Em 5 de abril de 2006, foram divulgados pelo Departamento de Imprensa da Prefeitura de Cubatão os primeiros resultados do censo geral na Vila dos Pescadores:
Censo na Vila dos Pescadores é mais uma fase cumprida para a urbanização da área
População é menor que a imaginada, mas o nível de renda ainda inferior ao que se esperava
Mais de 38% das 2.797 famílias residentes nos 3.043 imóveis da Vila dos Pescadores contam com renda inferior de R$ 350,00. Pouco mais da metade das 10.502 pessoas
que moram na área seque concluiu o curso fundamental. Dos chefes de família residentes na favela, 20,8% estão desempregados (alguns há mais de dez anos) e 44,5% deles não recebem qualquer auxílio. As palafitas representam 44,2% das moradias, e
apenas 19% das casas contam com rede pública de esgoto, 53,5% possuem hidrômetro e 7,6% têm medidores de energia elétrica. São os primeiros números que retratam a realidade do bairro, e servirão como base para a elaboração dos projetos de
reurbanização da favela, que estão sendo preparados pela Prefeitura de Cubatão, com apoio do Banco Mundial.
O censo dos moradores, iniciado em 23 de janeiro, foi concluído no dia 30 de março com a entrega do relatório pelo Instituto de Pesquisas A Tribuna (Ipat). Segundo o engenheiro Luiz Fernando
Verdinassi, coordenador da equipe do Projeto Guará Vermelho, esses dados serão analisados em profundidade pelos técnicos da Prefeitura, ao mesmo tempo em que três outros grupos atuam em vertentes diferenciadas do problema.
Um desses grupos, coordenado pela empresa J. M.R., da especialista Lúcia Cavendish (que também está atuando em Maputo, na Nigéria), ficou encarregado de promover reuniões com os moradores da Vila
dos Pescadores, nos vários setores em que foi dividida a área, para explicar como funcionará o processo de urbanização proposto pelo Projeto Guará Vermelho e as etapas a serem vencidas. Ao mesmo tempo, reúne dados para a concepção do projeto
de urbanização, captando os desejos da comunidade.
Já o grupo coordenado pela Novoa Planejamento e Consultoria está elaborando o relatório de avaliação ambiental, sendo também responsável pelo preparo do Estudo de Impacto Ambiental-Relatório de
Impacto no Meio-Ambiente (Eia/Rima), determinando as linhas mestras do reassentamento. E a empresa Tuzzolo está iniciando os trabalhos de sondagem na área obtida da Rede Ferroviária Federal (Refesa), mapeando o subsolo para definir as condições em
que serão edificadas as novas moradias.
Assim, segundo Luiz Fernando, em meados de junho a Prefeitura terá condições de contratar a elaboração do projeto básico do reassentamento dos moradores, com previsão de estar concluído seis meses
depois. Ao mesmo tempo, com a consolidação dos dados no próximo semestre será feito o pedido formal de financiamento ao Banco Mundial, que, ao ser aprovado, e tendo-se em mãos o projeto básico, tornará enfim possível a realização da concorrência
pública para as obras.
Vila dos Pescadores, em fevereiro de 2006
Foto: Carlos Moura/Departamento de Imprensa/Prefeitura de Cubatão, em 17/2/2006
Números - Uma equipe de 23 pesquisadores do Ipat realizou o censo na Vila dos Pescadores, mapeando as unidades habitacionais existentes e entrevistando os moradores. Seriam 3.118 edificações
a serem recenseadas, com cerca de 12 mil moradores, e a primeira descoberta é que esses números são um pouco menores: o censo registrou a presença de 3.043 imóveis, dos quais 2.653 usados na forma de moradias familiares, 34 têm uso comercial, 2 são
de instituições, 103 de uso misto e 251 estão fechados, sem uso. Foram pesquisadas 2.797 famílias, com 10.502 pessoas, resultando na média de 3,75 pessoas por família.
Dos 10.502 moradores, 1.382 (13,1%) são crianças até três anos de idade; 630 (6º), de 4 a 6 anos; 859 (8,2%) de 7 a 10, enquanto 7.631 (72,7%) têm acima de 11 anos de idade. 50,2% da população é do
sexo feminino, sendo que 35,9% das mulheres são chefes de família. A população da Vila compreende 7,6% de pessoas até os três anos de idade, 6,4% de 4 a 6 anos, 8,7% de 7 a 10; 9,4% de 11 a 15; 4,8% de 16 e 17; 18,4% de 18 a 25; 17,8% de 26 a 35;
18,1% de 36 a 50 anos, 5,6% de 51 a 60 anos, 2,3% de 61 a 70 anos e 0,9% acima dessa idade.
Dos moradores com mais de 11 anos de idade, 4,3% são analfabetos, 62,1% possuem o ensino fundamental incompleto e outros 4,4 completaram essa etapa de escolaridade; 13% possuem ensino médio
incompleto e 14,7 completaram esse curso; 0,5% iniciaram os estudos superiores, e 0,2% completaram tais estudos. Dado curioso é que 0,8% não souberam responder a essa questão.
