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254/tomo I da obra
1600-1700
[...]
CLI
– D. Diogo Luiz de Oliveira, conde de Miranda, irmão do morgado de Oliveira, Martinho Affonso de Oliveira, morreu de um tiro de artilharia, em
combate contra os holandeses na Bahia. Governou o Brasil até o ano de 1635, tomando o empenho de guarnecer a cidade com várias fortificações,
concluindo as que os holandeses tinham começado, e delineou outras em proveito da segurança da cidade.
Ignacio Accioli afirma que d. Diogo Luiz de
Oliveira estabeleceu na Bahia uma fundição de peças de artilharia, e criou a guarda dos governadores, composta de um capitão e vinte soldados
pagos pela fazenda pública em virtude do alvará de 14 de dezembro de 1828.
Em 2 de março de 1627, o holandês Adrião
Patrid, com treze navios, apesar do vivo fogo das fortalezas, atravessou pela Bahia e chegou a Itapagipe, com o pensamento de se apoderar de
dezesseis navios que se achavam carregados com três mil caixas de açúcar. Patrid teve combate com a cidade, e sendo incendiado o paiol de um dos
seus navios, a explosão lhe matou mais de trezentos homens. Patrid conservou-se nas águas da Bahia trinta e tantos dias, e no 1º de abril saiu mar
em fora conduzindo os navios aprisionados, e deixando a bordo de um navio de Angola quarenta e cinco prisioneiros, que havia capturado dentro da
mesma Bahia.
CLII
– Adrião Patrid, que andava cruzando nas costas do mar do Sul, volta no dia 10 de junho do mesmo ano de 1625 à Bahia com onze navios, e penetrando
no interior da mesma aprisionou sete, e no combate que lhe deu o capitão Francisco Padilha no sítio da Pitanga, foi este morto pelos holandeses.
Vitorioso Adrião Patrid, saiu barra afora no dia 14 de junho, e com poucos dias de viagem aprisionou os navios que iam do México para Cadiz
carregados de ouro e prata ao comando de João de Benevides, no valor de mais de quinze milhões de libras.
Esta riquíssima pilhagem animou o
prosseguimento da conquista, vindo sobre Pernambuco do dia 10 de fevereiro de 1630.
CLIII
– O governo dos capitães-mores, que durou de 1626 até dezembro de 1652 subordinado ao governo geral, teve por seu primeiro governador geral do
estado do Maranhão e Grão-Pará a Francisco Coelho de Carvalho.
CLIV
– Cômputo eclesiástico. Áureo número 12; ciclo solar 11; epacta 2; letra dominical D.
CLV
– Martirológio. 1º de janeiro quinta-feira; Páscoa 12 de abril; indicação romana 9; período Juliano 6.339.
CLVI
– No dia 6 de outubro de 1626, o capitão-mor Manoel de Souza d'Eça, cavaleiro do hábito de S. Thiago, apresenta a sua patente régia, e recebe de
seu predecessor, Bento Maciel Parente, a posse do cargo.
O governador geral do estado do Maranhão e
Grão-Pará assistia seis meses em uma e seis meses em outra cidade, governando em sua ausência um capitão-mor com subordinação.
CLVII
– D. Diogo Luiz de Oliveira, conde de Miranda, e filho de d. Joanna de Miranda de Oliveira, tomou conta do governo da Bahia em 1626 e nele se
demorou até o ano de 1635.
Neste governo, os holandeses, capitaneados
por Patrid, em 2 de março de 1627, voltaram à Bahia, mas foram repelidos. Foi nesta administração que se construiu o forte de S. Thiago.
CLVIII
– Em 1626 Francisco Coelho de Carvalho toma posse do governo do Maranhão; e Manoel de Souza de Eça, com patente régia, foi substituir a Bento
Maciel Parente no governo do Pará.
