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CULTURA/ESPORTE NA BAIXADA SANTISTA - HQs
Quadrinhos têm destaque na região (1)

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A matéria a seguir foi publicada em 2 de maio de 1998 no caderno Tribu do jornal santista A Tribuna, dentro da seção O Balão do Bar, em que o cartunista Bar noticiava assuntos ligados ao universo dos quadrinhos:
 


Bigail, uma criação de Seri, pode virar em breve uma história em quadrinhos
Ilustração publicada com a matéria

O BALÃO DO BAR
A capital da HQ nacional é AQUI

Santos tem uma certa tradição em relação aos desenhos e aos quadrinhos. O já falecido cartunista e chargista Ascendino, ou melhor, Dino, foi um dos primeiros a retratar Pelé, quando ele ainda era um garoto.

Dino fez charges e caricaturas para A Tribuna até o fim de sua vida, sempre procurando mesclar imagens e textos, numa alusão aos quadrinhos. Outro chargista e cartunista que durante muitos anos fez os santistas refletirem e darem risadas foi J.C. Lobo, que trabalhou no extinto jornal Cidade de Santos.

Lobo, assim como Dino, sempre procurou a fusão do texto com a imagem, não se atendo apenas ao impacto da imagem. Mais uma vez é o espírito dos quadrinhos presente no trabalho de um artista local.

Contracultura - Mas o quadrinho propriamente dito surge com força na nossa Cidade a partir da década de 70, quando começaram a surgir revistas e fanzines que levantavam a bandeira da contracultura. Neste período, surgiu na USP a revista Garatuja, liderada pelo santista Antônio Carlos Perez. Por meio de uma linguagem nova e dinâmica, ele mostrou seu trabalho superligado, na época, aos movimentos de vanguarda europeus e americanos.

Perez conseguiu disseminar esta idéia entre outros santistas e outros fanzines foram surgindo, não só nas faculdades, mas em escolas também. Para tomar consciência da importância dessas revistas, basta citar que os irmãos Paulo e Chico Caruso começaram com fanzines. Angeli, Laerte e Glauco também, e muitos outros artistas que hoje fazem parte da grande imprensa e de revistas de sucesso beberam dessa fonte.

E foi em 1979 que uma turma de escola liderada por Flávio Calazans começou a publicar um dos fanzines mais antigos do Brasil, o Barata, que abriu espaço para muitos desenhistas não só de Santos como de outras cidades e estados. A revista continua a ser editada e, no segundo semestre deste ano, teremos mais um número, com novo visual e reformulado.

Os artistas que participaram deste zine também conseguiram espaço em publicações maiores. É o caso de Gazy Andraus, que participou da revista Matrix, vencedora da I Bienal Internacional de Quadrinhos do Rio, da revista Metal Pesado e da Brazilian Heavy Metal.

O fanzine é a melhor maneira de os artistas mostrarem seu trabalho sem o compromisso com a editora. Ele é livre, um palanque a céu aberto, onde todos podem mostrar suas idéias.

Marcelo Garcia tentou, em 96, mudar essa visão com a revista Ervilha. Fugir do esquema de fanzine era sua intenção, mas a receptividade do mercado não foi a esperada e a revista não passou da primeira edição.


Ervilha foi uma tentativa de fugir do esquema de fanzine
Ilustração publicada com a matéria

Órgãos públicos dão uma força

Tivemos alguns projetos patrocinados por órgãos públicos. É o caso da história de Santos em quadrinhos feita para a administração petista, pelo artista Pagé. Unindo seu traço peculiar com colagens, ele mostrou as passagens de lutas e mudanças sociais da nossa Cidade. Hoje, a revista pode ser encontrada na Gibiteca Marcel Paes.

Ela é outro ponto importante da história da HQ na nossa Cidade. O nome da gibiteca é uma homenagem ao jornalista Marcel Paes, um dos grandes incentivadores desse espaço. Ele sempre foi aficcionado por quadrinhos e tinha sua coluna de quadrinhos em A Tribuna.

