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CULTURA/ESPORTE NA BAIXADA SANTISTA
Cumba Júnior

Sobre o poeta Cumba Júnior, o antigo jornal Commercio de Santos publicou, na edição especial pelo centenário da Independência do Brasil, em 7 de setembro de 1922 (ortografia atualizada nesta transcrição):

Cumba Junior

Cumba Junior

Imagem publicada com a matéria

Remanescente da fase simbolista inaugurada no Brasil pelo gênio de Cruz e Souza, Cumba Junior tem inédito um formoso livro de versos, sugestivamente intitulado Holocausto.

A despeito de ser o único dos poetas de Santos que não se abalançou ainda a aparecer com as honras e responsabilidades de um volume não lhe é menor, por isso, o prestígio que firmou aqui e em S. Paulo, onde reside.

Muito moço, julga bem que não deve correr afoitamente atrás da falena pérfida em que é de uso simbolizar-se a Glória.

Holocausto contém trabalhos preciosos. O poeta é também um artista: maneja o verso com bastante elegância.

Sendo, como é, um visualista mais do que um emotivo, Cumba Junior transformou a ânsia amorosa que lhe vai pela alma em versos de uma ardência apenas comparável à que incendeia as estrofes de Gilka Machado.

É este um exemplo de vontade e um modelo de trabalho. O brilho do seu nome deve-o a si mesmo, pelo esforço com que, desde criança, se empenha para se colocar acima da mediocridade.

Suplício de Tântalo

 

Desejar sua posse e não poder possuí-la

e ter de recalcar, recôndito, no peito,

este desejo atroz, que aos poucos, me aniquila

na rude  ânsia febril do gozo insatisfeito;

 

antepor à paixão o dever e o respeito;

ter a carne em delírio e mostrá-la tranqüila

e sopitar latente o incontido despeito

de ver outro, feliz, osculá-la e cingi-la:

 

eis aí todo o meu enorme sacrifício,

a causa do meu mal, que me torna um infausto

Tântalo condenado a este duro suplício.

 

E, para mitigar a febre do desejo,

ao menos, não poder haurir, hausto por hausto,

Na taça do seu lábio o néctar do seu beijo!

Cumba Junior

Imagem: reprodução de trecho da matéria original de 7/9/1922