Residindo na França, mas visitando Cubatão periodicamente, o artista
Jean Ange Luciano é bem conhecido dos cubatenses, por colocar em suas telas temas ligados à história da cidade. Mesmo reproduzindo telas de outros
pintores, Jean deixa a sua marca pessoal nos quadros, com imagens escondidas e pequenos acréscimos.
Em 9 de abril de 1973, o jornal santista A Tribuna publicou, na página 7:
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Jean aponta o caminho do sonho de Schmidt
Quando Jean Luciano fez ilustrações
para uma palestra sobre a obra de Afonso Schmidt Zanzalá, não se preocupou com o Cubatão de hoje. Ou seja, ele se fixou inteiramente nas
descrições do escritor para recriar a cidade imaginária. Mais surpreendente, para quem não conhece o artista, é saber que ele acredita num Cubatão
mais humano, com vida cultural intensa. E justifica sua maneira de pensar.
Se não acreditasse nisso, Jean talvez não estivesse tão ligado às coisas cubatenses. Sua
sobrevivência na cidade-indústria pode até parecer paradoxal: um artista resistindo isolado numa comunidade voltada quase que exclusivamente para o
trabalho sólido, cuja vista alcança apenas as chaminés fumegantes, numa paisagem onde faltam aqueles elementos coloridos que costumam inspirar os
pintores.
Ele se mantém, e à família, com trabalhos encomendados, com projetos de casas residenciais e
comerciais, um pouco de decoração, tudo enfim que se relacione com sua arte. Suas habilidades de redução, no campo acadêmico, são muito elogiadas.
Ele sabe exatamente porque faz esse tipo de pintura:
"Se me oferecem Cr$ 10 mil por uma reprodução de Michelângelo, eu faço. O problema não é meu e sim
de quem dá mais valor a uma cópia do que a trabalho original".
Morando, atualmente, em Santos, Jean Luciano não está desligado de Cubatão, onde tem uma casa.
Lembra como era a cidade dez anos atrás - a rua onde morava era, na verdade, uma vala - reconhece que as condições agora são bem melhores e talvez
um dia volte para lá. Sempre foi e continua sendo muito ligado à vida pública de Cubatão, só tem elogios para o apoio que recebeu das administrações
municipais. Ainda agora está preparando alguns trabalhos (que ele chama de clássicos e não de acadêmicos) para uma exposição.
"De que adiantaria expor meus trabalhos de pesquisa, que só seriam entendidos por meia dúzia de
iniciados? As pinturas que vou expor são exatamente o que a média da população aprecia".
Suas esperanças residem no Centro Cívico, projetado para abrigar os poderes púbicos e um pavilhão
de exposições permanente. Desse local poderá nascer a base da humanização da cidade. Será um meio de transformar Cubatão não num Zanzalá, mas numa
cidade que terá uma população em nível cultura compatível com o seu estágio econômico.
"Até agora, a grande preocupação foi criar indústrias, montar um conjunto de produção, angariar
recursos financeiros. Agora, pode-se pensar em alguma coisa que antes poderia parecer supérflua: uma vivência cultural, intelectual, de valorização
humana".
Ou seja, Jean acha que a cidade já atingiu um estágio econômico e financeiro que lhe permite
patrocinar o desenvolvimento da cultura. Acredita, também, que esse desenvolvimento só pode ser conseguido com estímulo, com apoio financeiro, com
iniciativas dos poderes públicos.
Duas gerações - Cubatão foi povoada com elementos vindos de fora, de várias regiões do
País, cuja única preocupação era encontrar trabalho e ganhar dinheiro. Isso, há 20 anos. Agora há uma nova geração, jovens nascidos em Cubatão, mas
que, levados pela sociedade em que se criaram, poderão preocupar-se mais em seguir carreiras técnicas. Embora diferentes da geração de operários não
qualificados, estes futuros engenheiros, arquitetos ou profissionais técnicos terão a mesma lacuna artística e cultural da geração anterior, que não
podia ter semelhante preocupação.
"Um pavilhão de exposições permanentes, bibliotecas e outros locais semelhantes permitirão aos
jovens um contato logo cedo com estes valores. Poderão descobrir vocações e descobrir-se. Se não há mais talentos aqui, é porque não há condições
para se revelarem.
Jean Luciano vai um pouco mais longe. Sugere a criação de um salão nacional, em grande estilo,
como o que existe em Campinas e que supera o de muitas capitais. Faz notar que, sendo um município economicamente bem desenvolvido, até oferece um
campo maior para atividades culturais. Um pintor, por exemplo, tem melhores condições de realizar-se numa comunidade que possa comprar seus
trabalhos.
"Depende das medidas governamentais que Zanzalá não fique, para sempre, um simples sonho: que
Cubatão não pense em função de Santos; que se transforme numa cidade humanamente habitável".
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Para o futuro - O trabalho de preparação das gerações futuras já começou. E Jean toma parte
ativa nele, dando aulas de desenho a um grupo de 20 crianças selecionadas de várias escolas municipais. Entre elas, 4 ou 5 mostram um talento
encorajador e estarão prontas para criar boas obras assim que adquirirem a técnica necessária para que cada um desenvolva seu ego e encontre formas
de expressão próprias".
As pinturas de Jean Luciano que ele mais aprecia são classificadas como geométrico-figurativas.
Mas seus desenhos (bico-de-pena) tem características muito pessoais, facilmente identificáveis. Nem por isso deixa de fazer incursões em outros
gêneros e de produzir obras em estilo clássico ("que agradam a gregos e troianos").
Sua mulher diz que eles podem viver com muito pouco e Jean sente-se bem em poder criar obras que
representam uma evolução artística sem a preocupação de vendê-las. Se, de repente, seus quadros começarem a faturar, talvez vá viver na Bahia ou em
outro lugar igualmente bonito.
Mas, sobretudo, Jean Luciano deixa a impressão de uma pessoa muito consciente; que entende a
realidade e procura modificá-la em termos efetivos e não em sonhos e ilusões. Para Cubatão, ele aponta o caminho do Zanzalá no apoio oficial à
cultura. Pessoalmente prefere citar o exemplo de Sérgio Cardoso:
"Ele gastou seu talento de ator de primeira categoria em televisão, com a finalidade de construir
um teatro próprio e se realizar. Morreu antes de conseguir. Eu espero continuar vivo até lá".
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