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CULTURA/ESPORTE NA BAIXADA SANTISTA - POETA DO MAR
Vicente de Carvalho (6)

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Publicado no jornal santista A Tribuna, em 26 de março de 1913 (página 2 - ortografia atualizada nesta transcrição):
 


Foto publicada com a matéria

Soneto

Alma serena e casta que eu persigo

Com meu sonho de amor e de pecado,

Abençoado seja, abençoado

O rigor que te salva e é meu castigo.

 

Assim desvies sempre do meu lado

Os teus olhos; nem ouças o que eu digo;

E assim possa morrer, morrer contigo,

Este amor criminoso e condenado.

 

Sê sempre pura! Eu com denodo enjeito

Um proveito obtido com teu dano,

Bem meu que teus males fosse feito.

 

Assim quero, assim penso, assim me engano,

Como se não soubesse que em meu peito

Pulse o covarde coração humano.

Vicente de Carvalho

Soneto publicado no Almanaque de Santos para 1959 (Santos/SP, 1ª edição, 1959), páginas 73 (biografia) e 75 (soneto):

 BIOGRAFIAS - Vicente de Carvalho

Vicente de Carvalho nasceu na cidade de Santos, em 5 de abril de 1866 e faleceu nesta cidade em 22 de abril de 1924. Fez em Santos os seus primeiros estudos, indo depois cursar o curso secundário no Seminário da Capital, saindo para seguir a carreira jurídica, ingressando na Faculdade de Direito de São Paulo, onde formou-se com apenas 20 anos de idade.

Pertenceu a uma geração brilhante e tomou parte ativa nas duas grandes campanhas que então empolgavam a mocidade: a abolição e a república. Seu primeiro livro de versos - Relicário - causou profunda impressão nos meios literários do país, pois já se adivinhava ali o poeta cuja obra resistiria ao tempo. Mais tarde publicou o belíssimo poema Rosa, rosa de amor e, finalmente, em 1908 o seu livro definitivo Poemas e Canções, que o consagrou como um dos maiores poetas do Brasil.

Vicente de Carvalho é considerado não só um imenso poeta nacional mas da língua portuguesa, sendo o Poemas e Canções o livro de versos mais editado em todo o país, em edições sucessivas e sempre com o maior êxito.

Membro da Academia de Letras de São Paulo e da Academia Brasileira de Letras, onde tomou assento na cadeira de Martins Pena, Vicente de Carvalho militou com o mesmo brilho na imprensa, na prosa e na política, tendo sido um dos mais ilustres magistrados de São Paulo.

Santos se ufana, e com muita razão, de ser o berço natal do grande poeta e como penhor dessa gratidão, erigiu-lhe em uma das suas belas avenidas, junto "do mar, belo mar selvagem", que ele cantou em inesquecíveis poemas, um majestoso monumento, obra do escultor Caetano Fracarolli.



Imagem: página 75 do Almanaque de Santos para 1959

Soneto

Belas, airosas, pálidas, altivas

Como tu mesma outras mulheres vejo,

São rainhas e as seguem num cortejo

Extensa multidão de almas cativas.

 

Têm a alvura do mármore; lascivas

Formas, lábios feitos para o beijo,

E indiferente e desdenhoso as vejo,

Belas, airosas, pálidas, altivas.

 

Porquê? Porque lhes falta, a todas elas,

Mesmo as que são mais puras e belas,

Um detalhe sutil, um quase nada:

 

Falta-lhes a paixão que em mim te exalta,

E entre os encantos que lhes sobram, falta,

O vago encanto da mulher amada!

Vicente de Carvalho

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