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CULTURA/ESPORTE NA BAIXADA SANTISTA - NICE
Nice Lopes (6)

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Virginiana, nascida em Santos, Nice Lopes vem obtendo o reconhecimento nacional e internacional para seu trabalho como ilustradora. Em 22 de setembro de 2011, ela foi entrevistada para o site santista Artefato Cultural, mantido pela jornalista Cristiane Carvalho:

Artes Visuais
22/9/2011
O fantástico mundo de Nice Lopes

Por Érika Freire – erika@artefatocultural.com.br

Ela desenha porque acredita que é uma forma de materializar as coisas que não consegue falar. No mundo da ilustradora e publicitária Nice Lopes, os cabelos de Amy Winehouse podem se transformar em um gatinho preto com olhos verdes, Madonna pode levantar peso e ainda continuar uma bela popstar.

Foram as tardes que passava na casa de uma vizinha que levou Nice para esse ambiente mágico e colorido dos desenhos. Hoje, ela concilia a carreira publicitária com a de ilustradora. Ela comenta que não é fácil, mas como a ilustração é sua grande paixão, sempre arranja tempo, nem que seja nas madrugadas.

Para Nice, tudo pode servir de inspiração: "Uma reportagem, a leitura de um livro, uma exposição de arte, um filme, uma música, a aparição de um inseto multicolorido, enfim, tudo vai para meu caldeirão de influências".

Em entrevista ao Artefato Cultural, Nice nos contou um pouco de sua história e trabalho que vem sendo reconhecido também pelo mundo afora.


Parece que a paixão pelo desenho começou quando você costumava ver um vizinho desenhar, não é mesmo? Conte um pouco mais desta história para nós?

Quase todas as tardes eu corria para casa de uma vizinha para ver o filho dela desenhar e ele desenhava muito bem. Eu sempre imaginava: um dia vou desenhar como o Dedeco (esse era o apelido do vizinho desenhista – porque o nome dele eu nunca soube). Eu devia ter entre 4 e 5 anos e ficava atormentando o coitado para que ele me ensinasse a desenhar. Imagina! Dedeco era adolescente, mas tinha uma paciência incrível. Adorava vê-lo desenhando os heróis dos quadrinhos. Um desenho que me marcou muito foi o de J. Quest.

Quando criança, o que você costumava desenhar?

De tudo um pouco. Adorava aqueles carimbos da Disney, com desenhos do Pluto e Pato Donald, mas nunca tive um desses para colorir meus cadernos de escola e então criava meus próprios desenhos. Não gostava de desenhar casinhas e florzinhas, o que eu gostava mesmo era de projetar pássaros, peixes e insetos, até barata, acredite! (risos)

Você ficou um tempo afastada de sua arte. Como foi esse período pra você?

Minha mãe era uma grande incentivadora, comprava lápis, giz de cera, gouache e tudo que eu pedia para que eu não parasse de desenhar. Mas depois de sua morte (eu tinha 14 anos na época), fiquei sem rumo. As pessoas não compreendiam essa minha vontade e fui meio que impelida a escolher uma profissão mais "normal". O desejo de desenhar sempre esteve muito latente dentro de mim. Mas eu escondia tudo, todas as influências, o lado melancólico, o lirismo, a fantasia, acredito que ocultava até de mim mesma. Por muitos anos vivi coisas que não queria, nem sabia ao certo quem era eu, talvez eu ainda não saiba direito, mas estou somente no início da procura. Acredito que revisitar a infância e voltar a desenhar tenha sido o melhor caminho para me descobrir.

E como foi o retorno aos desenhos?

Pode parecer clichê e talvez o seja, mas precisei voltar à infância para me encontrar, para reencontrar aquela menina tão inquieta e cheia de dúvidas, que muitas vezes, foi sufocada. Depois de alguns anos e recém-saída de um casamento, visitei uma exposição na extinta Livraria Pagu, aqui em Santos. A exposição retratava o mundo das fadas e fiquei tão encantada com a atmosfera do lugar que saindo dali, tomei a decisão de voltar a desenhar. Me mudei para São Paulo e me matriculei em um curso de Desenho de Moda no Senac Lapa. Depois disso comecei a prospectar clientes na área de moda, até retornar ao Senac como professora do mesmo curso que havia sido aluna.