CLIX
– Os paulistas, capitaneados pelo cruel Antonio Raposo, entrando por diferentes lugares das espessas matas da capitania de S. Paulo, chegaram até
a antiga vila de Guaíra, fundada pelos espanhóis sob a denominação de Ciudad Real, na margem esquerda do rio Paraná, e depois de matarem
para mais de oitenta mil índios e de terem aprisionado uma grande porção, destruíram completamente a povoação em 1631.
CLX
– No dia 1º (terça-feira) de junho de 1627, Duarte de Albuquerque Coelho, terceiro donatário de Pernambuco, eleva a povoação estabelecida no Rio
Formoso à categoria de Villa Formosa (depois Serinhaem), sendo o juiz que a inaugurou o ouvidor de Pernambuco, Diogo Bernardes Pimenta.
CLXI
– Cômputo eclesiástico. Áureo número 13; ciclo solar 12; epacta 13; letra dominical C.
CLXII
– Martirológio. Páscoa 4 de abril; 1º de janeiro sexta-feira; indicação romana 10; período Juliano 6.340.
CLXIII
– A povoação de Serinhaem foi criada em 1627, com a denominação de Villa Formosa, em um alto, sobre a margem do Rio Serinhaem, a duas léguas da
embocadura do mesmo rio. Tem um convento de franciscanos e mais duas ermidas, e a sua matriz é dedicada a N. S. da Conceição.
CLIV
– D. Diogo Luiz de Oliveira, conde de Miranda, que havia militado em Flandres, irmão do morgado de Oliveira, Martim Affonso de Oliveira, que
morreu heroicamente de um tiro de artilharia na Bahia, tomou posse do governo geral em 1627, e governou o estado do Brasil até 1635. O seu maior
empenho, logo que tomou conta da administração geral, foi guarnecer a cidade do Salvador com diversas fortificações, concluindo as que os
holandeses tinham principiado. Estabeleceu uma fundição de artilharia, e criou a guarda dos governadores, composta de vinte homens, comandada por
capitão, cuja criação foi confirmada pelo alvará de 14 de dezembro de 1628.
Os jesuítas da Bahia fizeram à sua custa,
dentro do mar, na ribeira, uma trincheira de cantaria grossa, de mais de cem palmos, em cuja obra despenderam sete mil e quinhentos cruzados, para
a defesa da cidade, e outros importantes serviços de restauração. Em 2 de março de 1627, Adrião Patrid, acometendo a barra da Bahia com treze
navios, apesar da grande resistência, penetrou até a enseada de Itapagipe com o fim de se apoderar de dezesseis navios carregados de açúcares e
outros gêneros, o que conseguiu.
Em 13 de julho de 1631, chegou à Bahia a
esquadra do almirante Oquendo, trazendo nela o conde de Bagnuolo. O conde de Miranda governou nove anos deixando montada a fundição de artilharia.
(Vide Memorias Hist. Da Bahia por Ignacio Accioli).
CLXV
– Depois de povoada a capitania de Pedro de Góes da Silveira em 19 de agosto de 1627, Martim de Sá, pai do general Salvador Corrêa de Sá e
Benevides, como procurador de João Gomes Leitão e Gil de Góes da Silveira, donatários da capitania de S. Thomé, tinha dado por sesmaria a terra
existente além do cabo de S. Thomé, entre os rios Macaé e Iguaçu, a Gonçalo Corrêa, Miguel Ayres Maldonado, Antonio Pinto, João de Castilho e
Miguel Riscado, moradores no Rio de Janeiro, os quais todos juntos pediram nessa data para nela criarem gados. Estes indivíduos, e o sobredito
Martim de Sá, foram os primeiros povoadores daquelas deliciosas e férteis campinas, onde mandaram fazer currais e introduziram gados, assim vacum
como cavalar.
Não me foi possível descobrir, nos numerosos
documentos originais e cópias, e mesmo memórias que possuo, se a povoação de casas começou logo depois de passada a sesmaria ou nos anos seguintes
à matança dos goitacazes. É um fato que ninguém o poderá precisar. Em 1674 deu-se ao visconde de Asseca vinte léguas de terras pela costa,
declarando-se na carta de doação que a capitania de S. Thomé pertencia à coroa.
