Foto: Raimundo Rosa, publicada com a matéria
Cubatão prepara tombamento de cemitério judeu
Local serve para contar a história da migração de um povo
Da Redação
O Cemitério Israelita de Cubatão absorve uma história centenária que remonta a um capítulo pouco lembrado do passado: a
imigração judaica. E esse local cercado de mistérios e curiosidades deverá ser tombado, ainda este ano, pelo Conselho Municipal de Defesa do Patrimônio Cultural (Condepac).
Conselheiros do Condepac e a secretária municipal de Cultura e Turismo, Patrícia Campinas já se reuniram na Capital com representantes da Associação Chevra Kadisha. Essa entidade
administra os cemitérios israelitas em São Paulo. O conselho obteve total apoio da entidade no processo.
Instalado no interior do Cemitério Municipal, o Cemitério Israelita tem 800 metros quadrados e 75 sepulturas feitas em granito (55 de mulheres e 20 de homens). A lápide mais antiga data
de 1924 e a mais recente é de 1966.
Polacas - A curiosidade habita no fato de lá estarem enterradas, em sua maioria, as chamadas polacas. Mulheres judias que no início do século 20 deixaram o Leste
Europeu, atingido pelo antissemitismo, em direção à América. Elas chegaram com a promessa de casamentos, mas acabaram sendo exploradas.
"É brilhante a ideia de conservar os campos-santos como patrimônios culturais, pois reconta a história da imigração judaica e reconhece o trabalho de preservação feito por nós", afirmou
o vice-presidente da associação, Rubens Muszkat.
A Chevra Kadisha cuida dos cemitérios israelitas no Estado desde 1923. Além de Cubatão, gerencia os campos-santos de Embu, Santana e da Vila Mariana, na capital.
A Chevra Kadisha assumiu o de Cubatão em 1996. Na época, o local se encontrava em completo estado de abandono, com sepulturas deterioradas e solo quebradiço. As obras de restauração
incluíram o conserto e recuperação dos matzeivot (túmulos), ajardinamento, pavimentação das ruas, instalação de lavatório, colocação de placa indicativa no portão e de local apropriado para o acendimento de velas.
O cemitério foi, então, reinaugurado em1 997, preservando de forma mais íntegra a história da comunidade judaica na Baixada Santista.
Agosto - De acordo com o presidente do Condepac, Welington Borges, o tombamento do Cemitério Israelita de Cubatão deve acontecer em agosto, quando a prefeita Marcia Rosa deve
assinar o decreto.
O processo por si só garante apenas o reconhecimento histórico. Mas a ideia é implantar um projeto de educação patrimonial ali, com a recuperação e restauração das lápides, reabertura do
espaço para visitação pública com monitores e inclusão do espaço em roteiros históricos.
"Cubatão é rota para o Litoral e o Cemitério Israelita seria um ponto de parada na própria história da imigração de outros povos no Brasil", avaliou Borges. A iniciativa foi apoiada pela
secretária de Cultura e Turismo, Patrícia Campinas, e pelos conselheiros Augusto Muniz Campos (vice-presidente), Maria do Carmo Araújo Amaral (1ª secretária), Rubens Alves de Brito (coordenador do Órgão Técnico de Apoio) e José Fabiano Madeira.
Depois dessa reunião, o Condepac vai dar continuidade ao processo de tombamento, anexando informações e laudos técnicos que comprovam a importância histórica e cultural do espaço. Daí, o
documento seguirá para o Executivo.
O reconhecimento do Cemitério Israelita como patrimônio cultural torna Cubatão uma das poucas cidades brasileiras a possuir bens imóveis tombados com relação ao tema judaico, de acordo
com Roney Cytrynowicz, participante da Chevra e doutor em História pela USP, que também esteve no encontro.
"Temos o Cemitério de Inhaúmas no Rio de Janeiro, o Memorial Judaico, em Vassouras (RJ), e o prédio da antiga Sinagoga, no Recife (PE) como patrimônios tombados pela sua relevância
histórica e cultural. O de Cubatão vai ser um deles", garantiu Roney Cytrynowicz.
A Chevra Kadisha assumiu o Cemitério Israelita de Cubatão em 1996
e fez uma ampla reforma no local
Foto: Raimundo Rosa, publicada com a matéria
Curiosidades |
Fica dentro do Cemitério Municipal de Cubatão |
Ocupa uma área de 800 m², onde estão 75 sepulturas |
A lápide mais antiga é de 1924 e a mais nova, de 1966 |
Maioria das campas é de polacas, mulheres que migraram para o Brasil e acabaram exploradas |
Cemitério vai ser a quarta edificação no País a ser preservada por sua relação com judeus |
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