No que você se inspira para criar?

Costumo dizer que sou muito "influenciável", e tudo pode servir de inspiração: uma reportagem, a leitura de um livro, uma exposição de arte, um filme, uma música, a aparição de um inseto multicolorido, enfim, tudo vai para meu caldeirão de influências.

Qual foi o momento que percebeu que a Nice tinha virado uma artista?

Em 2007, o editor Julius Wiedemann, da Taschen me enviou e-mail dizendo que meus trabalhos tinham sido escolhidos para a publicação Illustration Now!, a "bíblia dos ilustradores" - uma reunião de 150 ilustradores do mundo todo. E em 2010, recebi convite para participar do Illustration Now! Portraits, uma coletânea de retratos de 80 ilustradores ao redor do mundo, lançado em agosto deste ano no Brasil. Ter ilustrações publicadas em livros internacionais importantes foi um divisor de águas para mim. Começo a acreditar que meu trabalho realmente tem consistência. (risos)

Como você administra seu trabalho como publicitária e ilustradora?

Sou funcionária pública e trabalho na área de Comunicação Social da Prefeitura de Cubatão. Costumo dizer que nas horas vagas sou ilustradora. Não é muito fácil conciliar tudo, mas a ilustração é minha grande paixão e sempre arranjo um tempo, nem que seja nas madrugadas para desenhar e atender aos anseios dos meus clientes e aos meus.

Quais são as maiores dificuldades que encontra no mercado de ilustração?

Sinto que no Brasil o trabalho do ilustrador ainda não é devidamente valorizado. Há inúmeras possibilidades de utilização. Um editorial de moda, por exemplo. Por que não somente com ilustrações? No exterior há uma quantidade enorme de agências que representam os interesses dos ilustradores e que servem de elo entre os clientes e o artista. Aqui nosso trabalho ainda é visto como "dom divino". Costumo comparar o trabalho do ilustrador com um musicista que precisa estudar, aprender novas técnicas, praticar bastante, errar, acertar, errar de novo até chegar a um belo resultado.

Você chegou a ouvir comentários desestimulantes no início sobre o caminho que escolheu dentro da arte?

Infelizmente, a gente sempre escuta coisas desse tipo. Como se desenhar fosse um hobby bonitinho e só. No meu caso, mesmo que inconscientemente eu sempre quis provar que poderia fazer carreira no meio artístico. Tive alguns percalços pelo caminho, mas depois que realmente decidi que queria isso para minha vida, tudo parece que ficou mais fácil.

Você se diz uma apaixonada por ilustração, moda, boleros e Tim Burton. Como começou essa sua admiração pelo cineasta e como ele influencia sua arte?

Era adolescente quando conheci "Edward – Mãos de Tesoura", meu primeiro contato com a obra de Tim Burton. O filme fala sobre aceitação do outro e respeito. E o que nós, pobres mortais procuramos, além de sermos aceitos, não é? Aquele dark side me emocionou de primeira. Quando li "O Triste Fim do Pequeno Menino Ostra e Outras Histórias" ou "The Melancholy Death of Oyster Boy & Other Stories" (a versão em inglês é muito mais interessante, talvez por conta das "perdas" quando se faz a tradução para o português), me inspirei para criar uma série de personagens desajustados. O livro de Burton é formado de pequenas histórias em verso de personagens surreais, melancólicos e que mais uma vez buscam aceitação acima de tudo. Como diria Philipe Barcinski, no prefácio do livro: "(...) Como seus personagens, este livro parece deslocado. Não se enquadra em nenhum nicho. É triste, mas engraçado. É infantil, mas adulto." Os meus personagens que rechearam a versão do meu calendário 2009 e que eu batizei de "Le Monde Illustré de Nice", é uma visita à minha própria infância. É quase uma catarse. Burton foi responsável por isso e ele nem sabe. Adoro esse universo surreal, melancólico, triste e sarcástico de Burton.

Gostaria que você falasse um pouco dos trabalhos que já realizou. Como foi, por exemplo, ver seus trabalhos em revistas da editora Abril?