Pedro de Góes, quando veio povoar a sua
capitania de S. Thomé ou dos Goytacazes em 1553, como fosse muito perseguido dos índios, se retirou para a capitania do Espírito Santo em navios
que lhe mandou Vasco Fernandes Coutinho, ficando a capitania de S. Thomé à mercê dos índios goytacaz-guassú, goytacaz-jacaritó e goytacaz-mopi,
até o ano de 1630, em que foram ali mortos pelos índios cristãos das aldeias de Cabo Frio e Reritiba do Espírito Santo, por ocasião de haverem
devorado os portugueses, vindos do Porto, que naufragaram na costa de Campos.
CLXVI
– Serinhaem, aldeia dos índios caetés, situada na margem do mesmo rio e a duas léguas distante da costa, povoada por portugueses e naturais de
Pernambuco, foi elevada a vila em 1627 com o nome de Villa Formosa. Sua matriz é dedicada a N. S. da Conceição.
CLXVII
– Os holandeses, em 1631, edificaram na extremidade Sul da Ilha de Itamaracá, em Pernambuco, uma fortaleza a que chamavam forte de Orange, que
depois se denominou de Santa Cruz, e tinham a ilha em tanto apreço que projetavam fazer dela sede de suas conquistas ao Norte do Brasil.
Esta fortaleza foi tomada duas vezes pelos
pernambucanos aos holandeses.
CLXVIII
– O forte de Nazareth, a oito léguas ao S-SO do Recife, foi construído pelo conde de Bagnuolo, no tempo da guerra holandesa, na entrada da barra.
CLXIX
– Cômputo eclesiástico. Áureo número 14; ciclo solar 13; epacta 24; letra dominical B. A.
CLXX
– Martirológio. Páscoa 23 de abril; 1º de janeiro sábado; indicação romana 11; período Juliano 6.341.
CLXXI
– D. fr. Miguel Pereira, sexto bispo do Brasil, tomou posse do bispado na Bahia, por seu procurador, na terça-feira 19 de junho de 1629; e não
veio para o Brasil porque faleceu em Lisboa em 16 de agosto do ano seguinte de 1630.
Em agosto deste mesmo ano de 1627 chega a
Pernambuco Pedro Corrêa da Gama com a notícia de que a Holanda pretendia invadir de novo o Brasil, e com ordem do governador geral Diogo Luiz de
Oliveira de fortificar Olinda e Recife, indigitados como os pontos de invasão.
CLXXII
– Na sexta-feira, 19 de outubro de 1629, chega a Pernambuco Mathias de Albuquerque, enviado pela Espanha, para se opor à invasão holandesa, e para
o que apresentou a patente régia que o constituía capitão-mor e governador de Pernambuco, independente do governo da Bahia, e tomou posse
substituindo a André Dias da Franca, último capitão-mor que governou Pernambuco. Com Mathias de Albuquerque vieram apenas vinte e sete soldados.
CLXXIII
– Martim Corrêa de Sá tomou posse do governo do Rio de Janeiro em 1629, e em 1630, no seu governo, fundou a aldeia de S. Pedro em Cabo Frio; e
como se tivesse de ausentar da cidade, por motivo de serviço público, ficou na administração Duarte Corrêa Vasqueanes, tio de Salvador Corrêa de
Sá e Benevides. Falecendo Martim Corrêa de Sá, no sábado 10 de agosto de 1632, foi Vasqueanes governando a capitania até que o governador geral do
estado, d. Diogo de Oliveira, o mandou render por Diogo de Miranda Henrique.
CLXXIV
– Cômputo eclesiástico. Áureo número 15; ciclo solar 15; epacta 5; letra dominical A.
CLXXV
– Martirológio. Páscoa 15 de abril; 1º de janeiro segunda-feira; indicação romana 12; período Juliano 6.342.
