Reportagem da revista O Cruzeiro em 24 de julho de 1948 sobre o escritor
Afonso Schmidt, com fotos de Roberto Maya e texto de Arlindo Silva:
A ÁRVORE DO ESCRITOR - Diz o slogan que um homem para ser completo deve ter um
filho, escrever um livro e plantar uma árvore. Afonso Schmidt, senhores, fez tudo isso em multiplicata...
BRINDE AO TRIUNFO - Logo que foi conhecido o resultado do concurso de O Cruzeiro,
Afonso Schmidt foi homenageado em São Paulo por amigos escritores e editores
UM MUNDO DE AVENTURAS encheu a existência de Afonso Schmidt. Os seus livros contêm
histórias vividas por ele próprio em vários países da Europa
O 23º livro de Afonso Schmidt saiu pouco antes do escritor participar do concurso de
O Gruzeiro. Menino Felipe é, assim, a sua 24ª obra
O PÃO NOSSO DE CADA DIA, diante da máquina. Além de livros, ele produz crônicas para
os diários paulistanos e escreve textos de publicidade
AMIGO DO CIRCO - Schmidt levou uma existência atribulada, porque veio da pobreza.
Hoje, ele recebe a visita de Alcebíades, famoso palhaço de circo
O ESCRITOR E AS FÃS - O autor de Menino Felipe, que venceu o concurso desta
Revista, vai distribuindo autógrafos a senhoras e senhoritas da sociedade paulistana
O VOVÔ E OS NETINHOS - Dagoberto e Zuleika, nas tardes de domingo, fazem a delícia
do vovô. Mais tarde, talvez estarão povoando os livros do escritor
O CASAL SCHMIDT - Num lar simples e tranqüilo, cercado do carinho da esposa, D.
Adélia, terminaram as desvairadas aventuras do jovem Afonso
PAI E FILHOS - Os três moços pertencem à Aeronáutica: Bruno, Sérgio e Aldo. Os
sonhos do menino Felipe. Todas as viagens romanescas que Afonso realizou foram, mais tarde, motivo para vários de seus livros
O BEIJO DE CONGRATULAÇÕES - é uma maneira expressiva de felicitar o vovô pelo triunfo
conquistado
Imagens: acervo do Arquivo Histórico Municipal de Cubatão
As aventuras do Menino Felipe
Um pouco da vida de Afonso Schmidt que triunfou no maior concurso literário
realizado no Brasil - Prêmio O Cruzeiro de Cr$ 60.000,00
Texto: Arlindo Silva. Fotos: Roberto Maya
Dentro de mais alguns dias, amigos, podereis ler, nestas
páginas, os capítulos empolgantes do romance Menino Felipe, que acaba de conquistar o primeiro prêmio, de sessenta mil cruzeiros, no grande
concurso promovido por esta vossa Revista. Já se sabe, agora, a identidade do autor que se ocultou sob o
pseudônimo de Valério Salvio e cuja obra mereceu os votos unânimes dos membros da comissão
julgadora, composta dos escritores Marques Rebêlo, Ciro dos Anjos e Álvaro Lins.
E quando, três dias depois de publicados os resultados do maior certame literário até
agora organizado no país, apareceu nesta redação, apresentando a terceira via de Menino Felipe, o escritor paulista Afonso Schmidt, houve
exultação aqui na casa, porque se constatava que o triunfo fora conquistado por um homem que, tendo nascido e criado na pobreza, conseguiu, pela
própria vontade, num admirável esforço autodidático, tornar-se uma figura marcante da literatura brasileira da atualidade.
Poeta, contista, teatrólogo, biógrafo e romancista, o vencedor do concurso de O
Cruzeiro é um nome consagrado, e somente no ano de 1942 obteve três prêmios da Academia Brasileira de Letras: o de romance, o de conto e o de
obras originais e inéditas. Hoje, com perto de trinta anos de militância no jornalismo e nas belas letras, a sua obra alcança, com Menino Felipe,
o total de 24 volumes de real mérito.
De temperamento inquieto, simples como o mais simples dos cidadãos, idealista e
lutador, a existência de Afonso Schmidt tem sido uma grande aventura. Assim, ela fica bem definida. E em qualquer circunstância, em qualquer época,
essa existência está sempre impregnada de um tom humorístico.
Schmidt nasceu na casa-grande de um engenho, paralisado havia muitos anos por lhe
terem desviado o curso d'água que o movimentava. Isso aconteceu em 1890, no distrito de Cubatão, próximo a Santos, numa região onde existem duas
coisas: pantanais e lavouras de bananas. O seu primeiro contato com o ABC se deu em duas ou três escolinhas do mato, que funcionavam em casebres e
que tinham por alunos os filhos dos trabalhadores nos bananais, dos tiradores de areia, de lenha, de casca e de folhas de mangue, para os curtumes.
Viveu, pois, entre aquela gente humilde, suada e boa, que, muitos anos mais tarde, havia de figurar nos seus romances, contos e versos.
E o Menino Felipe que aparece em muitas das suas obras, realizando viagens
romanescas e envolvendo-se em aventuras do outro mundo, não é nada mais nada menos que o próprio autor, o próprio Afonso Schmidt, o menino inquieto,
arrojado, sedento de conhecer mundo. O romance Menino Felipe, que esta Revista acaba de premiar, tem muito da biografia do autor. É uma história
paralela à que ele levou, constituída de todos os meninos Felipes do seu conhecimento.
Afonso Schmidt tem o velho hábito de recorrer à memória para fixar figuras e paisagens
da sua infância. Ao longo dos anos, fixou um mundo de recordações. Foi guardando tudo isso carinhosamente. Um dia, mexendo na papelada, viu que,
para um romance, só faltava preencher os claros. O concurso de O Cruzeiro apressou esse trabalho, e surgiu Menino Felipe, que, dentro de mais
uns poucos dias, começará a ser publicado, em capítulos, nesta Revista. (...) |