Capa do livro (Imagem: divulgação)
A história do abolicionista Antônio Bento, bisavô de Luiz Antônio Muniz de Souza e Castro, que rendeu um livro de 450 páginas, curiosamente começou a ser escrita a partir de uma modesta biografia publicada em Novo Milênio, como revelou o autor paulistano em uma mensagem de 4 de junho de 2020, quando anunciou o término da impressão da primeira tiragem da obra, escrita em parceria com Débora Fiuza de Figueiredo Orsi.
Publicada neste site em 9 de setembro de 2009, a monografia por ele enviada onze anos antes do lançamento do livro apresentava diversos aspectos novos que lançavam luz sobre a vida deste importnte mas ainda pouco estudado personagem histórico brasileiro, contando também detalhes sobre a fundação - em 13 de maio de 2006 - da Loja Maçônica Antonio Bento, na capital paulista.
"Na história do Abolicionismo, Antônio Bento é a página mais interessante de entrelinhas anedóticas. Representa o Fantasma. Foi uma lenda cujo personagem principal era um caifaz", afirmou em 1898 o escritor Raul Pompéia (1863-1895), que se notabilizou principalmente pela obra O Ateneu.
Vale recordar que os caifazes eram pessoas que ajudavam negros escravos na fuga das senzalas. Seu nome vem do personagem bíblico Caifaz, que pagou a Judas pela traição: em seu movimento para a libertação dos escravos, eles também cometiam um ato de traição, mas contra os interesses dos escravocratas paulistas. Antônio Bento formou em 1882 o grupo dos caifazes, ao falecer o advogado negro e abolicionista Luiz Gama.
Além de atuar como jornalista - foi redator do jornal A Redempção -, Antônio Bento havia sido delegado promotor e juiz, ganhando poderosos adversários ao ajudar os escravos em meio ao exercício de suas funções. Diante das dificuldades - perdeu o cargo de juiz em 1877, por influência das elites insatisfeitas -, resolveu continuar a luta por outros meios que não os jurídicos, organizando assim o movimento dos caifazes.
Publicada pela editora paulistana Reality Books, "A Redenção de Antônio Bento" reúne documentos inéditos, relatos e imagens conservadas por sua família, publicações contemporâneas em jornais e revistas e um intenso trabalho de pesquisa. Foi esse cuidadoso e bem documentado trabalho que permitiu unificar aquele vasto material em um relato minucioso e fidedigno sobre o quase lendário personagem histórico. E o uso do adjetivo 'lendário' não é exagerado ou casual: um dos relatos deste livro, em primeira pessoa, é a história de uma exposição paulistana em 2005 sobre o movimento dos caifazes, em que ele se surpreendeu ao descobrir que a imagem do principal deles era um desenho baseado em descrições falsas...
Seu bisneto o considera como o Oskar Schindler brasileiro - pois (a exemplo do herói que na Segunda Guerra Mundial salvou milhares de vidas que estariam condenadas à tortura e morte nos campos de concentração nazistas) o "Fantasma da Abolição" também conseguiu libertar milhares de africanos e afrodescendentes das fazendas de café do interior paulista.
Muitos de seus descendentes na atualidade podem não saber, mas certamente devem a Antônio Bento e aos seus comandados as suas próprias existências.
No depoimento a Novo Milênio, o autor conta ter destinado parte da primeira edição a uma escola que leva o nome de Antônio Bento, e outros exemplares hoje compõem os acervos da Academia Brasileira de Letras (ABL), da Câmara Federal, de bibliotecas, de faculdades e outras entidades.
O autor, em foto incluída no livro (Imagem: divulgação)