CLXXVI
– "A todos esses senhores, que uns e outros se
animem, para que venham com muito gosto nesta ocasião ajudar-me, pois é para pelejarmos contra infiéis na defensão de nossa santa fé, e acudirmos
ao que temos de obrigação, como vassallos de El-rei; e os ditos inimigos havendo de vir devem de estar aqui dentro de oito ou dez dias, e assim
esses senhores que vierem, quando do dia da sua chegada a sete ou oito dias, não rebentar o inimigo, se tornarão logo a recolher, e en cá em tudo
os hei de servir, além de lhes agradecer a vinda aos que vierem para também lhes não faltar em o que me occuparem; e lembro a todos que supposto
como capitão-mór da costa do sul, nas materias de guerra, posso obrigar a todos a não faltarem nestas occasiões e mandal-os vir, o não faço eu
senão como amigo de todos, porque como esse quero eu ficar obrigado, e juntamente peço a brevidade.
"Guarde Deus a Vmes. Muitos annos. Rio
de Janeiro, 27 de Outubro de 1629. De Vmcs. Amigo. – Martim de Sá".
"Hontem,
26 deste mez de Outubro, chegou novas por via dos padres da companhia, afóra as que trouxe uma caravela que aqui veiu arribada do Espirito Santo,
como de Hollanda são sahidas cento e cincoenta velas por este Estado, as quaes foram vistas de um navio do Porto, que foi á Bahia, dous graus para
cá da linha, e que vem em tres esquadras, e uma limitadamente para aqui, todas com muita força, e da Bahia me vem aviso e uma peça de artilharia
de bronze mui formosa que todas as horas será aqui, que por barco tomar o Espirito Santo a dar aviso, não está já cá. Sua Magestade tem despachado
caravelas de aviso e com munições de que vem por capitão dellas Diogo d'Avila, e eu fico em armas, preparando-me com toda a gente desta capitania,
porque cada hora os espero, e os padres da companhia affirmam esta nova ser certa uns aos outros pelo que Vmes. Tanto que esta vir, sem metter
nenhum tempo em meio, me façam mercê vir me ajudar e trazer toda a gente dessas villa e indios das aldeias, todos com suas armas e muita
flecharia, que espero em Nosso Senhor que havemos de ter uma grane victoria contra estes inimigos. – Martim de Sá."
CLXXVII
– No ano de 1629 é substituído Manoel de Souza d'Eça, capitão-mor do Pará, por Luiz Aranha de Vasconcellos, com igual patente régia, para governar
o Pará; e a Pernambuco chega em agosto a notícia levada por Pedro Corrêa da Gama, de que a Holanda pretendia de novo invadir o Brasil, não
poupando esforços para conquistá-lo.
CLXXVIII
– Martim Corrêa de Sá, tendo de se ausentar da cidade em 1630 para providenciar na povoação de Cabo Frio, deixou em seu lugar, governando a cidade
do Rio de Janeiro, Duarte Corrêa Vasqueanes, tio de Salvador Corrêa de Sá e Benevides; e como falecesse Martim Corrêa de Sá, em 120 de agosto de
1632, foi ele governando a capitania do Rio de Janeiro até que o governador geral do estado, d. Diogo Luiz de Oliveira, o mandou render por
Miranda Henrique.
CLXXIX
– Em 30 de maio d. José de Alarcão, bispo do Rio de Janeiro, benze o grande sino do convento de Santo Antonio.
CLXXX
– A capela de N. S. da Palma, da Bahia (depois hospício) foi fundada em 1630 pelo médico Ventura da Cruz Arraes, em virtude de um voto que fez seu
irmão, o alferes Bernardo da Cruz Arraes. Neste mesmo ano chegou à Bahia a imagem da Senhora da Palma, que foi colocada no altar de S. José da
catedral; e em 1670 foi transferida em procissão solene para a sua igreja. Conservando os fundadores e seus herdeiros o padroado, cederam no ano
de 1693 a fr. Alipio da Purificação, comissário geral dos Agostinhos descalços que chegaram à Bahia com fr. João das Neves, fr. João de Deus, fr.