Quando criança, petulante que era, enviei uma carta à Editora Abril. Imagina que eu, com 10 anos de idade queria desenhar para Abril. Na época, Eduardo Octaviano, então diretor de redação da divisão de publicações infanto-juvenis, muito simpático, respondeu à minha cartinha e, pasme, eu guardo essa cartinha até hoje. Mesmo ele dizendo que eu teria que aperfeiçoar meus traços, (claro!), minha mãe, mostrou a tal carta pra família toda, dizendo que o pessoal da Abril tinha respondido. Aquelas coisas de mãe coruja! Ano passado, fui convidada pela Cida Junqueira (pessoa bacanérrima), então diretora de arte da Revista Claudia para ilustrar a matéria "Guia da Lua". Fiquei super feliz e comovida! Quem diria: eu desenhando para a Editora Abril! E desde então tenho ilustrado com frequência para a revista. Acredito na letra daquela música que diz que "os sonhos não envelhecem". Já desenvolvi inúmeras estampas de camisetas e ilustrações para coleções de moda para as grifes: Bicho Comeu (RJ), Banca de Camisetas (SP), AllTracks (SP), Hully Gully (SP), Primeiro Item (SP), 5ª Geração (SP), Sims – Lass (SP), Curta Metragem (MG) e Q-Vizu (RJ). Já ilustrei para a Revista Riachuelo, Editora Livre. Ilustrei também o livro A Nuvem Vermelha da minha grande amiga Mô Amorim. O livro foi lançado ano passado na Bienal do Livro pela Editora Adonis. A galeria Urban Arts, em São Paulo comercializa alguns trabalhos meus em forma de posters e quadros. Mas também fico fascinada e muito feliz vendo meu trabalho "impresso" em suportes diferentes como joias, bottons, chaveiros e até tatuado pra sempre no corpo de alguém.

Quais são os ilustradores que você se inspira, que admira?

Gosto muito também do estilo sombrio do artista norte-americano Mark Ryden e do francês Benjamin Lacombe.

Atualmente você está trabalhando em quais projetos?

No momento estou desenvolvendo trabalhos para uma exposição individual em São Paulo, talvez para o final do ano. Serão trabalhos originais e não digitais, como costumo fazer. Está sendo desafiador! E até novembro preciso estar com as ilustrações para meu próximo calendário já finalizadas.

O que significa a arte na sua vida?

É o que me move! É minha maneira de dizer ao mundo como me sinto, o que se passa dentro da minha cabeça, é uma forma de materializar coisas que não consigo falar.

Não consigo me imaginar sem desenhar... É minha vida!

Você tem algum “ritual” antes de começar a desenhar? Costuma ouvir música, enfim, como se prepara?

Ultimamente tenho escutado música clássica. Mas não tenho um "ritual" fechado. Às vezes tomo uma taça de espumante, para relaxar, leio um livro. Mas quase sempre não é assim, principalmente quando tenho uma demanda urgente de algum cliente, não sobra tempo para inspiração, o negócio é transpiração.

E os planos futuros?

Tempos atrás (quando eu era mais metódica), vivia fazendo planos para o futuro, até descobrir que o futuro adora subverter nossos planos. Hoje, o que faço é traçar metas, e entre elas está a de continuar desenhando e surpreendendo as pessoas com meu trabalho.

Quais dicas você daria para quem quer começar a desenhar e viver de arte?

Desenhe, desenhe e desenhe. Nunca desista! Faça cursos, procure ter boa uma cultura geral, leia, observe, escute! Uma paisagem ao longo da viagem pode ser a abertura para ideias fascinantes.

Amy Winehouse, por Nice Lopes. (Amy, cantora e compositora nascida em Londres em 14/8/1983 e falecida naquela capital em 23/7/2011)

 

Em 1º de julho de 2010, o blogue Urban Arts publicou esta entrevista com Nice Lopes:

Entrevista com Nice Lopes

Ilustradora nas melhores horas, Nice é virginiana com ascendente em libra, nascida em Santos/SP, formada em Publicidade, apaixonada por ilustração, moda, boleros, Tim Burton e espumantes. Teve seus trabalhos publicados no Illustration Now, da Editora Taschen.

 

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