Sortida matinal da
flotilha
Flotilha Itaparicana
Quando da proclamação da nossa
independência, nem todas as províncias aderiram a causa brasileira. O principal foco de resistência à nova ordem concentrou-se
na Bahia, onde o Governador das Armas, general Madeira de Mello, dispunha de consideráveis forças de terra e mar; contra esse
poder levantaram-se os patriotas baianos. A reação, a princípio desarticulada e sem unidade, aos poucos organizou-se e
alastrou-se por toda a província.
Dentro de alguns meses os portugueses estavam praticamente confinados a
Salvador e seus arredores; embora possuindo a superioridade no mar.
A sorte da guerra dependia decisivamente do domínio da Bahia de Todos os
Santos e o conseqüente controle do abastecimento e das comunicações entre as vilas confederadas. Compreenderam os patriotas que
pouco poderiam esperar dos sucessos do mar, se não contassem com forças ofensivas; nessa emergência surgiu a Flotilha
Itaparicana, assim chamada pelos seus contemporâneos, que durante mais de sete meses trouxe desassossego e reveses aos
lusitanos.
Foi escolhido para o seu comando o segundo-tenente da Armada Nacional e
Imperial João Francisco de Oliveira Botas, que recebeu ordem de seguir logo para a base em Itaparica, onde deveria iniciar a
"armação e arranjos" de "três barcos de borda falsa capazes de sofrer artilharia" e de mais um barco, doado pelo rico português
Antônio Souza Lima, que aderira aos revoltosos.
Chegando em Itaparica em fins de novembro de 1822, João das Botas deu início a
febril atividade. No dia 6 de dezembro era lançado ao mar o primeiro barco artilhado, denominado Pedro I. A flotilha
foi aumentando ao longo da campanha, alcançando um efetivo de quase 800 homens.
Quando Madeira de Mello, cercado por terra, e pressionado no mar por Cochrane
(primeiro almirante da Marinha Imperial Brasileira) e João das Botas, abandonou o Brasil rumo a Portugal, a caça aos navios
lusos foi iniciada, ainda em águas da Bahia de Todos os Santos, pela Flotilha Itaparicana.
Esquadra brasileira
deixando as águas do Rio de Janeiro
Primeira esquadra brasileira
Portugal não aceitara, evidentemente, o
ato de independência de sua colônia americana. Mostrara a disposição de manter, até as últimas conseqüências, os pontos do
território brasileiro onde ainda exercia seu domínio.
A guerra era inevitável. Ameaçada em sua unidade e integridade, a nação, que
se espalhava ao longo de 7680 quilômetros de costa, exigiu medidas urgentes. Numa tomada de posição, nossos estadistas
compreenderam que, naquela conjuntura, o Poder Marítimo era o único elemento capaz de levar a ordem e a autoridade imperial às
províncias ainda fiéis às Cortes portuguesas. O material flutuante que permanecera no Brasil, após o regresso de Dom João VI
para Lisboa, seria o embrião da nova Marinha. Porém esse núcleo inicial era escasso e deficiente.
Estavam surtas no Porto do Rio de Janeiro as naus Martim de Freitas, Vasco
da Gama, Príncipe Real; destas, apenas pôde ser recuperada a nau Martim de Freitas, rebatizada Pedro I; a
fragata Sucesso, rebatizada Niterói, foi reparada por particulares. Os demais fragatas, corvetas e brigues,
fundeados junto ao Arsenal, eram navios de construção mais recente que as naus e foram considerados prontos para o serviço
depois de sofrerem reparos. O Arsenal da Marinha do Rio de Janeiro foi posto a trabalhar, em regime de urgência, na recuperação
e preparo dos navios, dando ênfase especial à nau Pedro I, a unidade mais poderosa.
Porém, os trabalhos, por falta recursos de toda natureza, não atingiam o ritmo
desejado e necessário. A esquadra organizada era ainda insuficiente para a campanha em que se iria engajar. Em janeiro de 1823,
foi lançada pelo governo uma subscrição nacional para comprar, reparar e equipar navios de guerra; os assinantes foram
convidados a comprar, mensalmente, ações de 800 réis, pagáveis em três anos. O patriotismo respondeu à altura do apelo. Em 1º de
abril de 1823, largou do Rio de Janeiro, em socorro da Bahia, a Esquadra Brasileira, capitaneada pela Pedro I, a que se
seguiram: fragata Ipiranga, corveta Maria da Glória, corveta Liberal e o brigue-escuna Real.
Momento em que a nau
Pedro I corta a linha portuguesa
Combate de 4 de maio de 1823
Em 1º de abril de 1823, largou do Rio de
Janeiro, rumo à Bahia, a Esquadra Brasileira, sob o comando do almirante Cochrane. Levou instruções de pôr "aquele porto em
rigoroso bloqueio, destruindo ou tomando todas as forças portuguesas que encontrar, fazendo todos os danos possíveis aos
inimigos deste império".
Capitaneada pela nau Pedro I , seguiram a fragata Ipiranga, corveta
Liberal e o brigue-escuna Real; no dia 3, o brigue Guarani juntou-se à Esquadra e no dia 25 foi a vez da
fragata Niterói reforçar a Força Naval Brasileira que demandava Salvador. Avistados os nossos navios, fizeram-se ao mar
os portugueses, transpondo a barra de 30 de abril. Com força de treze velas.
Quatro dias depois, a 4 de maio, logo após o nascer do sol, surgiu a Esquadra
Brasileira. Avançou diretamente sobre a força portuguesa, formada em duas colunas. Cochrane, percebendo um claro entre a charrua
Princesa Real e a fragata Constituição, resolveu cortar a linha por este claro e envolver a retaguarda da esquadra
lusitana antes que a vanguarda pudesse manobrar para socorrê-la. Ficaria assim, pela hábil manobra, compensada a sua
inferioridade numérica.
Por volta do meio-dia, arremeteu em cheio e começou a ação. Minutos depois,
cortou a linha inimiga pela proa da Princesa Real, seguido apenas pela Ipiranga, que outro tanto fez pela popa da
charrua.
A manobra de Cochrane certamente teria êxito, pois uma banda (disparos de
canhões de um bordo) a queima-roupa despejada por uma nau de linha como a Pedro I sobre uma charrua seria difícil de
suportar. Mas à voz de abrir fogo, faltou munição desejada, porque dois paioleiros portugueses retardaram a entrega de
cartuchos. Vendo-se ameaçado de ser envolvido pela vanguarda portuguesa, que já manobrava para inverter o rumo, Cochrane foi
obrigado a fazer um sinal de retirada. Na tarde de 7, lançou ferro na Enseada do Morro de São Paulo. Era necessário
reformular suas forças. |