Jeronymo da Assumpção e o leigo fr. José dos Anjos, os quais obtendo o aterro contíguo à igreja, deram começo à fundação de um hospício
(N.E.: a palavra tinha, na época, o sentido de casa de abrigo)
para receber os seus missionários.
CLXXXI
– Cômputo eclesiástico. Áureo número 16; ciclo solar 15; epacta 16; letra dominical F.
CLXXXII
– Martirológio. Dia 1º de janeiro terça-feira; domingo de páscoa a 31 de março; indicação romana 13 período Juliano 6.343.
CLXXXIII
– Depois da restauração da Bahia, os holandeses, senhores dos mares, fizeram diversas tentativas de desembarque em vários pontos da costa do
Brasil, sendo uma delas tomarem de assalto a Paraíba, no que foram repelidos pelos índios capitaneados pelos jesuítas.
Mathias de Albuquerque, tendo notícia do que
se havia dado na Paraíba, voltou para Pernambuco com o fim de guarnecê-lo, chegou à cidade de Olinda em 19 de outubro de 1629, e talvez por
fatigado não deu as providências que desejava; mas os holandeses, que não se descuidavam, no dia 15 de fevereiro de 1630, se apresentam em frente
do Recife com uma esquadra de quarenta navios e sete mil e duzentos e oitenta homens de desembarque, comandados pelo coronel Theodoro Vandemburg,
e desembarcando três mil soldados e setecentos marinheiros no porto do Pão Amarello, quatro ou cinco léguas ao Norte do Recife, tomam a cidade de
Olinda no dia seguinte, sábado, 16, sem a menor resistência, porque todos os moradores da cidade, amedrontados, abandonaram suas casas; e Mathias
de Albuquerque, que se achava no Recife, para apagar a cobiça holandesa, mandou incendiar os armazéns que se achavam atopetados de gêneros
avaliados em trinta milhões de cruzados.
Mathias de Albuquerque, em presença do
inimigo, reuniu a força que pôde e foi estabelecer o seu centro de operações a uma légua distante da povoação do Recife.
No dia 1º de março tomam os holandeses o
Recife, apesar da resistência que lhes fez o capitão Antonio de lima, do forte de S. Jorge, João Fernandes Vieira, distinguiu-se na defesa do
forte, com trinta e sete guerreiros, contra quatro mil inimigos, até que capitula no dia 4, honrosamente.
CLXXXIV
– Quando foi tomado o Recife e a cidade de Olinda pelos holandeses, o reitor do colégio de Olinda, padre Leonardo Mercurio, empregou esforços para
socorrer a terra, e em um encontro das nossas armas com as da Holanda foi morto o padre Antonio Belavia, quando confessava um soldado mortalmente
ferido.
Os jesuítas de Pernambuco acompanharam as
tropas que marcharam para a Paraíba, Itamaracá e Rio Grande do Norte, ficando sempre nos quartéis, e acompanhando a nossa tropa no cabo de Santo
Agostinho, nos assaltos de Santo Antonio, em Asseca, nos combates de 4 de agosto de 1633, e 30 de março de 1634; no arraial de Paranamerim, em
março de 1635, no combate de Porto Calvo; e no desbarato dos holandeses em 1647.
CLXXXV
– Na segunda-feira, por volta das nove horas da noite do dia 2 de setembro de 1630, teve princípio um tão horrível terremoto na ilha de S. Miguel,
que os próprios sinos das torres tocavam com muita intensidade, seguindo-se um rumor medonho subterrâneo, durante os abalos a terra, até uma hora
depois da meia noite, rebentando na terra um horrível estampido e chamas de fogo. Na quarta-feira choveu tão copiosamente que em algumas partes a
água subiu de 10 a 12 palmos. Os danos foram incalculáveis. A consternação e o terror duraram alguns dias.
CLXXXVI
– Na segunda-feira, 11 de março de 1630, foi expedido regimento do ouvidor geral das capitanias do Sul do Brasil, com os distritos das minas de S.
