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CULTURA/ESPORTE NA BAIXADA SANTISTA - Nuno
Nuno Leal Maia (1)

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Entrevista publicada no Jornal Vicentino, de São Vicente/SP, em 26 de junho de 2006, na seção Personalidades (acesso em 22/9/2012):

Nuno Leal Maia

Foto publicada com a matéria

PERSONALIDADES - junho 26, 2006
Nuno Leal Maia

Ator global consagrado, Nuno conta um pouco de sua história de vida ao JV. Santista, ele afirma não esquecer suas origens e que visita regularmente São Vicente, cidade onde viveu durante a infância. Preocupado com a preservação da história da cidade, ele defende a manutenção de prédios históricos e manifesta o desejo de instalar uma academia de teatro em São Vicente, mas diz que encontra dificuldades para implantar o projeto no Complexo de Eventos e Convenções da Costa da Mata Atlântica.

Nascido em Santos, mas com toda sua infância vivida em São Vicente, Nuno Leal Maia é filho da terra e jamais perdeu a ligação com a região. Já se apresentou por duas vezes no maior teatro ao ar livre do mundo, a Encenação da Fundação da Vila de São Vicente, e sente orgulho de promover a cultura na primeira cidade do país.

Em entrevista exclusiva ao Jornal Vicentino, Nuno Leal Maia fala sobre futebol, teatro, dificuldade em promover a cultura no país e a vontade de criar uma academia de teatro em São Vicente.

Jornal Vicentino - Você nasceu em Santos, mas toda sua infância foi em São Vicente. Como era morar em São Vicente?

Nuno Leal Maia - Nasci na Beneficência Portuguesa, só o hospital que era em Santos. Minha família morava aqui (São Vicente). Minha primeira casa ficava na rua João Ramalho. A casa ainda existe na Rua João Ramalho. Eu quero comprar a casa em que nasci. Ela fica entre a Frei Gaspar e a Américo Brasiliense. Depois mudamos para Rua Frei Gaspar. De lá fomos para a Marechal Deodoro, na linha do trem, e depois para a Pero Correa. Morei de 1947 à 1958 (em São Vicente). Tive uma infância muito boa e tranquila, porque aqui tinha bonde, era gostoso, sossegado. Tinha muito mato, muita praia, muito verde e muito mar. Eu estudei no Ateneu São Vicente.

JV - Depois de São Vicente e Santos você foi estudar em São Paulo e atualmente mora no Rio de Janeiro. Você costuma visitar São Vicente e Santos com frequência?

Nuno - Fui estudar em São Paulo e meus pais estavam morando em Santos. Depois fui morar no Rio. Daí fiquei meio aqui, meio lá. Mas nunca me desliguei daqui. Gosto de vir aqui, porque tem uma qualidade de vida mais tranquila. Cidade grande é sempre complicado. Só é bom para você desenvolver as suas atividades.

JV - Em São Paulo você foi fazer cursinho pré-vestibular. Como foi a sua vida de estudante em São Paulo?

Nuno - Fui à São Paulo para fazer cursinho pré-vestibular, com 18 anos. Foi na época da revolução de 1964, um período meio turbulento. Eu acabei entrando na faculdades de Ciências Sociais, História e Comunicação Social na USP. Comecei a assistir uma aula de Ciências Sociais e era uma confusão desgraçada naquela época. O professor era o Fernando Henrique (Cardoso, ex-presidente da República), mas era uma bagunça. Eu pensei, "vou ficar nesse caos aqui?" É muita confusão para a minha cabeça. A Comunicação Social já era mais organizada, a escola tinha dois anos - foi inaugurada em 1967 - e eu tinha entrado em 1969. Resolvi fazer Comunicação porque tinha cinema, televisão, teatro, essas coisas. E História, que comecei a gostar no cursinho, resolvi fazer também. Tirei Ciências Sociais da minha frente e comecei a estudar.

JV - Foi na faculdade de Comunicação Social que você se deu conta que a dramaturgia era a área que você gostaria de trabalhar?

Nuno - Comecei a fazer teatro depois que eu já estava cursando Comunicação. O pessoal (amigos) foi fazer teste para teatro e eu fui também. Aí acabei entrando para o teatro e larguei o curso de História. Fiz a cadeira (curso) de cinema na faculdade e o pessoal filmava muito, aí comecei a ser ator. O primeiro filme que eu trabalhei foi com o cineasta Aluísio Raonino, chamava-se Retorna Vici Tore. Era um curta-metragem. Profissionalmente, comecei no teatro com a peça Hair, mas, na realidade, já havia feito uns trabalhos como ator na faculdade.

JV - Seus pais aprovaram a escolha pela profissão de ator?

Nuno - Aprovaram sim. Meu pai ficou meio chateado quando representei uma peça em que todo mundo ficava nu. Eu vim no (Teatro) Coliseu, em Santos, numa peça em que as pessoas ficavam nuas e ele ficou meio chocado. Mas meu pai aceitou sim.

JV - No início de sua carreira, o senhor encontrou dificuldade por estar na época da ditadura?

