NÚCLEOS DE CUBATÃO/SP
Vila Pelicas
Vila Pelicas, com a ferrovia acima, a Via Anchieta abaixo e o Rio Casqueiro à direita
Imagem: Wikimapia (acesso: 12/12/2013)
Originou-se quando um grupo de pessoas ligadas à pesca, na década de 1930, de um modo particular a família Pelicas, se instalou naquela área. A vila conta com
algumas residências ocupadas permanentemente e outras servindo à atividade pesqueira turística (pesca recreativa). Localiza-se entre a Via Anchieta e a Avenida Dr. Tancredo de Almeida Neves, à margem do Rio Casqueiro, ocupando uma área de 1,2
hectare. Pela lei municipal 1.774, assinada em 8 de junho de 1989 pelo prefeito Nei Eduardo Serra, o local antes conhecido como Vila Pelicas passou a ser denominado Vila Ângelo Nunes Pelicas.
Vila Pelicas, vista da ponte da Via Bandeirantes sobre o Rio Casqueiro
Imagem: Google Street View, em março de 2011 (acesso: 12/12/2013)
A lei municipal 2.365, que em 28 de junho de 1996 aprovou o Plano Diretor do Município de Cubatão (e já revogada pelas leis complementares 2.512 a 2.514, de 10/9/1998, que entretanto repetiu a
definição) assim definia a área especial de interesse público (IP) número 9, compreendendo a Vila Pelicas e citando as instalações da Rede Ferroviária Federal S.A. (RFFSA ou Refesa), privatizadas pouco depois:
"IP-9 (ENTRE RFFSA E VIA ANCHIETA E VILA PELICAS) - Começa no ponto situado nos trilhos da RFFSA, na altura do KM 9 + 750,00 m do qual, defletindo em ângulo de 90º, segue em direção à Faixa de
Domínio da DERSA/VIA ANCHIETA, passando pelos fundos dos Lotes 1 e 2 da Quadra A do Loteamento CDHU/Vila São José, até atingir o limite da citada Faixa de Domínio, deflete à esquerda e segue (em direção a Santos), até a altura do encontro da
Rodovia com a margem esquerda do Rio Casqueiro, pelo qual segue até encontrar os trilhos da RFFSA onde deflete à esquerda e percorre os citados trilhos até o ponto inicial."
Vila Pelicas, vista da Avenida Tancredo de Almeida Neves
Imagem: Google Street View, em março de 2011 (acesso: 12/12/2013)
Pelo decreto municipal 7.538, assinado em 28 de novembro de 1996 pelo prefeito José Osvaldo Passarelli, regulamentando a lei 1.970 de 17 de setembro de 1991, foi fixado como Dia do Bairro, para Vila
Pelicas, o dia 8 de junho.
Vila Pelicas, com a ferrovia acima, a Via Anchieta abaixo e o Rio Casqueiro no alto à direita
Imagem: vista por satélite do Google Maps, em 2013 (acesso: 12/12/2013) |
Matéria publicada no blogue História e Notícias, por Rodrigo Fernandes, em 20
de abril de 2010 (acesso: 3/1/2015):
Imagem: captura de tela, parte da página do blogue com a matéria
Um bairro pequeno, mas grandioso na história de Cubatão
20/04/2010 por Rodrigo Fernandes
Um bairro pequeno, porém com muita história para contar e relembrar. Esta é a Vila Pelicas. Povoado desde a década de 30, no século passado,
este pequeno bairro começou em 1843, onde uma senhora com cinco filhos tinha uma casa de madeira peroba e por causa da Guerra do Paraguai seus filhos tiveram que abandoná-la. José Patinho, que veio de Portugal, da cidade de Aveiro, em 1903, e levou
aproximadamente 400 dias para chegar em terras brasileiras com esposa e filhos, estavam acostumados à pesca do bacalhau e chegando por aqui não demoraram a exercer a profissão e a se especializar na pesca principalmente de camarões.
Ao chegar na então Vila de Cubatão (na época Cubatão era um distrito de Santos), Patinho procurou um terreno para construir seu lar e escolheu o local atualmente localizado à Via Anchieta e à Avenida Dr. Tancredo de Almeida Neves, à margem do Rio
Casqueiro, ocupando uma área de 1,2 hectares, mas foi em 1918 que nasceu um dos moradores mais antigos vivos da cidade. O pescador Manoel Pelicas, 91, é o patriarca do bairro. Por causa deste homem de estatura baixa, o nome ‘Vila Pelicas’ foi dado
na década de 80, justamente em homenagem à família que fundou o bairro.
Seu Pelicas lembrou que teve uma infância bem sadia. Nadava, corria e brincava muito. Ele estudava na escola Barnabé, localizada na Avenida São Francisco, no centro de Santos. Segundo o pescador, ele andava aproximadamente oito quilômetros todos os
dias para ir e voltar da escola. "Naquele tempo não existia transporte. Tínhamos que andar para poder estudar".
De acordo com Pelicas, para fazer compras, a família tinha que ir de canoa para as localidades mais longes, e mesmo assim dependendo do lugar ainda tinha que andar de carroça. "Era o caso quando se ia para o Vale do Ribeira. A gente ia de barco até
Peruíbe e depois tinha que pegar uma carroça até chegar em Pedro de Toledo e região. Nossa família buscava água potável no Rio Branco, situado na Área Continental de São Vicente, pois era lá onde havia uma nascente com água cristalina e fresca".
Naquela época tinha muita fartura. Existiam muitos peixes e camarões, porém o preço do pescado era muito baixo. Segundo Pelicas, para conseguir um pouco de dinheiro tinha que vender muito peixe, mas mesmo assim não passava necessidades, pois
naquele momento vivia-se muito de permutas. Foi graças a isso que seus pais criaram quatro filhos. "Minha mãe fazia todos os dias arroz, feijão, carne seca, muita banana assada e claro, peixes".
Com 13 anos ele começou a pescar e se especializou na pesca de camarões, sendo considerado o melhor pescador em uma época que a região tinha aproximadamente três mil pescadores. E só parou de pescar há um ano e meio. "Vivi toda minha vida para a
pesca e me iludi com ela, mas não me arrependo de nada".
De acordo com Pelicas, quando seu avô chegou ofereceram a ele uma área que hoje está o Jardim Casqueiro, mas por causa da geografia do local, ele escolheu a Vila Pelicas, já que não oferecia boas condições para a pesca, porque o local tinha muita
lama. "Se eu fosse ganancioso, o Casqueiro era meu", lembrando que ele poderia ter virado dono de terra, pois na época não existiam casas no bairro.
Revirando o passado, Seu Pelicas ainda lembrou que a família recebeu muitas propostas para vender o local, mas nunca quiseram sair dali, mesmo recebendo muitas propostas boas e rentáveis, que lhe permitia mudar de vida e buscar outras opções para
se sustentar. Hoje a comunidade abriga mais de 20 casas com cerca de 60 moradores, em sua grande maioria habitada pela família Pelicas. Existe também um pequeno estaleiro, além de promoções de passeios educativos e pesca recreativa.
Com casas que chegam há um século de construção, o bairro além de ser totalmente familiar é uma viagem pelo tempo. Ainda se vê moradores deitados em suas redes debaixo de árvores; os mais antigos continuam pescando; e claro, Seu Pelicas continua
contando suas histórias que fogem do ditado popular, onde se diz "que toda história de pescador é mentirosa".
Rodrigo Fernandes |
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