fiel e
avançada que a bravura sublime conduz". E, no refrão:
Viva! Viva a Nação Brasileira
E São Paulo que é um berço de luz
Viva! Viva a falange altaneira
Que a Bandeira Paulista conduz
Vencer ou Morrer - Está desaparecida a letra deste hino, composto
na época da Revolução de 1932 por José Maria de Abreu, paulista de Jacareí que os amigos chamavam de O Rei da Valsa. Uma de suas primeiras
músicas, a valsa Recordando, foi gravada em 1927 pelo cantor Francisco Alves. Muitos outros músicos trabalharam com esse compositor
eclético, que produziu fox-trotes, operetas, sambas-canção (como a marcha carnavalesca Pegando Fogo, junto com Francisco Mattoso) e muitas
outras músicas populares, já tornadas clássicas.
Para a frente! Paulistas!...- Unificando a Guarda Municipal Permanente (de
1831) com o Corpo Policial Permanente, a Força Pública do Estado de São Paulo ganhou esse nome pela lei de 24/11/1891. Em 1932, formou ao lado dos
revoltosos, e sua banda acompanhava diariamente os grupos de combatentes no trajeto entre os locais de aquartelamento e as estações ferroviárias,
ao som de marchas e canções vibrantes.
Seu hino, composto pelo sargento B. João Pedroso (da Força Pública) e gravado em disco, se destaca por seguir um
compasso (6/8) incomum aos hinos paulistas, e pela imitação de um tambor entre os trechos cantados:
Rataplan, Rataplan, Rataplan
Faz o tambor,
Rataplan, Rataplan, Rataplan,
Com mais vigor
São Paulo!
Trecho da letra:
Para frente Paulistas,
valorosos Bandeirantes,
Que dos tempos passados, tem conquistas
E feitos brilhantes
Marchemos, altaneiros,
Sempre a cantar, com fé
Mirando sonhos fagueiros
Cantando a marchar
Para frente avançando
Oh Êmulos de heróis,
Sempre cantando,
com ardor
Um ponto marcando,
Em Nossa História,
Marchemos contentes,
com valor
Hino
a São Paulo - Bastante ligado aos revolucionários de 1932, o Instituto Musical de São Paulo promoveu a divulgação do hino musicado por um
de seus professores, Paulo Florence (1864-1949), com letra de Fagundes Varella, sendo a venda de exemplares desse hino (publicados com apoio da
Liga das Senhoras Católicas de São Paulo) revertida totalmente para a Assistência às famílias dos Combatentes.
Com regência do maestro João Gomes Júnior, foi cantado em primeira audição na Rádio cruzeiro do Sul, em 26 de
julho de 1932, já em meio à guerra entre as forças legalistas e governistas no Vale do Paraíba. Sua letra elogia São Paulo como "terra de
liberdade, Pátria de heróis e berço de guerreiros", sendo este estado "o louro mais brilhante e puro, O mais belo florão dos Brasileiros!" A
revolução paulista é comparada dramaticamente com o quebrar das algemas de escravos:
É no teu solo, em borbotões de sangue
Que a fronte erguem destemidos bravos,
Gritando altivos, ao quebrar dos ferros:
Antes a morte que um viver de escravos!
A letra prossegue relacionando o desejo de liberdade dos paulistas de 1932 com a luta pela Independência em 1822
(que resultou no ato do príncipe D. Pedro I junto ao riacho e às campinas do Ipiranga):
Foi nesses campos de mimosas flores,
A voz das aves, ao soprar do Norte,
Que um rei potente
às multidões curvadas bradou,
soberbo: - Independência ou morte!
Foi do teu seio que surgiu, sublime,
Trindade eterna de heroísmo e glória
Cujas estátuas cada vez mais belas
Dormem nos templos da brasílea história!
Pejaste os ares de sagrados cantos
Ergueste os braços e sorriste à guerra
Mostraste, ousado, ao murmurar das turbas,
Bandeira imensa da Cabrália terra
Em tom de marcha solene, o hino termina conclamando os paulistas à conquista dos louros da vitória, como se
fossem novos heróis gregos glorificados no Parthenon de Atenas:
Ei-a, caminha!
O parthenon de glória
Te guarda o louro que premia os bravos
Voa ao combate, repetindo a lenda:
Morrer mil vezes que viver escravos!