Não foram detectados analfabetos na população de 11 a 17 aos, mas 80% possuem o ensino fundamental incompleto. Já entre os adultos, 5,3% são analfabetos e 58% possuem o ensino fundamental
incompleto; 5,1% completaram o curso fundamental, 12,1% iniciaram os estudos em nível médio e 17,8% completaram o Ensino Médio.
A renda familiar de 38,8% da população é de até R$ 350,00; 33,4% dos moradores reúnem renda familiar de R$ 350,01 a R$ 700,00; 16,5% se enquadram na faixa seguinte, até R$ 1.050,00; 6,9% têm renda
familiar de R$ 1.050,01 a R$ 1.400,00; 2,8% se situam na faixa de R$ 1.400,01 a R$ 1.750,00; 0,9% dos moradores está na faixa seguinte, até R$ 2.100,00 e 0,7% se enquadram na faixa acima desse valor.
A renda familiar, dividida por moradores (per capita), resulta em ganhos de até R$ 90,00 por pessoa, para 29,7% da população; 27,5% dos moradores estão na faixa seguinte, até R$ 180,00; 26,2%
ficam na faixa de valores de R$ 180,01 a R$ 350,00; 13,1% se situam na faixa de R$ 350,01 a R$ 700,00; de R$ 700,01 a R$ 1.050,00 estão 2,8%; de R$ 1.050,01 a R$ 1.400,00 ficam 0,4%; na faixa seguinte, até R$ 1.750,00, estão 0,2%; não há registros
na faixa seguinte, e 0,1% da população do núcleo tem renda familiar per capita acima de R$ 2.100,00. Entre os chefes de família, a renda máxima apurada foi de R$ 4.000,00, e a média fica em R$ 295,83.
A maior parte dos chefes de família (33,6%) é natural do próprio Estado de São Paulo, mas há 21,2% de pernambucanos, 12,8% de baianos, 7,6% são sergipanos, 7% alagoanos, 4,3% mineiros, 3,5%
cearenses, 2,6% paraibanos. O censo registrou ainda 1,9% de naturais do Rio Grande do Norte, 1,6% do Paraná, 1,4% do Rio de Janeiro, 0,8% do Piauí, e percentuais menores do Espírito Santo, Maranhão, Mato Grosso, Pará, Rio Grande do Sul, Santa
Catarina e outros lugares.
Ainda em relação aos chefes de família, 1,1% chegaram à Vila antes de 1960, 2,8% de 1961 a 1970, 12,6 na década de 70, 25,3% nos anos 80, 37% de 1991 a 2000 e 19,4% desde então, enquanto 1,2% não
souberam informar e 0,5% "sempre moraram" no local. 36% deles já moravam antes em outros locais de Cubatão, enquanto 29,3% procedem de outros estados, 26,4% de outras cidades da Baixada Santista, 8,1% são de outras cidades paulistas e alguns (0,2)
não souberam ou não quiseram responder.
Um total de 63% dos chefes de família trabalha atualmente, e 36,1% destes possuem carteira assinada. Dos 37% que não trabalham, 56,3% são desempregados e 43,7% aposentados. Entre os desempregados,
apenas 2,1% perderam o emprego nos 30 dias anteriores à pesquisa, enquanto 15,5% ficaram nessa condição de 1 a 3 meses antes; 16,6% ficaram desempregados de 3 a 12 meses antes do censo; 27,7%, de 13 a 24 meses antes; 17,1% dos chefes de família
estão desempregados de 3 a 5 anos, enquanto 12,5 estão nessa condição nos últimos 6 a 10 anos e 7,1% acima de uma década; 1,3% dos chefes de família não apresentou resposta para esta questão.
55,5% dos desempregados recebem auxílio e destes, 19,9% recebem pensão, 25,3% aposentadoria, 25,5% são auxiliados por projetos sociais, 23,6% recebem auxílio-doença, 4,9% obtêm seguro-desemprego e
0,8% não responderam. O auxílio corresponde a até R$ 90,00 para 19,4% dos chefes de família desempregados, indo de R$ 90,01 a R$ 180,00 para 13,7% dessas pessoas, de R$ 180,01 a R$ 350,00 para 30,2% dos chefes de família desempregados, enquanto
9,9% do total estão na faixa seguinte, até R$ 1.050,00 e 3,6% recebem auxílio em valor maior que esse (e 1,2% não sabem ou não quiseram responder).
Apenas 24,8% dos desempregados possuem outro tipo de renda, sendo que 28,2% destes ganham com bicos diversos, 22,3% recebem pensão e 18% aposentadoria, 10,2% ganham com o comércio, 6,3% têm renda
advinda de projetos sociais, 5,8% ganham auxílio-doença, 5,3% recebem por serviços de faxina, 1,9% ganham com aluguel e outro tanto não soube responder.
Das crianças até 3 anos de idade, 47,3% são meninas e 89% não estão em creches. Na faixa dos 4 a 6 anos, 50,4% são meninas e 9,6% estão fora de escola; de 7 a 10 anos de idade, 46,6% são meninas e
0,7% desse universo está fora de escola.
