A hora e a vez do Papai Noel virtual
Mário Persona (*)
Colaborador
Nunca
me esqueço de um Papai Noel que vi quando criança. Ele fora
contratado por uma loja de minha cidade para distribuir balas para a garotada
na calçada. Pelo trançar das botas quando caminhava, é
provável que o bom velhinho tenha exagerado no combustível
que naquele tempo ainda não fazia falhar os trenós nacionais.
Com sua coragem de origem etílica, ao invés de dar bala para
as crianças, o Papai Noel começou a dar bola para as mamães.
Sua ousadia acabou quando topou com um marido menos gordo e mais forte
do que ele, que deixou o nariz, bigode e barba do Papai Noel combinando
com a cor de sua roupa de cetim.
Aquele Papai Noel cometeu uma série
de erros que podem nocautear muitos empreendimentos de comércio
eletrônico neste Natal. Estamos vivendo o momento do "vai ou racha"
do comércio online. Empresas de todos os tamanhos entraram na corrida
apostando todas as fichas neste Natal, gastando o que têm e o que
não têm em um marketing milionário, on-line e off-line,
para conseguir neutralizar o veneno do escorpião que eu e cada cliente
em potencial carregamos no bolso.
Valores - Este Natal (N.E.:
1999) pode ser a única oportunidade para muitas empresas, que tentarão
capturar novos clientes, amarrá-los com cordas de atenção
e transformá-los em clientes fiéis para a estiagem comercial
que geralmente vem após as festas de fim de ano. Ninguém
vai querer deixar de morder uma fatia do bolo de vendas estimado para este
final de ano. A estimativa começa em torno de 4 bilhões de
dólares, segundo previsão do Forrester, passa por números
de fontes diversas, até chegar aos 12 ou 15 bilhões previstos
por Ernst & Young. A diversidade de opiniões deve-se às
diferentes definições de venda no varejo, que em alguns casos
inclui até passagens aéreas, e à falta de um acordo
quanto ao período considerado como temporada de compras de Natal.
Um erro grave cometido pelo Papai
Noel foi querer competir, na mesma calçada, com alguém mais
forte que ele. No vale-tudo que antecede o final de ano, pequenas empresas
estão arriscando o próprio nariz para competir em visibilidade
com grandes corporações do comércio convencional.
Estão gastando fortunas na mídia convencional, onde são
as grandes marcas que imperam. Enquanto o comércio eletrônico
for uma novidade, pode ser que empresas pequenas consigam chamar atenção
na mídia convencional. Mas nos Estados Unidos, onde tudo começou
mais cedo, a propaganda dos pequenos na mídia convencional virou
uma gota no oceano da propaganda de grandes corporações que
anunciam off-line seus empreendimentos on-line.
Criatividade - Se os pequenos
não podem competir com os grandes, podem usar de criatividade para
se fazerem notar. Se todas as lojas da rua estiverem exibindo um Papai
Noel na porta, talvez seja melhor exibir o trenó ou as renas. Antes
de decidir pela estratégia de marketing a ser adotada, a pergunta
do pequeno comerciante eletrônico não deve ser, "o que os
grandes estão fazendo?", e sim, "o que os grandes NÃO estão
fazendo?". Os grandes estão investindo pesado na mídia convencional?
Use a própria Internet como sua mídia de propaganda. Há
150 milhões de pessoas on-line que podem ser alcançadas bem
no barco em que viajam, que é a própria rede.
Outro erro do Papai Noel foi tentar
conquistar clientes com uma fantasia. Você, leitora, se apaixonaria
por um gordo de barbas brancas, vestido com uma roupa de cetim vermelho,
com as pernas bambas dos tragos que tomou, e carregando nas costas um saco
vazio? Mesmo que fosse o verdadeiro Papai Noel, o máximo de segurança
que lhe ofereceria seria uma casa própria em algum ponto da região
mais gelada do planeta, e o resto da vida cozinhando para um batalhão
de duendes fabricando brinquedos.
Estrutura - Do mesmo modo,
muitas empresas de comércio eletrônico irão dar com
os burros n'água - ou com as renas na neve - por não conseguirem
transmitir segurança aos seus clientes. Por mais on-line que uma
empresa esteja, ela precisa ter uma infra-estrutura off-line consistente
o suficiente para não ser vista apenas como uma fábula.
A lição que ficará
desta temporada será a da importância da integração
entre o mundo virtual e o convencional. Muitas pessoas estarão fazendo
suas pesquisas on-line, para depois comprarem em uma loja convencional.
Outros irão ver e tocar o produto na loja, para depois encomendarem
na Web.
Depósitos estratégicos,
técnicas de embalagem, sistemas de envio de encomendas, equipes
de atendimento ao cliente, estratégia de pós-venda e política
de devolução de produtos serão alguns dos fatores
determinantes na nova economia, cuja tendência é integrar
o virtual com o convencional. A empresa que conseguir reunir tudo isso
no mesmo saco poderá gozar da mesma longevidade do velhinho. E pode
se tornar a preferida daqueles que estão dispostos a esvaziar seus
bolsos para encher as meias.
(*) Mário
Persona é diretor de comunicação da Widesoft,
que desenvolve sistemas para facilitar a gestão da cadeia de suprimentos
via Internet. |