Infelizmente Marcel deixou nosso convívio em dezembro de 92, mas fez sua paixão por quadrinhos perdurar nos freqüentadores da gibiteca. E a paixão pela arte seqüencial fez com que muitos se aventurassem com fanzines e associações, como José Leite Júnior, que tentou formar uma AQCD em Santos nos moldes da existente em São Paulo.

Trabalho ingrato, pois não existe mercado para isso aqui. Hoje, ele e Emílio Baraçal ensinam quadrinhos na gibiteca todos os domingos. As turmas são cada vez maiores.

Outros tentaram criar espaços comerciais e de encontro para aficcionados, caso da Associação de RPG (N.E.: sigla de rolle-playing game, tipo de jogo em que os participantes devem seguir um roteiro formando uma história, conforme as características dos personagens que assumiram), onde funcionava a Comic Shop Monolito (depois de Dreamland), a Invasores e a Universo Paralelo. Todas fecharam deixando muitos fãs de quadrinhos a ver navios.

Os únicos espaços onde os fãs podem encontrar seus objetos de desejo são a banca Estátua e a Hot Import. Na banca, que foi uma das primeiras a vender material importado, você encontra tudo de HQ, e na Hot Import, todos os bonecos produzidos na terra do Tio Sam.

Mas alguns continuam na batalha para divulgar os quadrinhos e seus trabalhos. É o caso do Anderson Picotez, que expôs na gibiteca, no centro de Cultura, na extinta ARPGS e hoje trabalha na produção de camisetas de super-heróis personalizados.

Comicon - Existem também aqueles que divulgavam sua arte e ensinavam nos espaços extintos, caso de Leonardo e Cícero, que ensinavam na Invasores. Eles continuam dando aulas particulares e, recentemente, Cícero organizou um evento, uma Comicon no colégio Canadá.

Foi o segundo encontro de quadrinhos reunindo desenhistas que trabalharam para o mercado norte-americano em Santos. O primeiro também foi organizado por Cícero. Mas ao que tudo indica esse tipo de evento não vai ser restrito apenas a artistas que desenham super-heróis. Em breve, estaremos divulgando outros eventos como uma convenção de Anime e um concurso de HQ, novidades trazidas por José Luiz Leite Jr.


A revista de Calazans abriu espaço para novos artistas em Santos
Ilustração publicada com a matéria

Mais gente boa

E fugindo ainda mais da área de super-seres vêm os trabalhos de Ruy Jobim, que é autor do cão Jarbas. Ele já conseguiu editar quatro números das aventuras de Jarbas e pretende fazer uma animação com seu personagem.

Ruy estudou cinema e tem uma excelente visão desta área, tanto que tem um projeto de fazer um curta sobre Miéscio Caffé, um dos mais importantes chargistas brasileiros e que atualmente mora em Praia Grande.

Seri, chargista e ilustrador de A Tribuna, também tem projetos para sua personagem Bigail. Ela já ajudou a divulgar os direitos das crianças e dos adolescentes por uma cartilha, participou de campanhas publicitárias impressas e na TV, e agora está desesperada por uma oportunidade de ver sua revistinha nas bancas.

A intenção de Seri é fazer uma revista com o formato vertical, parecida com as do personagem Calvin e que traria toda a turma: Edu, Joaquim, As Meninas Gordas, Gustavo, Little Shadow e tantos outros.

Mas enquanto a revista não sai, Bigail vai divulgando as novas regras do Novo Código Nacional de Trânsito. Serão 100 mil exemplares distribuídos nas escolas públicas para ajudar crianças e adolescentes a entenderem as novidades no trânsito. Dá pra ver que a atividade de quadrinhos não está morta em Santos e, se fôssemos falar de todos os projetos que pairam sobre nossas cabeças, seriam necessárias três edições do Tribu, com página inteira para esclarecer tudo.

Quem sabe um dia poderemos dizer que Santos é a capital nacional do quadrinho!

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