Ser Paulista - Também saiu do Instituto Musical de São Paulo - composta
pelo seu diretor, João Gomes de Araújo Júnior
(1868 ou 1871 a 1963), em agosto de 1932, a marcha-hino Canto Patriótico: Ser Paulista, que pretendia ter uma melodia fácil de ser
aprendida por estudantes, apesar da harmonização elaborada. O hino foi dedicado aos "bravos voluntários paulistas, Dr. Carlos de Moraes Andrade,
Manoel Masullo, Luiz M. de Andrade Pina Massariol e Felício Araújo".
A letra, de Carmen Lia, conceitua a essência do Paulista: "Ser paulista é ser bravo, é ser forte,/é lutar sem
temer a fadiga/é encarar com sorrisos a morte/quando a sorte da Pátria periga". O "Ser Paulista" exigia a busca dos "tesouros nos recessos que a
Pátria ocultou" e a prontidão de morrer pela "lei justa e sábia que o Brasil culto e nobre" teria sonhado. Ser Paulista seria dar sangue e vida,
"dar tudo que a Pátria reclama/Quando a voz da consciência desperta/o dever que o amor pátrio proclama". Também seria "almejar a ventura de um
governo legal, justo e humano", e ainda, "sentir fervilhar o seu sangue/Aos desmandos de um jugo tirano!".
A letra, portanto, não deve ser confundida com os versos criados por Castro Alves, também exaltando o "Ser
Paulista":
Ser Paulista! É ser grande no passado!
E ainda maior nas glórias do presente!
É ser a imagem do Brasil sonhado,
E, ao mesmo tempo, do Brasil nascente!
Ser Paulista! É morrer sacrificado
Por nossa terra e pela nossa gente!
É ter dó da fraqueza do soldado
Tendo horror à filáucia do tenente!
Ser Paulista! É rezar pelo evangelho
De Rui Barbosa, o Sacrossanto Velho
Civilista imortal da nossa fé!
Ser Paulista! - Em brasão e em pergaminho
É ser traído e pelejar sozinho
É ser vencido, mas cair de pé!
São Paulo Grande e Forte - Publicada em agosto de 1932 pela Casa
Bevilacqua, a marcha triunfal São Paulo Grande e Forte, de Bellini Tavares de Lima, com letra de Amando Soares Caiuby, tem um tom mais
popular, com versos curtos. Começa com a exclamação:
Oh! Heróis da minha terra
De São Paulo grande e forte
Vamos todos para a guerra
Enfrentar o Sul e Norte
A letra explica que o objetivo da luta é vingar a ofensa a que fora submetida Piratininga no novo cativeiro;
dessa luta deveria o Brasil ressurgir altaneiro. A morte dos paulistas representaria a remissão do Brasil:
Que os irmãos dos vinte estados
sejam todos redimidos
Pelo sangue dos soldados
Dos paulistas destemidos
Tratava-se de renovar os "troféus da nossa história...", de conquistar a liberdade, de libertar "de verdade o
Brasil do cativeiro". Os paulistas surgem finalmente como os bandeirantes da honra:
Para a frente bandeirantes,
Empunhemos o fuzil
Que esta terra de gigantes
Salve a honra do Brasil
São
Paulo Invicto - A ideia da redenção está no centro da marcha São Paulo Invicto, que teve letra composta por um não identificado
F.C.S. e melodia de Ruy Botti Cartolano: os bandeirantes paulistas sairiam em busca de louros, para alcançar a redenção do País; morreria, sem
tremer, a parte melhor de São Paulo, que assim, reviveria os grandes feitos esquecidos do passado.
Por esse início, que começa com um sinal militar, São Paulo seria na guerra invicto, tal como sempre fora na
paz. O povo bandeirante deveria ir avante, sempre avante, vencer com fé pelo bem do Brasil. Seria da energia paulista que o Brasil esperaria o seu
grande futuro:
É da tua força,
oh! Povo Paulista
Que o Brasil hoje espera a conquista
De um futuro radioso de glória
Que lhe darás com a tua vitória
Informações pesquisadas em:
Correspondência
Musicológica Euro-Brasileira - site da Akademia Brasil-Europa - Institut für Studien der Musikkultur des portugiesischen Sprachraumes e. V. -
Instituto Brasileiro de Estudos Musicológicos, de Colônia/Alemanha.
