AMIZADE - O gavião Tonico virou mascote e, mesmo livre, não vai embora
Foto: Nair Bueno/DL
Indústria tem reserva natural para fauna e flora
Lucas Martins
Repórter
Soda cáustica, cloro e derivados. Estes são os produtos
fabricados pela Carbocloro, indústria do Pólo Industrial de Cubatão. Mas, na Semana do Meio-Ambiente, as personagens mais importantes da fábrica são
as mais de 120 espécies de árvores e 156 de animais, que convivem com os processos de produção de forma harmônica.
Desde 1997, a empresa recebe animais apreendidos pela Polícia Ambiental e pelo
Instituto Brasileiro do Meio-Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama). São produtos do tráfico de animais silvestres. Aqueles que fazem
parte da fauna da região e que conseguem se readaptar, são devolvidos à natureza. Caso contrário, permanecem nos viveiros.
"Todas (as jaulas) são pelo menos três vezes maiores do que limite mínimo
determinado pelo Ibama. A preocupação com o bem estar dos animais é enorme", garante a bióloga responsável pelo programa da empresa, Maria Cecília
Furegato.
Além dos viveiros, dentro do terreno da fábrica, lado a lado com os equipamentos
industriais, estão 40 mil m² de Mata Atlântica. Destes, 7 mil m² foram tombados pelo Ibama em 1991 como Reserva Particular do Patrimônio Natural (RPPN).
Nas décadas de 50 e 60, toda a região da encosta da Serra do Mar, em Cubatão, foi
bastante degradada pelo início das atividades do pólo industrial. À época, não havia a necessária preocupação com os danos que os resíduos dos
processos de produção poderiam causar ao meio-ambiente.
Com a destruição quase completa dos ecossistemas da Mata Atlântica, houve uma
mobilização, já em meados da década de 70, para recuperar a fauna e a flora nativas. Foram pelo menos duas décadas para que as espécies voltassem a
se proliferar na região.
"A partir do momento em que houve uma preocupação em não se agredir a natureza, ela
foi se recuperando por si só", explica o gerente de engenharia de fábrica, Celso Fernandes da Cruz. "Hoje, até o ambiente de trabalho é mais
agradável".
Quem teve papel importante no reflorestamento foram os pássaros. Houve plantio de
palmitos que atraem aves pioneiras, aquelas que trazem sementes de outros pontos da Mata Atlântica. "Isso formou uma diversidade até maior do que a
existente anteriormente".
Mascote - Em uma das visitas da Polícia Ambiental à fábrica, um gavião com uma
das asas machucada chegou para ficar três meses: período de tratamento e contato com os funcionários, especialmente com o líder de manutenção,
Alcides Antunes Vid. Ele foi escolhido para ser responsável pelos animais devido ao seu amor por eles.
Durante o tratamento, "Seo" Alcides batizou o gavião de Tonico. Mas o dia da
soltura chegou. A ave seria devolvida a seu habitat natural. Entretanto, o inesperado aconteceu. Mesmo em liberdade e curado, Tonico não foi
embora. Está há três anos "morando" no setor de manutenção da fábrica. Come na mão dos funcionários e passeia pela área comum. "Ele é nosso
amigo, nosso mascote. De vez em quando sai para voar, mas sempre volta".
Idéias - O trabalho do dia-a-dia na oficina de manutenção da empresa também
ganhou um toque especial. Um grande aquário foi colocado na parede que separa o local do corredor. Os funcionários trabalham de frente para os
diversos peixes. "Foi uma idéia que partiu deles próprios e que a empresa resolveu abraçar", conta Fernandes da Cruz.
Outro aquário, também instalado por iniciativa dos operários da fábrica, está em uma
passagem da estação de tratamento de água - que é captada de rios da região, usada para resfriamento nos processos industriais, tratada e depois
devolvida. "A vida dos peixes no aquário, à vista de todos, é a prova de que devolvemos água de qualidade. Melhor do que coletamos", garante Cruz. |