Além de ator, Serafim Gonzalez também é escultor
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ENTREVISTA
Paixão pelo teatro
Textos, edição e diagramação: Patrícia Pontes e Daniele de Lucca
Serafim Gonzalez, 72 anos, 55 anos de carreira como ator e escultor. Nesta entrevista conta parte da sua história, fala da sua paixão pelo teatro, de como aprendeu a exercer o ofício de ator, de sua atividade
como escultor e sua admiração pela cidade de Santos. Simpático, educado, agradável, Serafim, que atualmente é um ator da Rede Globo, concedeu a entrevista ao Primeira Impressão na sua residência, no bairro do
Marapé.
PI: Como o senhor iniciou sua carreira?
Serafim: Comecei como todo mundo começa na minha profissão de ator. Na minha época não tinha cursos de teatro, eram salões paroquiais das igrejas, onde ensinavam catecismo, teatro e também onde
apresentávamos espetáculos de música e teatro. Comecei a fazer esses cursos e brincar com arte. Tinha 10 anos e fazia um programa de rádio, que era feito também por outras crianças. A gente fazia também rádio-teatro. Aí comecei a fazer teatro
amador. Com 17 anos prestei um concurso em São Paulo para fazer um jovem índio em uma peça que iria estrear em São Paulo e acabou estreando no Rio. Então não parei mais. Aprendi fazendo.
PI: A família te apoiou no início da carreira?
Serafim: Meu pai gostava muito de teatro, cinema e íamos de três a quatro vezes por semana. Naquele tempo era muito comum irmos ao cinema.
PI: Qual o maior problema que o senhor enfrentou naquela época?
Serafim: Quando eu comecei existia muito preconceito e a sociedade acreditava que todo ator era gay. Eu achava que não tinha a menor importância ser gay ou não, quanto mais ser ator ou não. As
pessoas de classe média não faziam teatro. O teatro era muito sacrificado como profissão e não havia notoriedade como hoje na televisão. A classe média começou a invadir as artes cênicas depois que a televisão se tornou algo muito forte e
penetrante.
PI: O que diferencia o aprendizado do passado para os dias de hoje?
Serafim: Na minha época o talento aparecia primeiro que o aprendizado. Agora não, agora as pessoas fazem o aprendizado e depois vão ver se têm talento. O importante no teatro é saber fazer, ter talento.
PI: Entre o teatro e a TV, o que o senhor gosta mais?
Serafim: Eu gosto mais de fazer teatro por causa da reação imediata do público. Quando fazemos alguma coisa engraçada, por exemplo, se o público achar graça há risadas e gargalhadas imediatas, diferente da
TV, onde o ator faz e depois vai perceber a reação do público. Aí já não há mais jeito de refazer e no teatro não deu certo num dia, o ator tenta encontrar na próxima apresentação outra forma de fazer o público rir. Vamos tentando até acertar.
PI: Qual o gênero que o senhor gosta mais de atuar?
Serafim: Não tenho preferência por gêneros, gosto de fazer algo inteligente com alguma utilidade ética, moral, política. Mas isto não é tão fácil hoje em dia principalmente na TV, que tudo gira em torno do
Ibope.
PI: Qual o gênero mais difícil?
Serafim: O gênero mais difícil de interpretar é a comédia porque ou você faz o público rir ou você não estará alcançando o seu objetivo. O drama, mesmo as pessoas que não têm tanto talento ou tanta prática,
experiência, conseguem obter melhor resultado.
PI: E quanto às esculturas, como o senhor começou a trabalhar?
Serafim: Eu comecei indo para a beira do mar, pegando um punhado de areia e deixando cair pelas mãos e quando caem formam algumas agulhas e quando formam várias você tem um castelo de areia.
PI: Como o senhor começa a esculpir?
Serafim: A escultura está pronta primeiro na cabeça, depois que começo a realizar com as mãos, às vezes dá uma preguiça de fazer a escultura porque ela já está imaginada e você já viu o final. Mas é bom
fazer, ela sai exatamente como o imaginado.
PI: Quanto tempo o senhor leva para esculpir?
Serafim: Cada escultura leva seu tempo, às vezes complicamos muito a idéia e aí a execução fica mais difícil. Uma idéia feliz é mais interessante.
PI: Qual o gênero?
Serafim: Não tenho um gênero definido, eu faço figuras, mas também abstrações. Faço escultura figurativa e quase sempre estilizo. O jeito como trato a figura não é realista, é o meu olhar sobre aquilo.
PI: Qual material o senhor utiliza e [de] qual mais gosta?
Serafim: Uso pedra, barro, areia, fibra de vidro, bronze, papel jornal. Eu gosto muito de trabalhar com o barro porque ele é macio e maleável, com o barro dá para se moldar tudo.
PI: O senhor prefere esculpir ou atuar?
Serafim: Eu gosto dos dois, mas existe uma grande diferença. A escultura é uma arte individual, é você e o material. Já o ator precisa trabalhar com uma equipe, também é muito gostoso.
PI: O senhor é apaixonado por Santos. De onde vem essa paixão?
Serafim: Eu gosto de Santos primeiro porque é uma cidade que se localiza muito bem, você pode identificar onde mora apenas dizendo "eu moro no canal 3", por exemplo. Quando eu era garoto nós marcávamos
encontros na praia lá pelo canal 2, 3, 4. É simples da gente se entender com a cidade. As pessoas de Santos são muito acolhedoras, diferente de outras que vivi como o Rio de Janeiro e São Paulo. É impossível viver com uma criança em São Paulo e
querer que ela tenha qualidade de vida. Então corremos para Santos porque aqui ela tem praia para passear, brincar, tem um espaço muito grande para viver.
PI: Qual a sensação de pisar no teatro Coliseu depois de tanto tempo?
Serafim: Vem toda a lembrança de um período muito grande porque no Coliseu eu apresentei dezenas de peças. Todas as peças que eu fiz em São Paulo até 1965 eu apresentei no Teatro Coliseu e na infância todas
as peças que assisti foram no Coliseu. Há toda uma ligação entre espectador e o ator. Então, chegar agora e lembrar como era e ver como está hoje é muito emocionante.
Serafim atuou em dezenas de peças no Teatro Coliseu
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