Achei
Tudo/Ensaio Musical, portal de busca de músicas na Internet.
Imprensa
Oficial Notícias - site Web, 8/7/2003
CruzeiroNet
- site Web sobre a exposição "Os 70 Anos de 32", de 2002
A
Memória do Rádio e da Radionovela - site Web.
Enciclopédia Nosso Século, 1980, Ed.
Abril, São Paulo/SP
Histórias que o Rádio Não Contou, de
Reynaldo C. Tavares, 1997, Negócio Editora, São Paulo/SP.
Jornal
Folha da Manhã, 20 de julho de 1932, São Paulo/SP |
Hino dos Bandeirantes -
Nenhuma das canções da Revolução Constitucionalista de 1932 se tornou o hino do Estado de São Paulo. Mas, como explica o pesquisador Tiago José
Berg, "após a Constituição de 1946, que retornou o uso dos símbolos estaduais (depois que o governo Vargas os proibiu em 1937), São Paulo ainda
não se decidira por um hino, até que a lei nº 9.854, de 2 de outubro de 1967, assinalou a necessidade de sua instituição oficial".
"As origens do Hino dos Bandeirantes - prossegue Tiago - remontam
àquele mesmo ano, quando o poema foi composto pelo advogado, jornalista, poeta e tradutor Guilherme de Andrade e Almeida (1890-1969) na data de 18
de setembro de 1967, sob o título original de Aquarela Bandeirante. Algumas partes do poema foram modificadas logo depois até se chegar à
versão que conhecemos atualmente. Em 10 de julho de 1974, o Hino dos Bandeirantes tornou-se o canto oficial do povo paulista.
"Natural da cidade de Campinas e cuja alcunha era o príncipe dos
poetas brasileiros, Guilherme de Almeida se tornou membro da Academia Brasileira de Letras em 1930, além de participar ativamente da Revolução
de 1932. Outra de suas obras conhecidas é a Canção do Expedicionário, escrita em 1944 com acompanhamento
musical de Spartaco Rossi, homenageando os pracinhas que rumavam para a campanha brasileira na Segunda Guerra Mundial", completa o pesquisador, em
matéria publicada em 29 de junho de 2011 na sexta
edição do jornal eletrônico 32 em Movimento, editado pela
Sociedade Veteranos de 32 - MMDC, da capital paulista
(acesso em 13/1/2013). Na página 14, além da matéria, consta o hino [ouça]:
Hino dos Bandeirantes
Letra: Guilherme de Almeida
Composição: Sérgio de Vasconcellos Corrêa
Oficialização: lei estadual 337, de 10 de julho de
1974
Paulista, pára um só instante
Dos teus quatro séculos ante
A tua terra sem fronteiras,
O teu São Paulo das "bandeiras"!
Deixa atrás o presente:
Olha o passado à frente!
Vem com Martim Afonso a São Vicente!
Galga a Serra do Mar! Além, lá no alto,
Bartira sonha sossegadamente
Na sua rede virgem do Planalto.
Espreita-a entre a folhagem de esmeralda;
Beija-lhe a Cruz de Estrelas da grinalda!
Agora, escuta! Ai vem, moendo o cascalho,
Botas-de-nove-léguas, João Ramalho.
Serra acima, dos baixos da restinga,
Vem subindo a roupeta
De Nóbrega e de Anchieta.
Contempla os campos de Piratininga!
Este é o Colégio. Adiante está o sertão.
Vai! Segue a entrada! Enfrenta!
Avança! Investe!
Norte-Sul-Este-Oeste,
Em "bandeira" ou "monção"
Doma os índios bravios.
Rompe a selva, abre minas, vara rios;
No leito da jazida
Acorda a pedraria adormecida;
Retorce os braços rijos
E tira o ouro dos seus esconderijos!
Bateia, escorre a ganga,
Lavra, planta, povoa.
Depois volta à garoa!
E adivinha através dessa cortina,
Na tardinha enfeitada de miçanga,
A sagrada Colina
Ao Grito do Ipiranga!
Entreabre agora os véus!
Do cafezal, Senhor dos Horizontes,
Verás fluir por plainos, vales, montes,
Usinas, gares, silos, cais, arranha-céus! |