Bigail, uma criação de Seri, pode virar em breve uma história em quadrinhos
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O BALÃO DO BAR
A capital da HQ nacional é AQUI
Santos tem uma certa tradição em relação aos desenhos e
aos quadrinhos. O já falecido cartunista e chargista Ascendino, ou melhor, Dino, foi um dos primeiros a retratar Pelé, quando ele ainda era um
garoto.
Dino fez charges e caricaturas para A Tribuna até o fim de sua vida, sempre
procurando mesclar imagens e textos, numa alusão aos quadrinhos. Outro chargista e cartunista que durante muitos anos fez os santistas refletirem e
darem risadas foi J.C. Lobo, que trabalhou no extinto jornal Cidade de Santos.
Lobo, assim como Dino, sempre procurou a fusão do texto com a imagem, não se atendo
apenas ao impacto da imagem. Mais uma vez é o espírito dos quadrinhos presente no trabalho de um artista local.
Contracultura - Mas o quadrinho propriamente dito surge com força na nossa
Cidade a partir da década de 70, quando começaram a surgir revistas e fanzines que levantavam a bandeira da contracultura. Neste período, surgiu na
USP a revista Garatuja, liderada pelo santista Antônio Carlos Perez. Por meio de uma linguagem nova e dinâmica, ele mostrou seu trabalho
superligado, na época, aos movimentos de vanguarda europeus e americanos.
Perez conseguiu disseminar esta idéia entre outros santistas e outros fanzines foram
surgindo, não só nas faculdades, mas em escolas também. Para tomar consciência da importância dessas revistas, basta citar que os irmãos Paulo e
Chico Caruso começaram com fanzines. Angeli, Laerte e Glauco também, e muitos outros artistas que hoje fazem parte da grande imprensa e de revistas
de sucesso beberam dessa fonte.
E foi em 1979 que uma turma de escola liderada por Flávio Calazans começou a publicar
um dos fanzines mais antigos do Brasil, o Barata, que abriu espaço para muitos desenhistas não só de Santos como de outras cidades e estados.
A revista continua a ser editada e, no segundo semestre deste ano, teremos mais um número, com novo visual e reformulado.
Os artistas que participaram deste zine também conseguiram espaço em publicações
maiores. É o caso de Gazy Andraus, que participou da revista Matrix, vencedora da I Bienal Internacional de Quadrinhos do Rio, da revista
Metal Pesado e da Brazilian Heavy Metal.
O fanzine é a melhor maneira de os artistas mostrarem seu trabalho sem o compromisso
com a editora. Ele é livre, um palanque a céu aberto, onde todos podem mostrar suas idéias.
Marcelo Garcia tentou, em 96, mudar essa visão com a revista Ervilha. Fugir do
esquema de fanzine era sua intenção, mas a receptividade do mercado não foi a esperada e a revista não passou da primeira edição.
Ervilha foi uma tentativa de fugir do esquema de fanzine
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Órgãos públicos dão uma força
Tivemos alguns projetos patrocinados por órgãos públicos. É o caso da história de
Santos em quadrinhos feita para a administração petista, pelo artista Pagé. Unindo seu traço peculiar com colagens, ele mostrou as passagens de
lutas e mudanças sociais da nossa Cidade. Hoje, a revista pode ser encontrada na Gibiteca Marcel Paes.
Ela é outro ponto importante da história da HQ na nossa Cidade. O nome da gibiteca é
uma homenagem ao jornalista Marcel Paes, um dos grandes incentivadores desse espaço. Ele sempre foi aficcionado por quadrinhos e tinha sua coluna de
quadrinhos em A Tribuna.
Infelizmente Marcel deixou nosso convívio em dezembro de 92, mas fez sua paixão por
quadrinhos perdurar nos freqüentadores da gibiteca. E a paixão pela arte seqüencial fez com que muitos se aventurassem com fanzines e associações,
como José Leite Júnior, que tentou formar uma AQCD em Santos nos moldes da existente em São Paulo.
Trabalho ingrato, pois não existe mercado para isso aqui. Hoje, ele e Emílio Baraçal
ensinam quadrinhos na gibiteca todos os domingos. As turmas são cada vez maiores.
Outros tentaram criar espaços comerciais e de encontro para aficcionados, caso da
Associação de RPG (N.E.: sigla de rolle-playing game, tipo de jogo em que os participantes devem seguir um
roteiro formando uma história, conforme as características dos personagens que assumiram), onde funcionava a Comic Shop
Monolito (depois de Dreamland), a Invasores e a Universo Paralelo. Todas fecharam deixando muitos fãs de quadrinhos a ver navios.
Os únicos espaços onde os fãs podem encontrar seus objetos de desejo são a banca
Estátua e a Hot Import. Na banca, que foi uma das primeiras a vender material importado, você encontra tudo de HQ, e na Hot Import, todos os bonecos
produzidos na terra do Tio Sam.
Mas alguns continuam na batalha para divulgar os quadrinhos e seus trabalhos. É o caso
do Anderson Picotez, que expôs na gibiteca, no centro de Cultura, na extinta ARPGS e hoje trabalha na produção de camisetas de super-heróis
personalizados.
Comicon - Existem também aqueles que divulgavam sua arte e ensinavam nos
espaços extintos, caso de Leonardo e Cícero, que ensinavam na Invasores. Eles continuam dando aulas particulares e, recentemente, Cícero organizou
um evento, uma Comicon no colégio Canadá.
Foi o segundo encontro de quadrinhos reunindo desenhistas que trabalharam para o
mercado norte-americano em Santos. O primeiro também foi organizado por Cícero. Mas ao que tudo indica esse tipo de evento não vai ser restrito
apenas a artistas que desenham super-heróis. Em breve, estaremos divulgando outros eventos como uma convenção de Anime e um concurso de HQ,
novidades trazidas por José Luiz Leite Jr.
A revista de Calazans abriu espaço para novos artistas em Santos
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Mais gente boa
E fugindo ainda mais da área de super-seres vêm os trabalhos de Ruy Jobim, que é autor
do cão Jarbas. Ele já conseguiu editar quatro números das aventuras de Jarbas e pretende fazer uma animação com seu personagem.
Ruy estudou cinema e tem uma excelente visão desta área, tanto que tem um projeto de
fazer um curta sobre Miéscio Caffé, um dos mais importantes chargistas brasileiros e que atualmente mora em Praia Grande.
Seri, chargista e ilustrador de A Tribuna, também tem projetos para sua
personagem Bigail. Ela já ajudou a divulgar os direitos das crianças e dos adolescentes por uma cartilha, participou de campanhas publicitárias
impressas e na TV, e agora está desesperada por uma oportunidade de ver sua revistinha nas bancas.
A intenção de Seri é fazer uma revista com o formato vertical, parecida com as do
personagem Calvin e que traria toda a turma: Edu, Joaquim, As Meninas Gordas, Gustavo, Little Shadow e tantos outros.
Mas enquanto a revista não sai, Bigail vai divulgando as novas regras do Novo Código
Nacional de Trânsito. Serão 100 mil exemplares distribuídos nas escolas públicas para ajudar crianças e adolescentes a entenderem as novidades no
trânsito. Dá pra ver que a atividade de quadrinhos não está morta em Santos e, se fôssemos falar de todos os projetos que pairam sobre nossas
cabeças, seriam necessárias três edições do Tribu, com página inteira para esclarecer tudo.
Quem sabe um dia poderemos dizer que Santos é a capital nacional do quadrinho! |