CIDADE DE SANTOS
O JORNAL DOS DESERDADOS
Do Andar de Cima
Dejair dos Santos
Dos grandes amigos que fizemos no Cidade, alguns já cumpriram sua missão e fizeram
a passagem. Deles, com certeza, guardamos boas lembranças e a certeza de que estarão sempre ao nosso lado.
Do Serginho, do Magalhães, do Edu Leite, do Gabriel, do Hildebrando, do Goulart. De todos, enfim, muitas
histórias para contar. Mas como o espaço é curto, tenho uma que merece ser narrada.
Toda aquela alegria contagiante do Serginho morreu exatamente no dia do fechamento do Cidade. Bem mais do que
qualquer um de nós, ele não assimilou o golpe. Companheiro de bar e, por vezes, dividindo a mesma cruz, acompanhei-o até o dia de sua passagem.
Mas a história não termina aqui. Conhecedor de minha crença espírita kardecista, desencarnado, ele me procurou
várias vezes para pedir ajuda. Por uma série de razões, principalmente por ter dois filhos pequenos, não aceitava a nova situação, permanecendo ao lado
da sepultura na qual seu corpo físico jazia.
Durante um bom tempo, sempre aos sábados, dirigia-me ao cemitério do Paquetá e mantinha demoradas conversas com
ele, procurando confortá-lo.
Não sei ao certo quanto tempo depois, numa manhã ensolarada de sábado fiz o trajeto de sempre, mas após hora e
pouco de procura, não consegui achar a sepultura.
Andei por todo o cemitério, até que, num estalo, captei a mensagem do grande amigo.
O fato de não achá-la tinha um significado: ele, enfim, aceitara a nova missão que Deus lhe confiara. Saí dali,
parei no primeiro bar, pedi uma cerveja e dois copos. O cara do balcão não entendeu bem, mas jamais uma birra desceu tão bem.
Valeu amigo! Quando puder mande notícias do andar de cima. |