Cidade grande e cidade pequena
Ficou a meu critério a escolha destes contos que a Editora
Cultrix desejou incluir num dos primeiros volumes da sua coleção subordinada ao título geral de Histórias. Dando um balanço nos muitos contos que publiquei, vi que poderia reuni-los em dois ou três grupos distintos de acordo com os assuntos
e os ambientes, para não dizer os gêneros.
Aqui são histórias passadas no Rio de Janeiro. Parecem-me formar um todo, porque se trata de tipos e episódios aparentados pelo meio social, pelas
condições de vida (vida quase sempre difícil, sob o signo do estudante Batista e do caixeiro Antônio Maria) ou por certos traços psicológicos, certas inquietudes e certas frustrações.
A divisão não é arbitrária: longe da metrópole marítima, bem outra é a matéria e o sentido, bem outros são os tipos e episódios de vários contos meus
(sob o signo de Nhá Rosa ou do prisioneiro baiano de São Bento do Sapucaí) que poderão constituir, pela mesma preocupação de unidade, um volume que será então de Histórias de Cidade Pequena.
Ainda assim narrativas de outra espécie, talvez as que me são mais caras, não estariam coerentes com aqueles títulos. Não era grande nem era pequena a
cidade da minha infância. Como não dar lugar à parte às histórias em que aparece Ricardinho quebrando vidraças da vizinhança, ou à turma da Rua D. Luísa Macuco malhando os rivais da Avenida Conselheiro Nébias, ou na Praia do Gonzaga meu coração
juvenil palpitando entre as pontas do dilema: Carolina ou Bilu? Não, está decidido: esses papéis que, misturados a outros, andam por aí impressos, exigem também existência independente; e será um volume só de Histórias de Meninos.
R.C.
Belgrado, em 20 de janeiro de 1960. |