BAIXADA SANTISTA - BIBLIOECA NM -
Lendas e Tradições
Lendas e Tradições de Uma Velha Cidade...
Em maio de 1940, era publicada esta obra do historiador santista Francisco Martins dos Santos, reunindo uma série de histórias que ele havia
publicado em jornais. Com 254 páginas e tiragem de 2.000 exemplares, Lendas e Tradições de Uma Velha Cidade do Brasil foi impresso na Empresa Gráfica da Revista dos Tribunais, na capital paulista, incluindo ilustrações de Wast Rodrigues e
prefácio de Baptista Pereira.
O exemplar pertencente ao professor e pesquisador Domingos Pardal Braz, de São Vicente/SP, foi cedido a Novo Milênio para digitalização em 2015. Assim, Novo Milênio apresenta nestas
páginas a primeira edição digital integral da obra (ortografia atualizada nesta transcrição):
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Lendas e Tradições
de Uma Velha Cidade do Brasil
Francisco Martins dos Santos |
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Carta Prefácio
Meu caro Martins dos Santos
Acabo de ler as Lendas e Tradições de Uma velha Cidade do Brasil.
E venho dar-lhe meus parabéns pela magistral execução do seu propósito: fixar no livro o conjunto de lendas e tradições que enobrecem Santos, a cidade dos seus maiores e a sua, meu caro amigo, que tanto por ela tem feito.
Sim. Porque a sua História de Santos é um trabalho notável, o melhor que até hoje se fez sobre a grande cidade: Foi por ela que o conheci. Tudo que na história santista era obscuro e confuso ali aparece claro e destrinchado. Desde o nome
do lagamar, erradamente escrito Enguaguassú para legitimar uma etimologia fantástica, e que o meu amigo restitui à fórmula primitiva - Iguáguassú - ou seio grande das águas, até ao mais velho caminho do mar, que o meu amigo acertadamente coloca
na Piassaguera - tudo no seu livro revela um conhecimento exato e seguro do assunto e um senso crítico agudo e judicioso.
Depois da leitura do seu magistral trabalho tive a fortuna de conhecê-lo. E o trato pessoal confirmou-me na certeza de que o meu amigo é um dos melhores e
mais promissores estudiosos da nossa história.
O seu livro de agora reflete não só todas as grandes qualidades reveladas pela História de Santos como algo mais: um senso artístico e um senso de seleção de raro quilate.
Toda a vida de Santos palpita nessas lindas páginas com seus dias de luta e sofrimento, de esplendor e de glória. Desde os tempos remotos da sua fundação até hoje, tudo ou quase tudo que interessa o passado santista aí está codificado e com um
rigor histórico absoluto em toda a conjuntura em que ele é necessário.
Se o meu prezado amigo já o era, desta vez se torna duplamente benemérito de Santos: a sua História e as suas Lendas e Tradições são dois livros admiráveis. Ditosa, meu caro Francisco Martins, a terra que tal filho teve.
Baptista Pereira
Rio - 14 - Abril - 1940.
À guisa de preâmbulo
Santos, eis a velha cidade do Brasil a que se refere o título deste
livro. Santos, quatro vezes centenária, berço positivo da civilização brasileira, notável por muitos títulos: na precedência agrícola colonial, na resistência aos ataques e invasões dos primeiros tempos, na nobreza dos sentimentos de seu povo, no
apoio ao desbravamento e ao bandeirismo, na assistência cívica e militar à antiga colônia, na lealdade aos bons governos e na reação contra os maus, nas campanhas da Independência, da Abolição e da República, na organização social e na formação
espiritual do país: Santos, porta de entrada e saída de São Paulo, primeiro porto da Nação; Santos, terra de tão bonita história e de tão respeitáveis foros, escondia até hoje no escrínio do passado suas tradições e suas lendas, umas agitadas e
rudes, outras ingênuas e poéticas, mas todas dignas da luz e agradáveis à nossa evocação.
É, pois,um pouco dessas lendas e dessas tradições o que contém esta obra; são algumas páginas colhidas nos arquivos e na lembrança da velha geração, na alma rude do trabalhador, do caiçara ou do mateiro, que aqui vivem e palpitam, evocando velhos
vultos, fatos e estabelecimentos da terra predestinada de Pascoal Fernandes, dos Adornos e de Braz Cubas.
Não são páginas regionalistas, são páginas brasileiras, profundamente brasileiras em sua origem e em seu sentido histórico ou social, e por isso, arrancando-as ao esquecimento em que jaziam, ofereço-as agora ao Brasil.
O Autor.
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