Quanto ao domicílio, 93,5% das casas são próprias, 2,8% cedidas, 1,6% coabitadas e 2,1% alugadas (o valor médio do aluguel é R$ 150,25). Das casas próprias, 56,4% foram construídas pelos próprios
moradores, 39,3% adquiridas, 1,3% permutadas, 1,6% foram herdadas e 1,4% são resultado de doação. (4,6 moradores usam a casa como residência, 1,4% para comércio, 3,9% das casas têm uso misto e 0,1% institucional. 67,6% das construções são de
madeira, 27,9% de alvenaria, 4,4% mistas e 0,1% de outros tipos. Também é de madeira o piso em 48,7% das casas, enquanto 2,1% têm chão em terra batida, 19,7% em cimento, 28,8% em cerâmica e 0,7% estão em chão misto. 95,2% das casas têm banheiro
interno, mas a média é de 1,2 famílias usando o mesmo banheiro.
Ainda: 72,1% das casas são isoladas e 27,9% geminadas; 90,7% das casas são térreas e 9,3% são sobrados; 44,2% são palafitas. Em 12,6% dos casos o teto é em laje; em 62,2%, a cobertura é de amianto;
1,9% das casas têm cobertura mista e 23,3% são cobertas com telhas.
Em 62,2% dos domicílios, o lixo é coletado pela Prefeitura; 5,8% é jogado em terrenos baldios; em 0,1% dos casos é queimado e para 31,9% das moradias o recolhimento é feito através de caçambas. Em
53,5% das casas há hidrômetro, enquanto 46,2% dependem de bico de empréstimo e 0,3% não contam com o benefício. O esgoto é despejado em fossas em 9,4% das moradias, e segue pela rede pública em 19% das residências, mas em 68,8% dos casos vai para o
rio ou escorre pelo chão (e em 2,8% das casas os moradores não souberam responder sobre a destinação dos dejetos). Quanto à luz, 7,6% das moradias contam com medidor, 19,1% são abastecidas por meio de "gatos" na rede elétrica, 7,7% dependem de
empréstimo e 65,6% das moradias pagam taxa de eletricidade.
A pesquisa, que também apurou dados sobre as lideranças existentes na Vila dos Pescadores, tabulou mais alguns dados econômicos: 9% das casas contam com automóvel, 87,7% com fogão, 82,6% com
geladeira, 86,7% com televisor, 17,8% estão equipadas com forno micro-ondas, 34,5% com DVD, 13,9% com freezer, 52% com celular, 49,4 com lavadora de roupas, 5,1% têm computador e 56,8% contam com bicicletas. Na maior parte dos itens citados, há
apenas um por moradia, mas a pesquisa registrou casos em que o morador possui dois automóveis (3,5% das moradias), dois ou mais telefones celulares (25,1%), dois ou mais televisores (18,3%), e mais de uma bicicleta (28,7%).
Entretanto, 43% dos pesquisados foram morar na favela devido às condições financeiras, 18,7% para sair do aluguel, 11,8% para morar com a família ou perto, enquanto 11,5% foram criados ali mesmo,
6,9% moram na vila para procurar emprego, 4,4% casaram com um morador. Em 21,5% dos casos, o incentivo para morar na Vila dos Pescadores veio dos pais, a família em geral motivou outros 14,2% dos moradores, 12,9% mudaram-se para o núcleo por
iniciativa própria, 12,7% foram incentivados pelos cônjuges, 11% por irmãos, 9,8% por amigos e 4,7% por chefes ou patrões. 71,2% dos moradores possuem parentes residindo no município.
9,5% dos moradores possuem portadores de deficiências na família; em 85,2% das famílias, pelo menos um dos membros contraiu dengue, 92,1% tiveram casos de hipertensão, 93,3% registraram casos de
problemas cardíacos; 88,9% das famílias conviveram ou convivem com alguma pessoa mentalmente afetada, 58,1% tiveram um dos membros com verminose (18,5%, duas pessoas, 16,4%, três pessoas, 7%, quatro ou mais pessoas); 82,7% das famílias registraram
ao menos um caso de doença respiratória.
Em 35,6% das famílias alguém ingere medicamentos diários. Nesse universo de pesquisa, 58,7% usam medicamentos para hipertensão, 24,8% usam medicamentos para saúde mental, 12,7% para diabete, 11,8%
para problemas cardíacos, 8,1% para problemas respiratórios, 4,5% usam anticoncepcional, 2,6% ingerem medicamentos contra dor e 10,4% usam remédios para outras finalidades.
Por fim, dos imóveis não estritamente residenciais, 42,9% são bares, 14,3% mercadinhos, 11,4% salões de beleza, 8,6% são bar/mercearia; 5,7% são lojas de roupas, 2,9% são bazares, 2,9%
bombonières, 2,9% de costura, 2,9% lanchonetes, 2,9% padarias e 2,9% são lojas de produtos de beleza.
Departamento de Imprensa
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