Vicente e S. Paulo. Em 16 de setembro de 1642, e em 14 de outubro de 1647, ampliou-se esse regimento, em virtude do aumento da população.
CLXXXVII
– Parte do mosteiro de S. Bento do Rio de Janeiro foi incendiado, conforme me comunicou o reverendo secretario da ordem beneditina fr. Bento da
Trindade Cortez, devorando também as chamas o arquivo do mosteiro. Este acontecimento foi uma sensível perda para a história do Rio de Janeiro.
CLXXXVIII – Mathias
de Albuquerque, reunindo forças, estabeleceu o seu centro de operações a uma légua distante da povoação do Recife, a que dá o nome de arraial do
Bom Jesus, e na terça-feira, 14 de março de 1630, derrotou em Água Fria uma grande força dos invasores que o veio atacar; na segunda-feira, 18 do
mesmo mês, ganha vitória na Ilha de Moraes André, hoje bairro de Santo Antonio do Recife de Pernambuco. No dia 26 (terça-feira), Antonio Felippe
Camarão, com trezentos índios, destroça e faz prisioneiro um corpo de seiscentos holandeses comandados pelo general Loncq, na sua passagem do
Recife para a cidade de Olinda.
CLXXXIX
– No dia 29 de maio de 1630, Jacome Raymundo de Noronha, fidalgo da casa real e provedor-mor da fazenda, em virtude da nomeação do governador do
estado, substitui nesta data a Luiz Aranha de Vasconcellos.
D. José de Alarcão, bispo do Rio de Janeiro,
na quinta-feira 30 de maio de 1630, benze o grande sino do convento de Santo Antonio, e como fosse muito pesado para o campanário da igreja,
fizeram dele presente à ordem de S. Francisco de Paula.
Neste mesmo ano chega a esquadra holandesa
sob o comando de Theodoro Vandemburg, então cabo de guerra, ocupa o Recife e Olinda, e na terça-feira 16 de outubro atacam a estância do Rio Doce,
em Pernambuco, e são repelidos.
CXC
– No dia 28 de novembro deste ano de 1630, Antonio Cavalcante de Albuquerque, provido pelo governador do estado, recebe de Jacome Raymundo de
Noronha o governo do Pará.
CXCI
– Cômputo eclesiástico. Áureo número 7; ciclo solar 18; epacta 27; letra dominical E.
CXCII
– Martirológio. Dia 1º de janeiro quarta-feira; páscoa a 20 de abril; indicação romana 14; período Juliano 6.334.
CXCIII
– No sábado, 4 de janeiro de 1631, são derrotados os holandeses em Pernambuco; e a esquadra flamenga, comandada por Adrião Patrid, e outra
espanhola, comandada por d. Antonio Aquendo, encontrando-se nos mares da Bahia de Todos os Santos, batem-se e na ação morre o almirante holandês
Adrião Patrid.
No dia 4 de janeiro os holandeses são
derrotados em um encontro no lugar dos Cajueiros chamado da Olaria. No dia 22 de abril os holandeses tentam tomar a ilha de Itamaracá, que é
corajosamente defendida pelo capitão Salvador Pinheiro.
No dia 23 de novembro do mesmo ano de 1631 é
incendiada a cidade de Olinda, possuindo ela três mil habitantes, bons edifícios e templos, e se concentram no recife. Quando isto se dava em
Olinda, são os holandeses batidos na Paraíba do Norte por João de Mattos Cardozo, comandante do forte do Cabedelo.
Domingos Fernandes
Calabar, homem pardo, nascido em Porto Calvo (Alagoas), uniu-se aos holandeses, depois de se haver distinguido contra eles na defesa do arraial do
Bom Jesus, e os guia na guerra invasora de Pernambuco. Calabar
[18],
com esse procedimento, não traiu a sua pátria, porque ela estava subjugada ao domínio português, que considerava o filho do Brasil como de
superior a inferior; e vendo que a posse do Brasil era disputada por diversas nações da Europa, julgava ser mais vantajoso passar ele ao domínio
de um povo livre, como então era o povo holandês, que viver sujeito a Espanha, ou a Portugal, onde além dos mais vexames predominava o medonho e
cruel tribunal da Inquisição.