Nuno - A minha peça era americana, então não tinha muito problema. Era um musical que não era tão agressivo. As peças que tinham mais problemas era a Roda Viva, do Chico Buarque. A Ruth Escobar, tinha o teatro dela na Rua dos Ingleses, que era meio de esquerda. O Zé Celso, o Teatro Oficina. Esses é que tinham mais problemas com a ditadura. O meu era um musical que falava sobre os hippies, por isso eles nunca ameaçaram muito, politicamente, ninguém. Foi um movimento que era mais de temperamento, de comportamento, de cabelo, de roupa. Não se metia muito com a política, embora, claro que no fundo, todo movimento é político. O meu era um pouco, mas não escancarado.

JV - O senhor já atuou em cinema, teatro e televisão. Hoje, depois de uma longa carreira, tem alguma preferência para atuar, ou para um ator consagrado é indiferente?

Nuno - Como ator, tanto faz, o importante é que eu exercite o ator que está dentro de mim. Como veículo, eu gosto muito de cinema e de teatro também. Mas acho que cinema é uma coisa que eu estou mais acostumado. A televisão eu gosto também, mas depende do diretor.

JV - A Encenação da Fundação de São Vicente é um espetáculo no qual já participou por duas vezes. Como é atuar no maior teatro ao ar livre do mundo?

Nuno - Fazer a encenação é gostoso, é uma coisa bonita. Já havia feito uma peça ao ar livre que se chamava Os amores de Terence Willians, em Americana (SP), que tem um teatro ao ar livre. Marcaram a peça em julho e nós pegamos um frio desgraçado, nunca senti tanto frio fazendo uma peça. Agora, desse nível de São Vicente não. Não senti nervosismo antes de entrar. Um negócio tão grande e com muita gente participando você relaxa mais um pouco. É bonito, sai bem ensaiado. Tem sempre a tensão de você não errar, de não fazer direito, mas não é um espetáculo que assusta.

JV - Você tem vontade de montar uma academia de teatro para incentivar a formação de novos atores da região?

Nuno - Eu queria fazer uma academia aqui em São Vicente, mas não consegui. Fui lá falar com o secretário de Cultura (Pedro Gouvêa), mas ele não me deu mais resposta, não falou mais nada. Eu tentei armar um negócio no Centro de Convenções, mas agora vou tentar fazer em Santos, na Associação dos Engenheiros. Na verdade eu queria fazer em São Vicente, pegar a população mais carente e começar a fazer com que eles (administração municipal) bancassem um grupo de teatro, infantil ou juvenil. Queria montar duas peças infantis e uma adulta, para que se exibissem em São Vicente. Cheguei até a trazer diretores para falar com ele (secretário), mas ele não falou mais nada. Cansei de procurá-lo. Liguei umas três ou quatro vezes, ele não deu resposta.

JV - Como você vê a estrutura do teatro na Baixada Santista?

Nuno - Podia melhorar muito. Acho que tudo é muito fraco. É muito pouco divulgado e pouco incentivado. Falta muito material humano. Daí a ideia de montar um curso que pudesse selecionar atores para fazer espetáculos, para então ter a renovação de talentos.

JV - Recentemente o senhor foi visitar o assentamento indígena na Praia das Vacas. Qual o intuito de ir até lá?

Nuno - Estive no assentamento indígena na Praia das Vacas para conversar com os índios, porque gostaria de fazer um documentário sobre a cultura indígena e todos os problemas que os envolve. Porque que eles estão lá? Qual o problema? O que está acontecendo? A terra é deles ou não é?… Na visita, eles foram receptivos, todos bateram papo. Agora, eles tinham que produzir alguma coisa. Fazer alguma coisa para o turismo, como por exemplo fazer uma celebração todos os domingos para a população assistir.

JV - Você tem uma grande ligação com o esporte. Chegou até a jogar pelo juvenil do Santos Futebol Clube e foi treinador. Conte um pouco da sua experiência no futebol.

Nuno - Eu sempre gostei de esporte. Futebol é a paixão que tenho desde garoto. Comecei a jogar no juvenil do Santos, daí fui ser ator e larguei o futebol. Depois voltei a jogar com o pessoal de masters no Rio contra o time da televisão. A gente fazia jogos entre o time da televisão e os masters. Depois acabei virando treinador. Fui treinador do Londrina-PR, Matsubara-PR, e Botafogo-PB.

JV - Gostou de ser treinador?

Nuno - Eu gostei. Acho legal. Mas é difícil você conseguir impor as suas ideias, é uma coisa muito disputada. Muita gente quer puxar o teu tapete. Você não consegue trabalhar direito, não consegue montar o time que você quer porque tem muito comércio. Existe um negócio de compra e venda muito grande. Se você monta um time, no dia seguinte o empresário já está vendendo todo o time. As pessoas não trabalham para o esporte, trabalham para um “comércio” que não é bom. É isso que atrasa muito o esporte.

JV - Essa foi a sua maior decepção no futebol?

Nuno - Não é que me decepcionei, é que não tem condição de fazer um trabalho assim, é difícil. A não ser que você pegue um clube que tenha essa mentalidade de querer formar jogador. Hoje, em uma temporada o time acaba. Hoje você não consegue falar a escalação do time. Montam time de ano em ano. É difícil encontrar equipes que formem jogadores. Lá no Rio, por exemplo, os times estão acabando por causa disso. Quem não fizer isso, não vai sobreviver, a não ser que você injete dinheiro, assim como o Corinthians está fazendo, comprando uma porção de jogadores. Quem tem mais injeção de dinheiro, sabe-se lá de onde vem o dinheiro, enfim, que monta um time bom.

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