Afonso Schmidt
Inda há pouco, era o charco,
onde as flechas douradas
do fino caniçal se embalavam ao vento
e pela noite fora, as rãs enamoradas
coaxavam ao luar seu eterno lamento.
Drenou-se o charco, enfim.
As águas estagnadas
tiveram nos canais o seu livre escoamento;
rasgaram a palude avenidas calçadas,
muros de pedra e cal, passeios de cimento.
Cantavam fortemente as mócas dos canteiros;
caldeirões infernais ferviam nos braseiros;
o asfalto se expandia em salubres odores.
Foi assim que se fez a nossa rua honesta,
limpa, caiada e branca, eternamente em festa,
eternamente a rir, com crianças e flores!
Poesias. São Paulo, Gráfico Ed. Unidas Ltda., 1934, p. 120. |
Afonso Schmidt
Numa tarde longa e mansa, os dois pela estrafa vão:
o cão estima a criança,
e a criança estima o cão.
Que delicada aliança dos seres da criação:
uma risonha criança,
um robustíssimo cão.
Deus percebeu a lembrança e sorriu lá na amplidão:
ele gosta da criança,
que trata bem o seu cão.
Por isso, na tarde mansa, os dois felizes lá vão:
a delicada criança
e o robustíssimo cão.
Em: Poesia brasileira para a înfância, Cassiano Nunes e Mário da Silva Brito, São Paulo, Saraiva:1968 (publicado no blogue Peregrinacultural's Weblog, acesso em 24/6/2018) |