CXCIV
– O forte do Brum, no Recife de Pernambuco, foi principiado e quase todo feito pelos holandeses, em 6 de junho de 1631, recebendo ele o nome da
mulher do general Theodoro Wandemburg; e conta o padre Ayres do Casal que, por muito tempo, era o forte do Brum conhecido pela denominação de
forte Perreril. Em 1806, encontrou-se entre a cantaria destinada à construção da igreja do Corpo Santo, junto à porta da igreja, uma cantaria
europeia com uma legenda em linguagem holandesa, que dizia: edifício debaixo do alto governo do presidente do conselho – ano de 1652.
CXCV
– O conde de Bagnuolo, italiano, general do exército espanhol, com setecentos homens, na quarta-feira, 5 de novembro de 1631, desembarca na Barra
Grande e vai ao arraial do Bom Jesus (Pernambuco) encontrar-se com Mathias de Albuquerque, e conferenciar com ele a respeito da guerra contra os
holandeses.
No domingo, 23 deste mesmo mês, incendiaram a
cidade de Olinda, e se concentraram no Recife, como ponto seguro de estratégia militar.
CXCVI
– Cômputo eclesiástico. Áureo número 18; ciclo solar 17; epacta 8; letra dominical D.C.
CXCVII
– Martirológio. Páscoa 11 de abril; 1º de janeiro quinta-feira; indicação romana 15; período Juliano 6.345.
CXCVIII
– Mathias de Albuquerque, no dia 24 de março de 1632, entra em combate com os holandeses, e na peleja mata o coronel holandês Lourenço Reimback.
No dia 1º de maio deste mesmo ano, os
holandeses, guiados por Calabar, saqueiam e queimam a povoação de Iguarassú, e com o incêndio desaparecem os vestígios da primitiva fundação, que
se supõe ter sido a primeira povoação fundada por Duarte Coelho Pereira, conforme diz o cronista Jaboatão no L. 1º pág. 406 e n. 301.
Neste mesmo ano os holandeses tentam
apoderar-se da Paraíba e do Rio Grande do Norte; e Domingos Fernandes Calabar lhes proporciona a vitória. A ilha de Itamaracá fica em poder dos
holandeses.
CXCIX
– Na quarta-feira, 8 de setembro de 1632, sua majestade fez expedir a carta régia ordenando o pronto pagamento das côngruas dos ministros
eclesiásticos, a reparar os ornamentos das igrejas que os bispos julgassem necessários, visto receber el-rei os dízimos dos frutos das terras.
CC
– No dia 7 de fevereiro de 1633, o major Schkoppe, guiado por Calabar, ataca o forte do Rio Formoso e o tomam depois da mais heroica resistência
do seu comandante, o capitão Pedro de Albuquerque e de sua insignificante guarnição de vinte homens. Pedro de Albuquerque é morto, e da guarnição
somente Jeronymo de Albuquerque, parente do capitão, escapou a nado com três feridos.
[...]
[18] Do
livro velho da Sé de Olinda consta que Domingos Fernandes Calabar, célebre na história pátria, fora batizado em 15 de março de 1610, na ermida do
Engenho Velho, situada no lugar do Forno da Cal, em Olinda, o qual engenho havia sido propriedade de Jeronymo de Albuquerque, cunhado do primeiro
donatário de Pernambuco.
Foram padrinhos do batizado Pedro Affonso
Duro, natural da cidade de Évora, província de Alentejo, em Portugal, e sua filha d. Ignez Barbosa.
Este Pedro Affonso Duro foi casado com d.
Magdalena Gonçalves, natural de Olinda, onde viveram abastados em bens de fortuna, e tiveram vários filhos.
Todos os historiadores concordam em que
Calabar nascera em Porto Calvo, e se assim foi, bem se vê que os pais de Calabar, por algum motivo, de lá vieram para batizá-lo em Olinda.