Para formar o acervo do novo equipamento, foram reunidos cerca de 200 trabalhos, entre
mangás, histórias de heróis e humor
Foto: reprodução, publicada com a matéria
QUADRINHOS
São Vicente vai ganhar fanzinoteca
Fanzineiros terão um espaço para mostrar seu trabalho e trocar idéias
Da Reportagem
Reconhecimento e imortalização da obra de quem nunca
teve espaço na mídia, bem como sua apresentação ao grande público. Chegou a vez dos outsiders. A iniciativa, inédita no Brasil, vem de São
Vicente e vai se concretizar dia 11 de novembro, com a inauguração de uma Fanzinoteca.
Só para dar a dimensão desse novo espaço cultural, será a terceira Fanzinoteca criada
do mundo, segundo o coordenador do projeto, Fábio Tatsubô. "Há uma na Galícia (Espanha), que faz a catalogação anual mundial, mas não é aberta à
visitação pública; e outra em Paris, que não faz catalogação (recebe fanzines por meio de doação), mas cujo acervo fica à disposição das pessoas. A
nossa será a união dos dois sistemas".
A idéia da Fanzinoteca surgiu em 1999, quando a prefeitura estimulou a produção de
fanzines sobre as lendas locais, e, depois, para comemorar os 500 anos do Descobrimento. Foi neste último projeto, com apoio do Sistema A Tribuna
de Comunicação, que São Vicente abocanhou o cobiçado Troféu AHQ Mix, o mais importante da América Latina no gênero. O passo seguinte foi organizar
oficinas de iniciação e de aperfeiçoamento.
"A produção disso tudo nos fez descobrir, em nossa cidade e na região, excelentes
autores e inúmeros novos talentos. Daí veio a idéia de abrir uma Fanzinoteca", diz o coordenador Fábio Tatsubô.
Mapeamento - Em janeiro deste ano, a prefeitura de São Vicente começou a fazer
o mapeamento da produção de fanzines no Brasil, para conhecer o universo, as tendências (ficção, humor, heróis, mangá...), iniciativa inédita no
País. Até porque, explica Fábio, a história em quadrinhos comprada em bancas não é nossa, mas sim um produto de fora que aqui recebe tradução (de
acordo com nossa cultura) e nova paginação.
Foram recebidos cerca de 200 fanzines, principalmente de São Paulo, Ceará e Porto
Alegre, envolvendo cerca de 3 mil pessoas (autores e colaboradores). Do total, 90% são de HQs, e o restante, de ficção, romance, poesia,
literatura...
Outra descoberta: do total dos HQs, 60% são de mangás, 20% de heróis e 20% de humor. O
curioso é que, também do total geral (dos quase 200), 40% dos fanzines são de autoras. Isso mesmo, de mulheres que produzem e editam, o que causou
surpresa. No ano que vem, a idéia é estender a catalogação para Europa, EUA e Japão.
"No meio das artes plásticas, o fanzine é tido como subproduto. Se o artista plástico
tem um criterioso trabalho para produzir um quadro, o fanzineiro também, e em dobro, pois cria as imagens e a narrativa. A Fanzinoteca vai
imortalizar o autor, a obra e colocá-los em contato com o grande público. Quem tem o que dizer e mostrar quer que as pessoas ouçam e vejam", avalia
Fábio Tatsubô.
No dia 11 de novembro, haverá uma exposição (com direito a painel e luz, do tipo das
de artes plásticas) com as capas dos 200 fanzines, que poderão ser vistas até o dia 28. No dia seguinte, os fanzines inteiros estarão à disposição
de curiosos e pesquisadores.
|
A região tem excelentes autores e inúmeros novos talentos
|
|
Mas o que é? - Para quem não sabe o que é, fanzine vem da soma das palavras
fantastic e magazine (fã de revista). Surgiu na década de 30, nos EUA, entre apaixonados por ficção científica.
É uma publicação totalmente underground, anárquica, sem estética comercial, de
característica autoral, na qual o autor publica suas idéias e necessidades de forma bem libertária. Geralmente é xerocada (ou distribuída via
e-mail), mas durante anos foi mimeografada. Pode ser em forma de história em quadrinhos (o fanzine mais comum), literatura, música ou poesia.
"O fanzine circula em um meio fechado, sempre no mesmo circuito, via Correio.
Geralmente o autor produz pouco, devido à falta de estrutura. É preciso mandar um trabalho para receber outros, ou seja, entrar no sistema. Agora,
em tempos de Internet, está sendo um pouco mais divulgado. Mas é uma mensagem que morre logo, uma vez que você pode demorar até seis meses para
fazer um fanzine, e, quando vai divulgá-lo, já surgiram outras idéias", explica Fábio Tatsubô.
Com a cara e a coragem, o normal é o fanzineiro sair por aí com sua produção debaixo
do braço e bater de porta em porta para mostrar sua mensagem. Muitos conseguem, devido ao seu talento, ser contratados como desenhistas em agências
e de marcas famosas de HQ. Para quem ainda não alcançou tal estágio, o ponto de partida pode ser a Fanzinoteca. Ela vai funcionar na Rua João
Ramalho, 378. Mais informações pelo telefone 3467-7015.
Fábio Tatsubô,
coordenador do projeto, diz que o fanzine é considerado um subproduto
Foto: Adalberto Marques, publicada com a matéria
|